Turquia Prende 282 Pessoas em Meio à Tentativa de Reconciliação com o PKK

Pessoas turcas se reúnem para protestar contra os esforços do governo para encerrar o conflito de 40 anos com o PKK, em Istambul, Turquia, 16 de fevereiro de 2025 [Umit Bektas/Reuters] (Reuters). Fonte: Al Jazeera
Pessoas se manifestam em Istambul contra os esforços do governo turco para pôr fim ao conflito com o PKK, em 16 de fevereiro de 2025. Foto: Umit Bektas/Reuters. fonte: Al Jazeera

A recente onda de prisões na Turquia, com 282 pessoas detidas sob acusação de envolvimento com “terrorismo”, ocorre em um contexto delicado e contraditório: a tentativa do governo turco de retomar as negociações de paz com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo militante considerado terrorista pela Turquia e seus aliados ocidentais. A operação de repressão, que teve início há cinco dias, abrangeu 51 cidades, incluindo Istambul, Ancara e a cidade majoritariamente curda de Diyarbakir, no sudeste da Turquia.

Prisão de Jornalistas, Políticos e Acadêmicos

Entre os detidos estão jornalistas, políticos da oposição e acadêmicos. A lista de detidos inclui membros do principal partido curdo pró-Kurdistão, o DEM, várias figuras de esquerda e jornalistas que, segundo as autoridades, têm laços com o PKK. A acusação principal é o envolvimento com atividades terroristas, um termo amplamente utilizado pelo governo para se referir a qualquer forma de apoio ao PKK ou àqueles que questionam a postura oficial turca em relação ao grupo.

O Ministro do Interior turco, Ali Yerlikaya, declarou que a operação faz parte de uma série de medidas de segurança em andamento, com o objetivo de combater o terrorismo e outras ameaças à segurança nacional. No entanto, a forma como as prisões ocorreram gerou críticas. A União dos Jornalistas da Turquia condenou as prisões, afirmando que a abordagem utilizada pelas autoridades turcas foi desproporcional. Eles destacaram que, ao invés de convocar os indivíduos para serem interrogados nas delegacias, muitos foram presos em suas casas durante as batidas policiais.

O Processo de Paz com o PKK

Enquanto as operações de segurança se intensificam, o governo turco busca ressuscitar as negociações de paz com o PKK, que estão congeladas há mais de uma década. Em outubro de 2024, o Partido Nacionalista (MHP), aliado do presidente Recep Tayyip Erdoğan, entrou em contato com Abdullah Öcalan, fundador e líder do PKK, que está preso em regime de isolamento na ilha de Imrali desde 1999. A partir desse gesto, há uma expectativa crescente de que Öcalan faça um apelo para que os militantes do PKK depõem as armas.

Este movimento é visto por muitos como uma tentativa de colocar fim a um conflito que já dura várias décadas e resultou na morte de dezenas de milhares de pessoas. O partido pró-curdo DEM, por exemplo, tem procurado estabelecer canais de diálogo com o PKK, e uma delegação do partido recentemente viajou até a prisão de Öcalan e também visitou o Iraque, onde o PKK mantém bases militares.

Renovadas Esperanças de Paz

A liderança do PKK e os políticos curdos esperam que, nas próximas semanas, Öcalan faça um apelo público aos seus seguidores para que abandonem a luta armada. As expectativas são de que esse chamado aconteça antes do festival de Newroz, o Ano Novo Curdo, que ocorre em março. Essa possível decisão tem o poder de alterar a dinâmica do conflito, colocando um fim, pelo menos parcialmente, em décadas de tensão e violência.

O presidente Erdoğan e seu aliado, o líder do MHP, Devlet Bahçeli, apoiam a ideia de uma solução pacífica e, em outubro, Bahçeli pediu a Öcalan que renunciasse à violência, abrindo a possibilidade de sua liberação antecipada. Essa postura renovada das autoridades turcas tem acendido esperanças entre a população curda de que o fim da violência está próximo.

Conclusão

O atual cenário na Turquia é um jogo político complexo. Enquanto o governo turco tenta recuperar a paz com os curdos, a repressão contra aqueles que são vistos como aliados ou simpatizantes do PKK continua a ser uma parte central de sua política de segurança. A prisão de 282 indivíduos, incluindo membros da oposição e jornalistas, coloca à prova a sinceridade das intenções do governo em relação a um acordo de paz. Ao mesmo tempo, as conversas com Abdullah Öcalan e as mudanças em sua postura podem representar um ponto de virada importante para a Turquia, que busca encerrar um dos conflitos mais longos e sangrentos de sua história moderna.



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