
O presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, expressou recentemente sua esperança de avançar em um pacto de desescalada com Israel, visando reduzir as tensões na região. No entanto, ele alertou para os riscos de fragmentação territorial e instabilidade regional decorrentes de ações israelenses.
Contexto histórico e atual
A relação entre Síria e Israel é marcada por décadas de conflito, com a ocupação israelense das Colinas de Golã desde 1967 e confrontos militares esporádicos desde então. A situação se intensificou após a queda do regime de Bashar al-Assad em dezembro de 2024, quando forças rebeldes lideradas por Ahmed al-Sharaa assumiram o poder em Damasco. Desde então, Israel realizou mais de 1.000 ataques aéreos e mais de 400 incursões terrestres na Síria, alegando preocupações com a segurança devido à liderança islâmica do novo governo sírio.
Declarações de Ahmed al-Sharaa
Em declarações recentes, Ahmed al-Sharaa afirmou que as negociações com Israel poderiam resultar em um acordo de segurança “nos próximos dias”, enfatizando a necessidade de proteger o espaço aéreo e a integridade territorial da Síria, com supervisão da ONU. Ele também condenou os ataques israelenses perto do palácio presidencial como uma “declaração de guerra”, embora a Síria tenha evitado represálias para preservar as negociações.
Posição israelense
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, reconheceu algum progresso nas negociações, mas afirmou que um acordo final ainda está distante. Ele vinculou a possibilidade de paz com a Síria a negociações em andamento com o Líbano e destacou as recentes vitórias militares contra o Hezbollah na frente norte como fatores influentes. Netanyahu também rejeitou a ideia de retirada das forças israelenses da zona tampão na Síria, chamando-a de “piada”.
Desafios para um acordo de desescalada
Apesar das negociações, vários obstáculos permanecem:
- Fragmentação territorial: A Síria está dividida em zonas de influência controladas por diversos atores, dificultando a implementação de um acordo centralizado.
- Interferência externa: A presença de aliados regionais e globais, como Irã, Rússia e Estados Unidos, implica que qualquer pacto bilateral deve considerar interesses internacionais, complicando sua implementação.
- Pressões internas: A população síria, ainda marcada por anos de conflito, espera estabilidade e recuperação econômica, tornando sensível qualquer negociação percebida como concessão ao inimigo histórico.
- Segurança de Israel: Para Tel Aviv, garantir que a Síria não se torne um ponto de apoio para grupos hostis continua sendo uma prioridade, impondo restrições à natureza e ao alcance de qualquer acordo.
Perspectivas regionais
Especialistas apontam que uma aproximação entre Síria e Israel poderia ter efeitos positivos na estabilidade do Levante. Um pacto de desescalada poderia reduzir ataques transfronteiriços, facilitar a supervisão de observadores internacionais e abrir espaço para negociações sobre trocas de prisioneiros e delimitação de fronteiras. No entanto, o equilíbrio é delicado. Al-Sharaa alertou que qualquer tentativa de dividir a Síria — seja através de pressões externas ou de fragmentação territorial fomentada por Israel — poderia desencadear novas tensões, afetando não apenas a Síria, mas toda a dinâmica de segurança regional, incluindo Líbano, Jordânia e partes do Iraque.
Conclusão
O avanço de negociações entre Síria e Israel representa um movimento estratégico importante para reduzir tensões em uma das regiões mais instáveis do Oriente Médio. Embora o presidente sírio Ahmed al-Sharaa demonstre abertura para um pacto de desescalada, os desafios são múltiplos: a fragmentação territorial interna da Síria, a presença de aliados internacionais com interesses divergentes e a necessidade de garantir a segurança de Israel.
O sucesso de um eventual acordo dependerá da habilidade de ambos os lados em equilibrar soberania, segurança e interesses estratégicos, enquanto buscam reconstruir a confiança mútua. Para a região, um pacto efetivo poderia significar menos confrontos diretos, maior estabilidade no Levante e a possibilidade de diálogo ampliado entre os países vizinhos. Contudo, qualquer tentativa de pressionar a Síria ou de influenciar sua unidade interna pode rapidamente reverter os ganhos e reacender tensões, reforçando a complexidade da situação e a importância de uma abordagem cautelosa e diplomática.
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