Irã e Rússia firmam acordo nuclear de US$ 25 bilhões em meio a tensões globais

Vladimir Putin e Ebrahim Raisi sentados à mesa durante reunião diplomática no Kremlin, 19 de janeiro de 2022
O presidente russo Vladimir Putin e o presidente iraniano Ebrahim Raisi durante reunião no Kremlin em Moscou, 19 de janeiro de 2022.

O Irã anunciou a assinatura de um acordo de US$ 25 bilhões com a estatal russa Rosatom para a construção de quatro novos reatores nucleares em seu território. O pacto, celebrado como um marco estratégico pelos governos de Teerã e Moscou, representa um avanço significativo na cooperação bilateral, mas também desperta preocupações no Ocidente sobre os rumos do programa nuclear iraniano.

Um salto na cooperação energética

De acordo com fontes oficiais iranianas, o projeto prevê a construção de reatores do tipo VVER (Water-Water Energetic Reactor), modelo de tecnologia russa que já opera em outros países e é considerado mais seguro do que os reatores mais antigos de projeto soviético. Além disso, as duas partes discutem também a possibilidade de implantar reatores modulares pequenos (SMRs), capazes de atender regiões específicas do país e reduzir riscos de acidentes de larga escala.

Atualmente, o Irã conta com a usina de Bushehr, operada em parceria com a Rússia desde 2011, e busca expandir sua capacidade para atender a crescente demanda interna por energia elétrica. Para Teerã, o acordo vai além da geração de energia: é parte de uma estratégia para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e fortalecer a autonomia energética, em um momento em que o país enfrenta sanções internacionais e pressões econômicas.

Moscou e Teerã: aliança em ascensão

A aproximação entre Rússia e Irã não é um movimento isolado, mas sim resultado de uma convergência política e estratégica. Desde o início da guerra na Ucrânia, Moscou tem buscado parcerias fora do eixo ocidental, e o Irã desponta como um aliado central, tanto em cooperação militar quanto em infraestrutura energética.

Para a Rússia, o acordo reforça sua presença em uma região vital para o equilíbrio geopolítico global e, ao mesmo tempo, gera oportunidades econômicas diante das restrições impostas pelo Ocidente.

Reações internacionais e risco de novas sanções

O anúncio ocorre em um momento delicado. No Conselho de Segurança da ONU, discute-se a possibilidade de acionar o mecanismo de “snapback”, que restabeleceria sanções multilaterais contra Teerã devido a supostas violações do acordo nuclear de 2015.

Os Estados Unidos e aliados europeus veem a expansão nuclear iraniana com desconfiança, temendo que projetos civis possam servir de cobertura para avanços militares. Israel, por sua vez, já alertou que não permitirá que o Irã adquira capacidade nuclear de caráter bélico, elevando o risco de confrontos na região.

Energia civil ou ambição estratégica?

Oficialmente, o Irã insiste que seu programa nuclear tem fins pacíficos, dedicados à geração de energia e à pesquisa médica. No entanto, especialistas apontam que a expansão acelerada das instalações, somada ao contexto de instabilidade no Oriente Médio, pode alterar o equilíbrio de poder regional.

Outro ponto importante é que o Irã não está sozinho nessa corrida nuclear civil. Países como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos também avançam em projetos semelhantes, com planos de construir reatores e diversificar suas matrizes energéticas. Esse cenário cria uma disputa silenciosa pela liderança tecnológica e energética na região.

A parceria com Moscou amplia a capacidade do Irã de contornar pressões internacionais. A Rússia, que domina tecnologias de enriquecimento e construção de reatores, fornece ao Irã não apenas infraestrutura, mas também um respaldo político contra sanções ocidentais.

Perspectivas futuras

O acordo de US$ 25 bilhões marca um ponto de inflexão nas relações entre Rússia e Irã. Se implementado, poderá transformar o Irã em um polo energético com forte influência russa. Porém, ao mesmo tempo, intensifica a disputa diplomática com Washington, Bruxelas e Tel Aviv.

Analistas consideram que a execução do projeto dependerá não apenas da capacidade técnica e financeira dos dois países, mas também da evolução das tensões internacionais. Caso o snapback seja aprovado, a pressão sobre Teerã deve se intensificar, colocando em xeque a viabilidade econômica e política da iniciativa.

Conclusão

O acordo nuclear entre Irã e Rússia é mais do que um contrato de energia — é um movimento geopolítico calculado, que fortalece a parceria entre dois países isolados pelo Ocidente e desafia diretamente a ordem internacional vigente. Ao mesmo tempo em que promete modernizar a infraestrutura energética iraniana, o pacto reforça as linhas de divisão na política global e pode acelerar novas disputas diplomáticas e militares no Oriente Médio.

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