As eleições parlamentares realizadas no último domingo (28) na Moldova definiram um rumo claro para o país: a continuidade da aproximação com a União Europeia e o distanciamento político em relação à Rússia. Com a contagem concluída, o Partido de Ação e Solidariedade (PAS), de orientação pró-europeia, conquistou 50,16% dos votos e 55 dos 101 assentos no Parlamento, garantindo maioria absoluta.
O resultado representa um duro revés para os grupos pró-Moscou, especialmente o Bloco Patriótico, que obteve 24,19% dos votos e 26 assentos. Entre os partidos menores, o Our Party alcançou cerca de 8,6% (9 assentos), o Alternativa ficou com 6,1% (6 assentos) e o Democracy at Home Party recebeu 5,8% (5 assentos). Embora tenham conquistado representação, não possuem força suficiente para alterar o equilíbrio de poder no novo Parlamento.
A escolha entre Europa e Rússia
A eleição foi marcada por um forte componente geopolítico. A Moldova, historicamente situada entre o bloco europeu e a esfera de influência russa, viveu semanas de campanha polarizada. O PAS defendeu a continuidade do processo de integração com a União Europeia, ressaltando benefícios econômicos, apoio institucional e segurança diante das ameaças regionais. Já os partidos pró-Rússia buscaram explorar o descontentamento de parte da população com os altos custos de vida e a instabilidade social, prometendo uma política externa mais alinhada a Moscou.
Contexto histórico
Ex-república da União Soviética, a Moldova conquistou independência em 1991, mas desde então convive com divisões políticas e identitárias. A região separatista da Transnístria, apoiada por Moscou e onde tropas russas permanecem estacionadas, continua sendo um dos principais pontos de tensão e um lembrete constante da fragilidade da soberania moldava.
Implicações internas
Com a vitória expressiva, o PAS terá margem para implementar reformas econômicas e institucionais alinhadas às exigências de aproximação com Bruxelas. No entanto, o partido enfrenta o desafio de responder a problemas domésticos, como inflação persistente, desigualdades sociais e críticas à gestão de serviços públicos.
Para a oposição, o resultado representa não apenas uma derrota eleitoral, mas também a dificuldade de reverter o apoio crescente ao projeto europeu. Ainda assim, partidos ligados a interesses russos mantêm espaço significativo no Parlamento, o que pode alimentar debates intensos e protestos nos próximos meses.
Reações externas
Na União Europeia, a vitória pró-Europa foi recebida como uma sinalização clara de que a Moldova segue determinada a se integrar ao bloco. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou em comunicado: “O povo moldavo escolheu o caminho da democracia e da integração europeia. Estamos prontos para apoiar essa decisão histórica.”
Já a Rússia reagiu com reservas. O Ministério das Relações Exteriores em Moscou declarou que houve “interferência ocidental direta” e criticou o que chamou de “pressões externas inaceitáveis sobre o eleitorado moldavo”. Analistas apontam que Moscou deve intensificar sua atuação política e midiática na região, em uma tentativa de manter algum grau de influência sobre a sociedade moldava.
Impacto regional
O resultado eleitoral moldavo ocorre em meio à guerra na Ucrânia e às tensões permanentes no leste europeu. Para Kiev, a vitória pró-Europa na Moldova é vista como uma notícia positiva, já que reforça o bloco de países da região dispostos a se alinhar contra a pressão russa. Por outro lado, especialistas alertam que a Moldova pode se tornar alvo de maior pressão híbrida por parte de Moscou, incluindo campanhas de desinformação, ciberataques e exploração de divisões políticas internas.
Conclusão
A vitória do PAS consolida a Moldova como um país cada vez mais voltado para o Ocidente, com maioria parlamentar capaz de sustentar reformas e aproximar o país da União Europeia. Porém, o caminho não será livre de obstáculos: os desafios econômicos internos e a pressão externa russa continuarão a testar a capacidade do governo de manter apoio popular e estabilidade política.
O desfecho dessas eleições, portanto, não apenas redefine a política moldava, mas também representa um capítulo importante no tabuleiro geopolítico europeu.

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