Crise política em Madagascar: presidente Rajoelina deixa o país após protestos históricos

O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, posa ao lado do presidente da Turquia durante encontro oficial em 3 de março de 2024
Andry Rajoelina, presidente de Madagascar, e o presidente da Turquia durante reunião oficial em 3 de março de 2024.

Madagascar vive um momento de tensão política sem precedentes. O presidente Andry Rajoelina deixou o país nesta segunda-feira, 13 de outubro de 2025, após semanas de intensos protestos liderados principalmente por jovens da geração Z, que exigem reformas profundas e maior transparência no governo. A situação gerou especulações sobre uma possível crise institucional e levantou preocupações sobre a estabilidade política no país insular do Oceano Índico.

Uma fuga contestada

Fontes da oposição alegam que Rajoelina teria deixado Madagascar com o apoio militar francês, levantando rumores sobre um possível golpe silencioso. Já o governo, em comunicado oficial, afirmou que a saída do presidente é temporária e que ele retornará ainda nesta segunda-feira para um pronunciamento à nação. Embora a alegação do apoio militar francês não seja confirmada oficialmente, ela reflete a crescente tensão política e a desconfiança da população em relação ao governo.

Soldados e manifestantes: um momento histórico

Um dos episódios mais marcantes da crise foi registrado em Antananarivo, capital do país, quando militares foram vistos aplaudindo e se unindo aos manifestantes durante os protestos. Este gesto inédito evidencia a crescente tensão entre forças armadas e governo, além de demonstrar a influência da sociedade civil, especialmente da juventude, sobre decisões políticas que tradicionalmente eram controladas por elites governamentais.

Segundo analistas políticos, a participação de soldados ao lado de civis representa uma ruptura significativa na dinâmica de poder, potencialmente abrindo espaço para negociações políticas forçadas ou mesmo mudanças na liderança. Historicamente, Madagascar já enfrentou crises políticas envolvendo golpes e disputas internas, mas a presença militar ativa em protestos civis é um fenômeno raro e altamente simbólico.

O papel da geração Z

Os protestos têm sido amplamente organizados e liderados por jovens, que utilizam redes sociais e plataformas digitais para coordenar ações e denunciar práticas consideradas autoritárias pelo governo. A participação da geração Z demonstra uma mudança na dinâmica política do país, em que as vozes das novas gerações estão começando a pressionar políticas públicas e decisões governamentais de forma mais incisiva do que em décadas anteriores.

Para entender melhor o impacto global da geração Z em movimentos sociais, veja nosso artigo detalhado: Geração Z em Revolta: Uma Onda Global de Protestos Juvenis. Além das reivindicações por maior transparência, os jovens protestam contra a desigualdade econômica, a corrupção institucional e a falta de oportunidades de emprego.

Contexto histórico: crises políticas anteriores em Madagascar

Madagascar possui um histórico conturbado de instabilidade política. Desde a independência em 1960, o país já passou por golpes de Estado, crises eleitorais e protestos populares. Entre os episódios mais recentes, destacam-se:

  • 2009: Deposição do presidente Marc Ravalomanana após protestos e intervenção militar.
  • 2013: Eleições contestadas, marcadas por alegações de fraude e paralisações civis.
  • 2018: Conflitos políticos internos que atrasaram reformas econômicas e sociais.

Este histórico demonstra que a instabilidade atual não é isolada, mas parte de um padrão de desafios institucionais que dificultam a consolidação democrática.

Impactos sociais e econômicos

A crise política tem consequências diretas sobre a sociedade e a economia:

  • Desemprego e falta de oportunidades: muitos jovens denunciam dificuldade para ingressar no mercado de trabalho, agravando o descontentamento.
  • Serviços públicos prejudicados: escolas e hospitais enfrentam interrupções temporárias devido a protestos e insegurança.
  • Comércio e investimentos: a incerteza política afasta investidores e pode impactar o turismo e as exportações, setores vitais para a economia de Madagascar.

Reações internacionais

A comunidade internacional acompanha de perto a situação. A União Africana (UA) emitiu um comunicado pedindo diálogo e respeito às instituições democráticas, enquanto países vizinhos expressaram preocupação com possíveis repercussões regionais. Observadores alertam que a presença de rumores envolvendo apoio militar francês adiciona complexidade à crise, suscitando debates sobre influência externa em assuntos internos africanos.

Cenário e próximos passos

Com o presidente ainda fora do país e os manifestantes ocupando espaços públicos, Madagascar enfrenta um momento decisivo. Observadores políticos recomendam diálogo aberto entre governo, líderes da oposição e representantes civis para evitar confrontos mais graves e restaurar a confiança da população nas instituições.

Enquanto isso, a comunidade internacional observa atentamente. Organizações como a União Africana e a Comunidade do Oceano Índico (COI) poderão atuar como mediadores caso a crise se agrave. A forma como Madagascar gerenciará esta turbulência política será um indicativo da maturidade democrática do país e do poder da juventude na política contemporânea africana.

Conclusão

A saída temporária do presidente Andry Rajoelina, aliada à inédita aliança simbólica entre militares e manifestantes, coloca Madagascar no epicentro de uma crise que mescla política interna, engajamento juvenil e pressões internacionais. Este episódio pode redefinir não apenas o futuro político do país, mas também servir como um case sobre o impacto da geração Z na política africana e global, como exploramos no artigo sobre a revolta juvenil global.

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