EUA pressionam Hamas a cessar violência e entregar armas em meio a nova tentativa de paz em Gaza

Donald Trump presente na Ryder Cup 2025 nos Estados Unidos, observando os jogadores de golfe e a torcida
Donald Trump participa da Ryder Cup 2025 nos EUA.

O Comando Central dos Estados Unidos (CENTCOM) emitiu, na quarta-feira (15), um comunicado contundente exigindo que o Hamas “interrompa imediatamente toda forma de violência contra civis” na Faixa de Gaza e “se desarme sem demora”. A declaração ocorre em meio à aprovação de um novo cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino, mediado por Washington, Egito e Catar, marcando uma das mais delicadas etapas do processo de paz desde o início da guerra em Gaza.

Um pedido com tom de ultimato

A nota oficial do CENTCOM destacou que “a segurança dos civis em Gaza e a estabilidade regional dependem da disposição das facções armadas em respeitar o direito internacional humanitário e em abandonar o caminho da violência”. Embora não tenha havido menção explícita a uma intervenção militar, o tom do comunicado sugere crescente impaciência de Washington diante da resistência do Hamas em aceitar o processo de desarmamento total proposto nos acordos mais recentes.

O governo de Donald Trump, que voltou ao poder prometendo uma “nova era de estabilidade no Oriente Médio”, vê o desarmamento do Hamas como passo essencial para a reconstrução de Gaza e para o reconhecimento de um futuro Estado palestino sob supervisão internacional. “Se o Hamas não se desarmar, nós o desarmaremos”, afirmou Trump em tom categórico durante a cúpula de paz realizada em Sharm el-Sheikh, no Egito.

Cessar-fogo sob tensão

O cessar-fogo aprovado por Israel na última semana é o primeiro desde o colapso das negociações em meados do ano. Ele prevê a troca gradual de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, além da abertura de corredores humanitários controlados por forças internacionais. No entanto, a trégua tem sido marcada por episódios de violência.
Fontes palestinas relataram que pelo menos nove pessoas foram mortas por disparos israelenses após se aproximarem de postos militares. Tel Aviv afirma que os incidentes ocorreram em “zonas restritas de segurança” e que seus soldados agiram “em defesa própria”.

Em Gaza, a situação permanece volátil. Apesar da promessa de desarmamento, facções menores continuam ativas, e relatos de confrontos internos entre milícias palestinas têm aumentado. O Hamas, em comunicado divulgado por seus porta-vozes, rejeitou as exigências americanas e afirmou que “não abrirá mão do direito de resistir à ocupação enquanto não houver garantias reais de soberania e reconstrução”.

O papel dos EUA e o novo equilíbrio regional

A postura mais assertiva de Washington reflete o esforço da administração Trump em consolidar sua influência sobre o processo de paz, numa tentativa de projetar liderança num Oriente Médio fragmentado. O governo americano tem buscado equilibrar apoio irrestrito a Israel com a necessidade de aliviar a crise humanitária em Gaza — um desafio que põe à prova sua diplomacia.

Segundo analistas, o atual cenário é resultado de uma mudança de estratégia em relação à abordagem anterior de “contenção”. Agora, os EUA adotam uma política de pressão simultânea sobre as duas partes: exigem que Israel reduza operações militares em áreas civis e que o Hamas abandone sua estrutura militar.
Para Washington, a reconstrução de Gaza depende diretamente do cumprimento dessas condições, que abririam espaço para a entrada de investimentos estrangeiros e supervisão de forças de paz internacionais.

Reações internacionais e dilemas futuros

O Egito e o Catar, principais mediadores regionais, demonstraram apoio cauteloso à posição americana. O presidente egípcio Abdel Fattah el-Sisi afirmou que “a paz só será sustentável se acompanhada de justiça e segurança para ambos os povos”, enquanto Doha advertiu que “qualquer imposição unilateral sem garantias políticas sólidas poderá reabrir o ciclo de violência”.

Na Europa, as reações foram divididas. A França elogiou o “tom firme” de Washington, enquanto a Turquia classificou a declaração do CENTCOM como “provocação desnecessária” e defendeu um processo de diálogo direto entre palestinos e israelenses, sem “ameaças militares implícitas”.

Especialistas avaliam que, embora o cessar-fogo represente um avanço simbólico, a paz ainda parece distante. O desarmamento completo do Hamas é visto como improvável sem concessões políticas significativas, como o reconhecimento de um governo palestino unificado e o fim do bloqueio de Gaza.

Um frágil caminho à frente

A pressão dos Estados Unidos sobre o Hamas marca um novo capítulo nas tentativas de encerrar o conflito israelo-palestino, mas também evidencia os riscos de uma escalada. Entre as promessas de reconstrução e as ameaças de novas operações militares, Gaza permanece em um estado de espera — suspensa entre a esperança de paz e o temor de mais destruição.

Enquanto isso, a comunidade internacional observa atentamente se as palavras firmes de Washington se transformarão em ações concretas — e se o Oriente Médio, após décadas de guerra, poderá finalmente vislumbrar uma trégua duradoura.

Conclusão

O esforço dos Estados Unidos para pressionar o Hamas e consolidar o cessar-fogo em Gaza representa um dos momentos mais delicados do cenário político no Oriente Médio dos últimos anos. Embora a nova trégua tenha sido recebida como um passo importante em direção à paz, a desconfiança mútua entre israelenses e palestinos, somada às divisões internas em Gaza, mantém o processo em terreno frágil.

A presença direta de Washington no centro das negociações reforça a tentativa do governo Trump de reposicionar os EUA como mediadores decisivos na região, mas também expõe os riscos de uma política baseada na imposição de condições duras. Se o plano de paz avançar, poderá marcar o início de uma nova fase política no Oriente Médio; se fracassar, poderá reacender uma das crises mais prolongadas do século.

Enquanto isso, a população de Gaza continua à espera de estabilidade e reconstrução — um lembrete de que, para além das declarações diplomáticas, o verdadeiro teste da paz está nas ruas destruídas e nas vidas interrompidas por anos de conflito.

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