Afeganistão e Paquistão intensificam diálogo estratégico sobre segurança e terrorismo transfronteiriço

Khawaja Asif discursando no Conselho de Segurança da ONU, com uma mulher sentada atrás dele durante a sessão.
O ministro da Defesa do Paquistão, Khawaja Asif, discursou no Conselho de Segurança da ONU em 26 de setembro de 2025, destacando seu compromisso de longa data com a causa palestina e explicando a presença de membros da delegação atrás dele.

Uma delegação paquistanesa liderada pelo ministro da Defesa, Khawaja Asif, viajará a Doha, no Catar, para tratar de questões de segurança e estabelecer medidas coordenadas de combate ao terrorismo transfronteiriço com autoridades afegãs. Este movimento ocorre em meio a crescentes preocupações sobre a presença de grupos extremistas ao longo da fronteira de mais de 2.600 km, historicamente difícil de controlar, e após uma série de ataques que acentuaram a instabilidade regional.

Contexto histórico da fronteira e desafios de segurança

A fronteira Afeganistão-Paquistão, marcada pela região de Durand Line, é uma das mais sensíveis do mundo, devido à sua permeabilidade, população tribal e presença histórica de grupos armados. Desde a retirada das forças internacionais do Afeganistão em 2021 e o retorno do Talibã ao poder, a região tem registrado:

  • Ataques de ISIS-K em cidades afegãs e em rotas fronteiriças.
  • Atividades de Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP) operando em territórios afegãos, visando o Paquistão.
  • Tráfico de drogas e armas, financiando redes insurgentes e grupos extremistas.

Segundo dados compilados por organizações internacionais, houve um aumento de 25% nos ataques transfronteiriços entre 2023 e 2025, com o Paquistão registrando dezenas de incidentes violentos em áreas fronteiriças, especialmente nas províncias de Khyber Pakhtunkhwa e Baluchistão.

O cenário reforça a necessidade de cooperação bilateral entre Cabul e Islamabad para prevenir ataques que afetam não apenas a segurança nacional, mas a estabilidade de toda a região do Sul da Ásia.

Objetivos estratégicos da missão paquistanesa

O ministro Khawaja Asif lidera a delegação com objetivos claros e coordenados:

  1. Inteligência compartilhada: Troca de informações sobre movimentos de grupos armados e rotas de infiltração.
  2. Operações conjuntas: Criação de estratégias de patrulhamento coordenado e neutralização de insurgentes ativos na fronteira.
  3. Fortalecimento diplomático: Uso de Doha como ambiente neutro para restaurar confiança mútua, historicamente baixa entre os dois países.
  4. Redução do tráfico ilícito: Combate às rotas de drogas e armas que alimentam redes extremistas, com foco em áreas como Waziristão e Nangarhar.

Especialistas observam que a escolha de Doha reflete a tradição do Catar como mediador regional neutro, proporcionando condições diplomáticas mais favoráveis para negociações delicadas.

Perspectiva regional e internacional

A cooperação entre Afeganistão e Paquistão tem implicações além da fronteira comum:

  • Índia: Mantém vigilância sobre possíveis infiltrações de grupos insurgentes.
  • China: Interessada em proteger rotas da Iniciativa do Cinturão e Rota no Paquistão.
  • Irã: Preocupado com a expansão de grupos extremistas ao longo de sua fronteira oriental.
  • Organizações internacionais: ONU e OTAN monitoram o avanço do terrorismo e da instabilidade, oferecendo suporte logístico e diplomático quando solicitado.

Analistas ressaltam que a confiança mútua é um fator crítico. A história recente mostra episódios de tensões, acusações de abrigo a militantes e operações militares não coordenadas. Superar estas barreiras será determinante para a eficácia do diálogo.

Análises de especialistas

Segundo Faisal Ali, analista de segurança sul-asiática, “A iniciativa paquistanesa é estratégica. O sucesso dependerá de mecanismos claros de implementação e fiscalização das medidas acordadas em Doha.”

Zahra Rahimi, pesquisadora afegã de política regional, destaca: “O Afeganistão sob o Talibã precisa demonstrar capacidade de controlar grupos insurgentes em território próprio. Sem isso, qualquer acordo será limitado e simbólico.”

Desafios e riscos

Apesar da importância do diálogo, existem desafios significativos:

  • A presença de milícias locais descentralizadas, que operam fora do controle direto do governo afegão ou do Paquistão.
  • Divergências históricas e desconfiança política entre os dois países.
  • Influência de atores externos, como Estados Unidos e Índia, que podem impactar negociações por interesses estratégicos.
  • Sustentabilidade de medidas de longo prazo, especialmente em áreas economicamente frágeis e de difícil acesso.

Perspectivas futuras

O diálogo em Doha é visto como uma oportunidade de reduzir ataques transfronteiriços e aumentar a estabilidade regional. Medidas concretas, como patrulhas coordenadas, inteligência compartilhada e redução de rotas de tráfico, podem servir como modelo de cooperação em outras regiões do Oriente Médio e da Ásia Central.

A efetividade dependerá de comprometimento político, monitoramento contínuo e suporte internacional, visando garantir que os esforços não se limitem a declarações diplomáticas, mas se traduzam em resultados práticos na segurança da população.

Conclusão

A missão liderada por Khawaja Asif a Doha marca um passo significativo na relação entre Afeganistão e Paquistão. Frente a uma das fronteiras mais desafiadoras do mundo, a iniciativa busca combater o terrorismo transfronteiriço, reduzir a instabilidade e promover segurança regional. O sucesso dependerá da capacidade de transformar diálogos diplomáticos em ações concretas e coordenadas, fortalecendo não apenas a segurança bilateral, mas a estabilidade do Sul da Ásia como um todo.

Para mais informações, leia também nossas duas últimas matérias sobre o conflito entre Paquistão e Talibã.

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