União Europeia aprova nova agenda estratégica com a Índia e reforça presença no Indo-Pacífico

Ursula von der Leyen e Narendra Modi apertando as mãos durante reunião em Nova Délhi, Índia, em 25 de abril de 2022.
PM Narendra Modi recebe a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em Nova Délhi, reforçando laços entre Índia e União Europeia.

A União Europeia (UE) deu um passo decisivo em sua política externa ao aprovar recentemente duas iniciativas estratégicas fundamentais: a “Agenda Estratégica UE-Índia” e a Estratégia de Cooperação da UE no Indo-Pacífico. As decisões, formalizadas pelo Conselho Europeu, demonstram o reconhecimento de Bruxelas sobre a necessidade de uma atuação mais global, diante da transformação do cenário geopolítico mundial.

Nova Agenda Estratégica UE-Índia

A “Agenda Estratégica UE-Índia” busca aprofundar a cooperação bilateral em diversas áreas cruciais, incluindo comércio, segurança, tecnologia e defesa. A iniciativa reflete o interesse da União Europeia em estreitar vínculos com uma das economias emergentes mais dinâmicas do mundo, reconhecendo o papel estratégico da Índia não apenas como parceiro econômico, mas também como ator relevante na segurança regional e global.

Segundo o embaixador da UE na Índia, Hervé Delphin, a aprovação da nova agenda estratégica representa um avanço significativo nas relações bilaterais. Em uma publicação no X (antigo Twitter), Delphin afirmou:

“Notícias de Bruxelas chegando com o espírito do Diwali! Os 27 Estados-Membros da UE apoiaram unanimemente uma nova e ambiciosa agenda estratégica UE-Índia para os próximos anos. Próximo passo: UE e Índia concordarão em uma agenda conjunta antes da próxima cúpula em Delhi.”

A agenda abrange cinco pilares principais: prosperidade e sustentabilidade, tecnologia e inovação, segurança e defesa, conectividade e governança global. A cooperação em defesa destaca-se como um componente estratégico, com ênfase na construção de confiança mútua e no fortalecimento das capacidades de defesa.

Estratégia da UE no Indo-Pacífico

Paralelamente, o Conselho Europeu aprovou conclusões sobre a Estratégia de Cooperação da UE no Indo-Pacífico. O foco está em quatro pilares principais: segurança, defesa, transição verde e digital, e comércio. A estratégia reconhece a crescente importância do Indo-Pacífico, região marcada pelo dinamismo econômico e geopolítico, com destaque para a ascensão da China e o papel central de países como Japão, Austrália, Coreia do Sul e Índia.

O Alto Representante da UE para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, Josep Borrell, destacou a necessidade de uma abordagem estratégica e coordenada da UE na região. Em um comunicado, Borrell afirmou:

“A região do Indo-Pacífico é de importância estratégica crescente para a União Europeia. Devemos reforçar nossa presença e cooperação com parceiros-chave para promover a paz, a estabilidade e o desenvolvimento sustentável.”

A estratégia visa fortalecer a autonomia estratégica da UE, promovendo a segurança marítima, a governança digital, a transição energética e a conectividade sustentável. A cooperação com países da região será baseada em princípios de multilateralismo, respeito ao direito internacional e promoção de uma ordem internacional baseada em regras.

Implicações geopolíticas

O movimento da União Europeia reflete uma percepção crescente: o mundo está passando por uma reconfiguração geopolítica, na qual grandes potências disputam influência em regiões estratégicas. A ascensão da China, o papel emergente da Índia e a importância do Indo-Pacífico no comércio e na segurança marítima pressionam a Europa a agir de maneira mais autônoma e estratégica.

Para analistas internacionais, a nova postura europeia pode trazer várias consequências:

  1. Diversificação das alianças e do comércio: Ao fortalecer laços com a Índia e ampliar sua presença no Indo-Pacífico, a UE busca reduzir vulnerabilidades econômicas e comerciais, garantindo acesso a mercados estratégicos e cadeias de suprimentos essenciais.
  2. Maior papel em segurança e defesa: A cooperação em defesa e segurança sugere que a Europa pretende atuar não apenas como bloco econômico, mas também como ator de relevância militar e diplomática global.
  3. Influência nas grandes potências: A política externa reforça a capacidade europeia de dialogar e negociar com atores estratégicos, incluindo Estados Unidos, China e países do Indo-Pacífico, em bases de parceria e não apenas de alinhamento.
  4. Projeção de valores globais: Ao priorizar transição verde, digitalização e governança sustentável, a UE mostra que seu engajamento internacional não se limita a interesses econômicos, mas também a questões éticas e de sustentabilidade.

Conclusão

Com a aprovação da Agenda Estratégica UE-Índia e da Estratégia de Cooperação no Indo-Pacífico, a União Europeia demonstra que está pronta para adotar uma postura mais global, estratégica e proativa. Em um mundo marcado por competição entre grandes potências e desafios complexos, essa nova abordagem europeia reforça sua relevância internacional, ao mesmo tempo em que projeta valores de inovação, sustentabilidade e segurança.

O movimento também sinaliza que a Europa não está mais focada exclusivamente em seu continente, mas reconhece que sua influência futura dependerá de sua capacidade de atuar em regiões cruciais e de se engajar de forma inteligente e estratégica com parceiros emergentes.

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