A União Europeia (UE) expressou nesta terça‑feira aprovação com a decisão da China de suspender‑por 12 meses certos controlos à exportação de minerais raros — elementos estratégicos para a indústria de alta‑tecnologia e a defesa.
O entendimento entre Bruxelas e Pequim representa um passo relevante para estabilizar cadeias de abastecimento críticas e reduzir vulnerabilidades industriais da Europa.
Contexto e origem do conflito
Os minerais raros — como terras‑raras e ímãs permanentes derivados delas — são vitais para setores como mobilidade elétrica, energias renováveis, aeroespacial, defesa e eletrónica. A China domina aproximadamente 90 % da capacidade global de refinação desses elementos.
Em abril e outubro de 2025, a China impôs controlos mais rígidos às exportações desses materiais, exigindo licenças especiais e declarando que algumas exportações estariam sujeitas a aprovação segundo critérios de “segurança nacional”.
Essa ação intensificou os receios da UE sobre interrupções nas cadeias de produção e aumentos de custos para indústrias que dependem desses insumos.
O acordo e seus termos principais
Durante conversações em Bruxelas entre o Comissário‑de‑Comércio da UE Maroš Šefčovič e o Ministro‑do‑Comércio chinês Wang Wentao, a China concordou com a suspensão das restrições à exportação de minerais raros por um período de 12 meses.
A UE obtém também o compromisso de negociar com a China um sistema permanente de licenciamento de exportação que garanta previsibilidade e transparência no fluxo desses materiais críticos.
Bruxelas qualificou o passo como “apropriado e responsável” no âmbito da manutenção de cadeias globais de abastecimento estáveis.
Impactos para a Europa
Redução de risco imediato: A suspensão oferece alívio para as indústrias europeias que vinham enfrentando atrasos, falta de matérias‑primas e possibilidade de interrupção de produção.
Sinal diplomático e industrial: Acordos desse tipo reforçam a posição da UE em exigir transparência e previsibilidade nas relações com fornecedores externos críticos.
Convite à diversificação: Apesar da suspensão, a UE reconhece a vulnerabilidade inerente à dependência de um único fornecedor dominante — e intensifica esforços para diversificar origens, investir em refino interno e reciclagem.
Desafios e fragilidades persistentes
- Dependência estrutural da China: Mesmo com o acordo, a estrutura global continua marcada pela forte dependência europeia dos minerais chineses, o que permanece como risco estratégico.
- Licenciamento e execução: A suspensão não elimina a necessidade de supervisão, e a eficácia do mecanismo dependerá da implementação concreta e da rapidez das respostas a gargalos.
- Geopolítica latente: O acordo ocorre em meio a tensões maiores entre China, Estados Unidos e UE, e qualquer retrocesso ou mudança de política chinesa pode reverter ganhos rapidamente.
- Investimentos de longo prazo: A suspensão temporária não substitui a necessidade de investimento em mineração, refino e reciclagem de minerais raros na Europa ou em países parceiros.
Cenário para os próximos anos
A suspensão de 12 meses abre uma janela para que a UE:
- estabeleça mecanismos de segurança no abastecimento e diversifique os fornecedores;
- utilize esse tempo para acelerar a implementação de iniciativas como o Critical Raw Materials Act (CRMA), que pretende fortalecer a autonomia europeia em materiais críticos.
A relação UE‑China poderá ganhar maior estabilidade se o acordo se traduzir em práticas consistentes — caso contrário, novos episódios de controle sobre exportações podem reacender os riscos para a Europa.
Conclusão
O entendimento entre a União Europeia e a China sobre minerais raros representa um avanço significativo em face de uma dependência estrutural preocupante. Porém, trata‑se de um ganho provisório: a verdadeira robustez da solução dependerá da capacidade de ambos os lados em garantir transparência, diversificação e autonomia industrial. Para a Europa, o desafio estratégico permanece: transformar esse alívio temporário numa trajetória sustentável de segurança de abastecimento e competitividade tecnológica.

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