O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky voltou a defender publicamente que a Ucrânia deve ser admitida na União Europeia até 2030, destacando que o país está “avançando com confiança” nas reformas exigidas pelo bloco. A declaração foi feita após a divulgação do relatório mais recente da Comissão Europeia, que reconheceu progressos significativos em áreas como o combate à corrupção, a independência judicial e a modernização das instituições públicas.
Segundo Zelensky, o documento confirma que a Ucrânia está “cumprindo sua parte do acordo” e merece uma resposta política clara por parte dos líderes europeus. “Nosso caminho europeu é irreversível. A Ucrânia está pronta para integrar-se plenamente à União Europeia até o fim desta década”, afirmou o presidente em um discurso televisionado em Kiev.
Progresso em meio à guerra
O apelo de Zelensky ocorre em um contexto particularmente desafiador. Mesmo com o país ainda envolvido na guerra contra a Rússia, o governo ucraniano vem implementando um conjunto de reformas estruturais que buscam alinhar as normas nacionais às diretrizes da União Europeia.
Essas medidas incluem a reestruturação do sistema judiciário, a criação de agências anticorrupção independentes e a digitalização de serviços públicos — iniciativas elogiadas por Bruxelas.
Para muitos observadores, o empenho ucraniano demonstra que o processo de integração europeia é tanto político quanto simbólico, funcionando como uma ferramenta de resistência e reconstrução nacional. “A adesão à UE tornou-se um projeto de sobrevivência e identidade para a Ucrânia”, afirmou o analista político Oleksandr Martynenko, em entrevista à agência Reuters.
Moldova e o receio de “mover os postes do gol”
A presidente da Moldova, Maia Sandu, também reagiu ao relatório europeu e alertou para o risco de mudanças arbitrárias nas regras do processo de adesão. Ela expressou preocupação de que a União Europeia possa ajustar critérios ou prazos no meio do caminho, o que, segundo ela, poderia minar a confiança dos países candidatos.
“Os nossos cidadãos estão fazendo sacrifícios reais para alinhar o país aos padrões europeus. Não podemos aceitar que as regras mudem quando estamos próximos da linha de chegada”, declarou Sandu em conferência de imprensa em Chisinau.
A Moldova, que compartilha desafios semelhantes aos da Ucrânia, busca igualmente avançar nas negociações de adesão, especialmente em áreas de governança e reformas institucionais.
Reação em Bruxelas e dentro da União Europeia
Dentro do bloco europeu, o debate sobre a ampliação da União Europeia está se tornando cada vez mais intenso. Alguns Estados-membros, como Polônia e Lituânia, apoiam abertamente a aceleração da adesão ucraniana, argumentando que isso fortalecerá a segurança e a estabilidade da Europa Oriental.
Outros países, porém, como França e Holanda, demonstram cautela, defendendo que o bloco deve consolidar suas estruturas internas antes de incorporar novos membros. A principal preocupação é que uma expansão rápida possa sobrecarregar o orçamento europeu e gerar desequilíbrios políticos e econômicos.
Um diplomata da UE, ouvido pelo jornal The Guardian, afirmou que o desafio não é apenas técnico, mas político. “A Ucrânia está fazendo progressos notáveis, mas a integração plena exigirá consenso entre os 27 Estados-membros — algo que ainda está longe de ser alcançado”, disse.
O papel estratégico da Ucrânia na Europa
Além dos aspectos institucionais, há um forte componente geopolítico no processo. Desde o início da invasão russa, em 2022, a Ucrânia passou a ser vista como uma barreira estratégica entre o espaço europeu e a influência de Moscou.
Para Bruxelas, aproximar a Ucrânia representa uma oportunidade de fortalecer a segurança continental e projetar estabilidade em uma região marcada por conflitos e instabilidade. A entrada de Kiev no bloco também ampliaria o alcance político e econômico da UE no Leste Europeu, consolidando sua posição global frente a potências como Rússia e China.
Contudo, essa aproximação traz custos e riscos. A integração de um país em guerra, com setores econômicos devastados e necessidade massiva de reconstrução, exigirá apoio financeiro sem precedentes por parte da União Europeia. Estimativas apontam que a adesão plena poderia demandar centenas de bilhões de euros em investimentos, além de reformas fiscais e institucionais adicionais.
Expectativas e próximos passos
A Comissão Europeia deve apresentar até o final de 2025 um novo relatório de progresso, que servirá como base para a decisão política sobre a abertura formal das negociações de adesão. Caso aprovado, o processo poderá se estender ao longo da década, com a meta simbólica de conclusão até 2030, conforme defende Zelenskyy.
Enquanto isso, Bruxelas segue monitorando as reformas ucranianas e moldavas, especialmente nas áreas de combate à corrupção, liberdade de imprensa e independência judicial — pontos considerados essenciais para a confiança mútua e o funcionamento das instituições europeias.
Contexto e análise
O pedido de adesão até 2030 não é apenas uma meta administrativa, mas um marco político que visa manter o moral interno da população ucraniana e o apoio externo da União Europeia. Analistas afirmam que o compromisso com a integração serve como contrapeso à influência russa e como sinal de que o país não retornará à esfera de Moscou.
Ao mesmo tempo, a questão expõe divergências dentro do próprio bloco europeu sobre até que ponto a União pode se expandir sem comprometer sua coesão política e financeira. A expansão, embora vista como um passo histórico, pode redefinir o equilíbrio de poder dentro da Europa nas próximas décadas.
Conclusão
O avanço da Ucrânia rumo à União Europeia representa um dos capítulos mais importantes da política europeia contemporânea. Entre desafios institucionais, guerra em curso e interesses divergentes dentro do bloco, o país tenta consolidar sua posição como um futuro membro europeu comprometido com reformas, transparência e democracia.
Ainda que a meta de adesão até 2030 pareça ambiciosa, ela traduz a determinação de um Estado que busca reconstruir sua identidade e garantir seu lugar na Europa — não apenas geograficamente, mas politicamente e civilizacionalmente.

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