A Ucrânia enfrenta uma das maiores crises energéticas desde o início da guerra, após uma nova onda de ataques russos atingir, na madrugada desta sexta-feira, diversas infraestruturas críticas do país. Segundo informações do The Independent, cerca de 450 drones e 45 mísseis foram lançados contra centrais elétricas e instalações de distribuição de energia em várias regiões ucranianas. O governo em Kiev afirma que a capacidade de geração foi reduzida a “zero” em algumas áreas, obrigando a cortes de energia de até 16 horas por dia em cidades importantes.
As ofensivas fazem parte do que analistas descrevem como uma “campanha de inverno” da Rússia — uma estratégia voltada a enfraquecer a resistência ucraniana e aumentar a pressão sobre a população civil por meio da destruição da infraestrutura essencial, especialmente antes da chegada das baixas temperaturas.
Infraestrutura sob colapso e impacto humanitário crescente
O Ministério da Energia da Ucrânia informou que os ataques causaram danos severos em várias subestações e usinas, deixando milhões de pessoas sem eletricidade. As regiões de Dnipro, Kharkiv e Zaporizhzhia foram particularmente afetadas, com relatos de falhas completas em redes de transmissão.
Além da falta de energia, a interrupção também afeta sistemas de aquecimento e abastecimento de água, tornando a situação ainda mais crítica à medida que o país se aproxima do inverno. O governo ucraniano orientou os cidadãos a economizarem energia e a prepararem-se para apagões prolongados, enquanto equipes de emergência tentam restaurar o fornecimento em áreas prioritárias como hospitais e abrigos.
O The Guardian relata que, em algumas localidades, as autoridades locais declararam estado de emergência devido à impossibilidade de manter os serviços básicos em funcionamento.
Risco crescente para instalações nucleares
De acordo com uma análise citada pelo The Guardian, os ataques intensos contra o sistema energético elevam o risco de incidentes em instalações nucleares e outras estruturas de alta sensibilidade. Embora a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tenha afirmado que os reatores permanecem estáveis, o aumento dos apagões representa uma ameaça direta à segurança dos sistemas de refrigeração e monitoramento dessas plantas.
A usina de Zaporizhzhia, a maior da Europa e atualmente sob controle russo, continua sendo motivo de preocupação constante. Interrupções no fornecimento elétrico externo podem forçar o uso de geradores de emergência — uma medida temporária e arriscada em situações prolongadas.
Resposta internacional e tensão política
A nova onda de ataques reacendeu os apelos de Kiev por apoio militar e energético. O presidente Volodymyr Zelensky pediu à União Europeia e aos Estados Unidos o envio urgente de sistemas de defesa antiaérea e geradores elétricos, além de sanções adicionais contra Moscou.
Diversos líderes europeus condenaram os ataques, classificando-os como uma tentativa deliberada de “paralisar a população civil”. Autoridades da União Europeia discutem medidas emergenciais para auxiliar o setor energético ucraniano, incluindo transferência de eletricidade de países vizinhos e suporte técnico para reparos rápidos.
Em contrapartida, o Kremlin defende suas ações, alegando que as operações militares têm como alvo “infraestruturas estratégicas ligadas ao esforço de guerra” e não civis — uma justificativa amplamente contestada pela comunidade internacional.
Objetivo estratégico de Moscou
Especialistas em segurança europeus veem os bombardeios como parte de uma estratégia de desgaste. O objetivo russo seria enfraquecer a moral da população ucraniana, interromper a produção industrial e pressionar o governo de Kiev em futuras negociações. Além disso, ao atacar a rede elétrica, Moscou tenta reduzir a capacidade da Ucrânia de operar sistemas militares modernos, que dependem fortemente de energia e conectividade.
Outro fator em jogo é a tentativa russa de testar a resposta ocidental. Cada nova escalada serve como medidor do nível de comprometimento dos aliados europeus e norte-americanos com o esforço de guerra ucraniano.
Perspectivas e desafios
Com a chegada do inverno, a crise energética tende a se agravar. As autoridades ucranianas estimam que serão necessários meses para restaurar totalmente o sistema elétrico, caso os ataques continuem no mesmo ritmo.
A população, já exausta após quase três anos de conflito, enfrenta um cenário de racionamento, escassez e riscos humanitários crescentes.
Ao mesmo tempo, cresce a preocupação internacional de que um colapso energético total possa desencadear novos fluxos migratórios em direção à União Europeia, aumentando a pressão política sobre os governos do bloco.
Conclusão
Os ataques massivos da Rússia contra a infraestrutura energética ucraniana revelam uma nova fase da guerra — menos centrada em avanços territoriais e mais voltada para o desgaste econômico e psicológico.
Com apagões generalizados, riscos nucleares e um inverno iminente, a Ucrânia enfrenta uma das etapas mais desafiadoras do conflito.
Enquanto isso, a Europa observa com apreensão, consciente de que os efeitos dessa ofensiva vão além das fronteiras ucranianas e atingem o próprio equilíbrio energético e geopolítico do continente.

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