Alemanha sob Friedrich Merz: economia fraca, promessas em xeque e popularidade em queda

Friedrich Merz e membros da CDU reunidos, comemorando a vitória nas eleições locais de 29 de setembro de 2025, na Renânia do Norte-Vestfália.
Friedrich Merz e membros da CDU comemoram a vitória do partido nas eleições locais de 29 de setembro de 2025, na Renânia do Norte-Vestfália, após o avanço de candidatos jovens em várias cidades e distritos.

Seis meses após assumir o cargo, o chanceler Friedrich Merz enfrenta estagnação econômica, pressão interna na coalizão e avanço da extrema-direita, enquanto sua popularidade cai a níveis historicamente baixos.

A Alemanha, maior economia da Europa e tradicional motor da União Europeia, atravessa um momento delicado. Seis meses após assumir o cargo de chanceler, Friedrich Merz enfrenta forte desgaste político e crescente frustração popular. Pesquisas recentes mostram queda acentuada na aprovação do governo, enquanto indicadores econômicos permanecem fracos e a extrema-direita ganha terreno no cenário nacional.

Merz chegou ao poder prometendo reviver a economia alemã, recuperar a competitividade industrial, controlar a migração e reforçar a defesa do país em um contexto de guerra na Ucrânia e tensões com a Rússia. Na prática, porém, o governo luta para mostrar resultados concretos, e parte do eleitorado se pergunta se as promessas de campanha conseguirão, de fato, sair do papel.

Da vitória eleitoral às dificuldades no governo

Nas eleições federais de fevereiro de 2025, a aliança conservadora CDU/CSU, liderada por Friedrich Merz, saiu vitoriosa e conseguiu formar uma coalizão governamental após o desgaste do governo anterior, comandado por Olaf Scholz. Merz assumiu com a imagem de gestor pragmático, disposto a fazer reformas econômicas e a reposicionar a Alemanha como potência central da Europa.

No entanto, poucos meses depois de sua posse, o cenário político se tornou mais complexo:

  • A coalizão governista enfrenta conflitos internos e dificuldades para construir consenso em torno de reformas estruturais.
  • A extrema-direita, representada pela AfD, continua consolidadA como segunda força política, explorando o descontentamento com a estagnação econômica e o debate sobre migração.

Esse contexto fragiliza a capacidade de Merz de liderar com autoridade e de entregar rapidamente as mudanças prometidas.

Economia: a “locomotiva europeia” perde força

A economia alemã vive um ciclo de fraqueza prolongada desde 2022, com crescimento baixo ou negativo, investimentos tímidos e perda de competitividade em setores estratégicos como indústria, energia e tecnologia. Muitos analistas falam em uma “crise econômica alemã” de longo curso, marcada por problemas estruturais: energia cara, transição energética lenta, burocracia elevada, envelhecimento populacional e atraso digital.

Nos últimos dias, o quadro ficou ainda mais desconfortável para o governo Merz:

  • O Conselho Alemão de Especialistas Econômicos reduziu a previsão de crescimento para 2026 e projeta apenas crescimento modesto nos próximos anos, apesar dos anúncios de estímulos.
  • A avaliação predominante é que o pacote de gastos do governo terá impacto limitado sobre o PIB, sem uma virada decisiva no curto prazo.

Em resposta, o governo anunciou medidas como subsídios a preços de energia para a indústria pesada, na tentativa de aliviar custos e segurar empregos no setor manufatureiro — um dos pilares históricos da economia alemã.

Mesmo assim, cresce a percepção de que a Alemanha corre o risco de perder espaço para outras economias, tanto dentro da Europa quanto no cenário global, em especial em áreas de inovação, tecnologia verde e competitividade industrial.

Popularidade em queda: o recado das pesquisas

A deterioração econômica e a falta de resultados claros começam a se refletir diretamente na popularidade do chanceler. Diversas pesquisas recentes apontam para um desgaste acelerado da imagem de Friedrich Merz:

  • Em levantamento divulgado no fim de outubro, apenas cerca de 25% dos alemães declararam-se satisfeitos com seu trabalho, enquanto mais de 70% se disseram insatisfeitos — o pior índice desde a formação do governo.
  • Outra pesquisa mais recente indica que só uma minoria, algo em torno de 16% a 20% dos eleitores, apoiaria uma nova candidatura de Merz para as próximas eleições, reforçando a percepção de fragilidade política.

Ao mesmo tempo, a extrema-direita consegue canalizar parte do descontentamento:

  • Em sondagens de opinião, a AfD chega a ultrapassar ou se aproximar da CDU/CSU em intenção de voto, especialmente em regiões do leste alemão e em áreas mais afetadas pela crise econômica.

Esse quadro pressiona a coalizão de governo, que passa a lidar não apenas com a oposição parlamentar tradicional, mas também com o risco de erosão do seu próprio eleitorado conservador.

Migração, segurança e identidade política

Outro ponto central do desgaste de Merz é o tema da migração. Durante a campanha, o chanceler prometeu reduzir a migração irregular e reforçar o controle de fronteiras, tentando responder a uma preocupação presente em parte do eleitorado alemão.

Na prática, porém:

  • Setores mais conservadores consideram que o governo ainda não foi “duro o suficiente” na questão migratória;
  • Enquanto isso, setores progressistas e organizações de direitos humanos criticam propostas mais restritivas, alegando risco de violação de direitos fundamentais e estigmatização de imigrantes.

O resultado é um equilíbrio difícil: Merz tenta se manter firme no discurso de ordem e controle, sem romper completamente com a tradição alemã de acolhimento e integração. Mas, politicamente, essa postura parece não satisfazer nem a base mais à direita nem o centro moderado, alimentando a sensação de que o governo está “no meio do caminho”.

Política externa: entre liderança europeia e limitações internas

No plano externo, Merz busca afirmar a Alemanha como potência-chave da Europa, comprometida com a segurança do continente e com o apoio à Ucrânia. A agenda externa também inclui:

  • Defesa do reforço militar, com promessa de tornar as Forças Armadas alemãs mais robustas;
  • Esforços para diversificar parceiros comerciais, reduzindo a dependência de mercados tradicionais e respondendo a tensões com os Estados Unidos e a China;
  • Participação ativa em debates sobre a segurança europeia e o futuro da OTAN.

No entanto, a capacidade da Alemanha de exercer liderança internacional depende, em grande parte, da solidez interna — tanto econômica quanto política. A percepção de crise prolongada, somada à queda de popularidade do governo, limita o espaço de manobra de Merz e pode reduzir seu peso nas negociações europeias.

Coalizão sob pressão e risco de impasse político

A fragilidade do governo também se manifesta nas relações dentro da própria coalizão. Relatos na imprensa europeia e análises de bastidores apontam para:

  • Divergências sobre a intensidade e o formato de pacotes de estímulo econômico;
  • Disputas internas em torno de prioridades orçamentárias, especialmente em defesa, clima, infraestrutura e política social;
  • Clima de desconfiança entre lideranças partidárias, preocupado com o impacto eleitoral do desgaste do governo.

Esse ambiente aumenta o risco de paralisia decisória: cada reforma estruturante – seja no mercado de trabalho, na transição energética ou na digitalização da economia – exige negociações complexas, que podem ser travadas por interesses divergentes dentro da própria base aliada.

O que está em jogo para a Alemanha e para a Europa

A crise de confiança em torno do governo Merz não é apenas um problema doméstico. A Alemanha desempenha um papel central na União Europeia, tanto em decisões econômicas quanto em temas como:

  • Política fiscal e regras orçamentárias;
  • Resposta à guerra na Ucrânia;
  • Transição energética e metas climáticas;
  • Reformas institucionais da UE e ampliação do bloco.

Se a Alemanha permanecer presa a um ciclo de crescimento fraco, instabilidade política interna e avanço da extrema-direita, a própria capacidade da UE de agir de forma coesa e ambiciosa pode ser afetada. Em outras palavras, o desempenho do governo Merz terá reflexos para além das fronteiras alemãs.

Conclusão: governo em teste, confiança em disputa

Seis meses depois da posse, o governo de Friedrich Merz passa por um primeiro grande teste. A combinação de:

  • economia fraca,
  • dificuldades para implementar reformas,
  • conflitos dentro da coalizão,
  • e queda acentuada na popularidade

cria um cenário de incerteza sobre a capacidade do chanceler de retomar a iniciativa política.

Ao mesmo tempo, o avanço da extrema-direita e o desânimo de parte do eleitorado tradicionalmente moderado mostram que o espaço político da centro-direita está sob disputa.

Nos próximos meses, Merz terá de provar que consegue transformar promessas em resultados concretos, especialmente na economia e na gestão da migração. Caso contrário, a Alemanha pode ver intensificar-se não apenas a crise de confiança em seu governo, mas também um realinhamento mais profundo de seu sistema político – com impactos diretos na Europa como um todo.

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