Acordo comercial entre EUA e Coreia do Sul emperra por impasse sobre submarinos

Donald Trump durante reunião sobre o acordo comercial entre EUA e Coreia do Sul.
Negociações entre EUA e Coreia do Sul enfrentam impasse devido a divergências sobre a construção de submarinos.

O acordo comercial entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul, anunciado como praticamente concluído pelo presidente norte-americano Donald Trump, enfrenta um obstáculo inesperado: a questão da construção de submarinos. Segundo fontes diplomáticas citadas pela Reuters, o avanço do tratado depende de detalhes técnicos e estratégicos relacionados a esse componente sensível da cooperação bilateral.

Embora o pacto tenha sido inicialmente concebido como uma ampliação das relações econômicas e industriais entre os dois países, o impasse sobre os submarinos transformou o acordo em uma negociação de segurança e influência militar, refletindo o contexto cada vez mais tenso da região Ásia-Pacífico.

Um acordo com implicações além do comércio

De acordo com a Reuters, o governo de Trump pretende usar o novo acordo com Seul para reforçar a presença industrial americana e aprofundar a cooperação militar com aliados estratégicos da região. No entanto, a Coreia do Sul busca preservar autonomia tecnológica e controle sobre sua própria capacidade de defesa naval, especialmente em projetos de submarinos de propulsão avançada.

Os dois países já cooperam há décadas no setor militar, mas o novo pacote incluiria cláusulas sobre transferência de tecnologia sensível e produção conjunta de armamentos navais, áreas em que a Coreia do Sul tem se mostrado cada vez mais competitiva no mercado global de defesa.

Especialistas afirmam que, embora o acordo tenha sido apresentado como comercial, sua dimensão estratégica é inegável. Ao envolver a construção de submarinos, a negociação passa a ter implicações diretas na segurança marítima regional, um tema sensível para potências como China e Japão, que acompanham de perto qualquer expansão militar americana no Pacífico.

A disputa por influência no Indo-Pacífico

A tensão diplomática entre Washington e Pequim tem impulsionado uma nova corrida armamentista silenciosa na região. Os EUA vêm fortalecendo alianças militares tradicionais — como Japão, Austrália e Filipinas — e buscando novos arranjos bilaterais com parceiros estratégicos, como a Coreia do Sul e a Índia.

Para Trump, a ampliação das parcerias no Indo-Pacífico é essencial para contrabalançar a influência da China, cuja frota naval e poder industrial cresceram significativamente na última década. Nesse contexto, a cooperação com Seul ganha importância não apenas econômica, mas geopolítica e militar.

A Coreia do Sul, por sua vez, busca equilibrar sua posição entre aliança com Washington e estabilidade regional com Pequim, seu maior parceiro comercial. Esse equilíbrio delicado explica parte da cautela de Seul em aceitar termos que possam ser interpretados como uma escalada militar direta contra a China.

Submarinos: o ponto sensível da negociação

O foco da divergência está na participação americana em projetos de submarinos sul-coreanos, que incluem tecnologias de propulsão convencional avançada e mísseis de cruzeiro. Washington tem interesse em garantir que a produção e a exportação desses equipamentos estejam alinhadas com padrões de segurança e controle ocidentais, enquanto Seul busca expandir sua indústria de defesa de forma independente.

“Os submarinos são mais do que equipamentos militares — representam soberania tecnológica e influência regional”, afirma o analista militar sul-coreano Kim Tae-hyun, da Universidade de Hanyang. Segundo ele, qualquer interferência americana nesse setor é vista em Seul com “cautela estratégica”.

O tema também é delicado porque a Austrália e o Japão, aliados dos EUA, têm projetos navais próprios com forte apoio de Washington, e o crescimento da indústria de defesa sul-coreana tem gerado competição entre aliados.

O fator China

Pequim observa de perto o avanço das negociações entre Washington e Seul. Para a China, a consolidação de um eixo militar mais robusto liderado pelos EUA na península coreana representa uma ameaça direta à sua influência no Mar da China Oriental e à segurança de suas rotas marítimas comerciais.

A diplomacia chinesa tem apelado por “moderação e diálogo”, mas os observadores apontam que a disputa vai além da retórica. A modernização das marinhas asiáticas e o aumento da presença militar americana no Indo-Pacífico mostram que o equilíbrio regional está se tornando cada vez mais frágil.

Um impasse com alcance global

Enquanto o impasse persiste, as delegações de ambos os países continuam em contato para resolver os detalhes do acordo. A Casa Branca, por meio de um comunicado breve, declarou que as negociações estão “em estágio avançado” e que Trump “espera anunciar um acordo histórico em breve”. Fontes em Seul, porém, afirmam que ainda faltam pontos técnicos e industriais sensíveis a resolver.

Economistas sul-coreanos alertam que um atraso prolongado nas negociações pode afetar investimentos bilaterais e projetos de cooperação tecnológica, além de impactar o comércio regional em setores como semicondutores, defesa e energia.

Conclusão

O impasse sobre os submarinos no acordo entre Estados Unidos e Coreia do Sul mostra como a geopolítica se entrelaça com a economia na região Ásia-Pacífico. O que começou como uma parceria comercial está se transformando em um teste de confiança estratégica, em meio à rivalidade crescente entre Washington e Pequim.

Para os EUA, trata-se de reforçar alianças e conter a China. Para a Coreia do Sul, é a tentativa de preservar autonomia e equilíbrio regional. E para o restante da Ásia, o resultado dessas negociações pode redefinir o mapa de poder naval e tecnológico do Pacífico nas próximas décadas.

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