Alemanha envia seu ministro das Finanças à China para aliviar tensões comerciais e reforçar cadeia estratégica

Ministro das Finanças da Alemanha, Lars Klingbeil, participa de coletiva de imprensa no Bundestag, em Berlim, novembro de 2025.
Lars Klingbeil, ministro das Finanças e co-líder do SPD, durante coletiva no Bundestag, refletindo o papel central da Alemanha em negociações econômicas e políticas.

A visita de Lars Klingbeil, vice‑chanceler e ministro das Finanças da Alemanha, à China em meados de novembro de 2025 marca um momento de realinhamento nas relações econômicas entre Berlim e Pequim. Com uma pauta densa — que inclui desde competitividade industrial até dependência de matérias-primas críticas —, a missão reflete a crescente preocupação alemã com os riscos de supply chain e a urgência de um diálogo estratégico em um momento de instabilidade global.

Contexto da visita

Klingbeil desembarcou em Pequim para participar do 4º Diálogo Financeiro de Alto Nível entre China e Alemanha, em encontro com o vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng.
A delegação alemã não vinha apenas com diplomatas: estavam presentes também representantes de bancos importantes como Deutsche Bank, seguradoras, e o presidente do Bundesbank, Joachim Nagel. O momento é simbólico: é a primeira visita de um ministro do novo governo de coalizão a Pequim, numa tentativa clara de restabelecer canais de diálogo num cenário geopolítico cada vez mais tenso.

Principais preocupações alemãs

Matérias-primas estratégicas

Um dos pontos centrais da missão de Klingbeil é o acesso a terras raras, elementos fundamentais para a produção de carros elétricos, turbinas eólicas, semicondutores e outras tecnologias de ponta.
A Alemanha teme que restrições chinesas a essas exportações prejudiquem sua capacidade industrial e tecnológica.

Excesso de capacidade na China

Klingbeil criticou a superprodução chinesa em setores como aço e mobilidade elétrica.
Segundo ele, esse excesso de oferta desequilibra o mercado e representa uma ameaça para os empregos na indústria alemã.

Competição justa

Segundo Klingbeil, “a competição não nos assusta, mas deve ser justa”. Ele apelou por condições de concorrência equilibradas e por um sistema comercial global baseado em regras claras.
Além disso, ele reforçou a importância de responsabilização mútua entre as nações para garantir um comércio sustentável.

Segurança econômica e estratégica

A dependência alemã de cadeias de fornecimento chinesas é vista como um risco estratégico. A visita de Klingbeil também deve servir para “reavaliar” a política comercial de Berlim em relação à China, especialmente em setores “relevantes para a segurança”, como infraestrutura crítica.
Há no governo alemão uma sensação crescente de que o relacionamento econômico com a China não pode ser tratado apenas como negócio, mas também como uma questão de soberania industrial.

Papel da China na Ucrânia

Além da economia, Klingbeil pretende levantar durante os diálogos o papel de Pequim no conflito russo-ucraniano. Em discursos, ele afirmou que a China “pode desempenhar um papel-chave na busca por uma solução para a guerra”.
Essa menção indica que Berlim enxerga a relação com a China não apenas como comercial, mas também como estratégica para a segurança europeia.

Riscos e oportunidades

Riscos:

  • Dependência excessiva: A Alemanha corre o risco de tornar-se vulnerável caso a China restrinja exportações estratégicas.
  • Pressão política interna: Partidos e setores industriais já pedem uma revisão da política chinesa de Berlim, inclusive com comissão parlamentar para avaliar “relações comercialmente sensíveis”.
  • Tensão diplomática: A mistura entre temas econômicos e de segurança pode complicar negociações, mesmo com a retórica de cooperação.

Oportunidades:

  • Redução da fragilidade na cadeia de suprimentos: Um acordo favorecendo acesso a matérias-primas permitiria à Alemanha fortalecer sua indústria de tecnologia verde.
  • Diálogo institucionalizado: O Diálogo Financeiro de Alto Nível pode se tornar uma plataforma permanente para tratar dos desequilíbrios bilaterais.
  • Liderança europeia: Ao defender um comércio global baseado em regras, a Alemanha reforça seu papel de liderança na União Europeia e no sistema multilateral.

Conclusão

A missão de Lars Klingbeil a Pequim representa mais do que uma viagem diplomática econômica — é uma estratégia alemã para recalibrar sua dependência da China e assegurar sua competitividade industrial. Com a escolha de levar não apenas diplomatas, mas também lideranças do setor financeiro, a visita sinaliza que Berlim busca consolidar um relacionamento complexo: cooperativo, mas crítico.

Enquanto a Alemanha pressiona por acesso a recursos estratégicos e redução de supercapacidade chinesa, também demonstra disposição para manter o diálogo, mesmo em meio a riscos de segurança. No fundo, a missão revela a nova cara da política externa alemã: menos ingênua, mais pragmática, voltada para proteger seus interesses industriais, mas também para influenciar no cenário geopolítico global.

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