Crescimento da Ásia do Sul: entre a dinamização e os riscos

Gráfico do Banco Mundial mostrando a projeção de crescimento do PIB da Ásia do Sul em 2025 e 2026, destacando desaceleração de 6,6% para 5,8%.
Projeção de crescimento da Ásia do Sul segundo o Banco Mundial: 6,6% em 2025 e 5,8% em 2026.

Segundo o relatório South Asia Development Update – April 2025 do Banco Mundial, a região da Ásia do Sul está projetada para ter uma taxa de crescimento de cerca de 6,6% em 2025, e em seguida uma desaceleração para 5,8% em 2026.

Ainda que permaneça a mais rápida entre as regiões emergentes e em desenvolvimento, esta queda projetada representa um alerta quanto à sustentabilidade do ritmo de crescimento e aos desafios estruturais da região.

O que está por trás dos números

Motivos para o desempenho ainda elevado

  • A Ásia do Sul se beneficia de uma base demográfica jovem: milhões de pessoas ingressam no mercado de trabalho anualmente.
  • Certos países da região têm conseguido crescer de forma relativamente robusta em segmentos como serviços e infraestrutura, mitigando parcialmente choques externos.
  • Em contextos de ritmo de crescimento mais lento globalmente, ainda assim a região mantém vantagem comparativa no crescimento de PIB real.

Fatores de risco que puxam a projeção para baixo

O Banco Mundial identifica diversos vetores de risco que pressionam o crescimento regional. Entre eles:

  • Enfraquecimento da economia global: menor demanda externa, interrupções em cadeias de valor, e custos mais elevados para financiamento de investimento.
  • Incertezas nas políticas de comércio: barreiras comerciais, tarifas elevadas, menor integração em cadeias produtivas regionais.
  • Distúrbios no mercado de trabalho frente às tecnologias emergentes como IA: embora a exposição da força de trabalho da Ásia do Sul à substituição por IA seja menor que em outras regiões, uma parcela elevada dos empregados está em funções com forte complementaridade à IA, o que impõe desafios de qualificação e mobilidade laboral.
  • Fragilidade fiscal e limitação de recursos públicos: muitos países da região operam com margens fiscais estreitas, o que restringe a capacidade de resposta a choques.
  • Vulnerabilidades climáticas e estruturais: eventos naturais extremos, degradação ambiental, infraestrutura deficiente, baixa participação feminina no mercado de trabalho.

Implicações para a região e para o mundo

Para a própria Ásia do Sul

  • Mesmo com crescimento de ~6 % ao ano, a região ainda enfrenta um “dividendo demográfico” que pode não se concretizar se o emprego jovem e a produtividade não acompanharem.
  • A desaceleração projetada para 5,8% em 2026 sinaliza que, sem reformas, o crescimento tende a se aproximar de níveis menos dinâmicos e com menor geração de emprego de qualidade.
  • A combinação de crescimento mais lento + população trabalhadora em expansão exige que os países invistam com maior eficácia em educação, qualificação, conectividade digital, infraestrutura e reformas no mercado laboral.
  • A maior exposição à riscos externos (comércio, finanças, tecnologia) significa que políticas domésticas bem calibradas serão ainda mais determinantes para manter a trajetória.

Para a economia global

  • A Ásia do Sul concentra bilhões de pessoas e representa um dos grandes polos de crescimento mundial — sua desaceleração tem reverberações para cadeias globais de abastecimento, para a demanda por matérias-primas e manufaturados, e para mercados emergentes em geral.
  • Menor crescimento na região pode significar um freio adicional à recuperação global, sobretudo se combinar com desafios em outras economias emergentes.
  • A aposta tecnológica e de integração comercial que a região busca torna-se relevante para investidores globais e para países que consideram a Ásia do Sul como parceiro estratégico (exemplo: comércio, infraestrutura, tecnologia).

Caminhos possíveis para reverter ou mitigar a desaceleração

Reformas de comércio e integração

O relatório destaca que “reformas comerciais cuidadosamente sequenciadas” — como cortes graduais de tarifas e acordos de livre-comércio — podem atrair investimento privado e gerar empregos em setores orientados ao comércio.
Promover maior participação nas cadeias globais de valor e integração regional pode ajudar a compensar a desaceleração da demanda externa.

Qualificação da força de trabalho e adoção de tecnologia

Dado o impacto crescente de tecnologias como IA, automação e digitalização, há duas frentes:

  • Aumentar a qualificação e habilidades da mão de obra para funções complementares à IA.
  • Melhorar infraestrutura digital, acesso à internet, eletricidade confiável — condições essenciais para que benefícios de produtividade se concretizem na região.
    Essas medidas são urgentes especialmente porque muitos empregos na região ainda são de baixa qualificação ou informalidade elevada.

Mobilização de receitas e fortalecimento fiscal

A capacidade dos governos de investir em infraestrutura, educação, saúde e conectividade depende de sua base fiscal. O relatório destaca que muitos países da região arrecadam menos do que poderiam e que há espaço para melhorias de eficiência na arrecadação.
Governos com margens fiscais mais amplas estão em melhor posição para reagir a choques e fomentar crescimento inclusivo.

Investimento em infraestrutura e adaptação às mudanças climáticas

Dada a vulnerabilidade da região a eventos extremos (inundações, secas, tempestades), melhorar infraestrutura resiliente (estradas, portos, energia, telecomunicações) e promover agricultura e cadeias produtivas “climate-smart” são estratégias chave. Banco Mundial
Isso não só contribui para crescimento, mas também para reduzir riscos que poderiam comprometer ganhos.

Desafios para implantação

  • As reformas de comércio, mercado de trabalho e fiscal são políticas sensíveis do ponto de vista político: afetam setores protegidos, requerem coordenação interinstitucional e frequentemente envolvem custos de transição (por exemplo, realocação de trabalhadores).
  • A informalidade elevada de muitos mercados de trabalho da Ásia do Sul dificulta tanto o aumento da produtividade quanto a tributação eficiente. O relatório menciona que a região ainda tem uma parcela significativa de trabalhadores em empregos informais.
  • A desaceleração global e as incertezas externas limitam o espaço de manobra doméstico: por exemplo, se a exportação ou o investimento externo caem, a região depende mais de estímulos internos.
  • A transição para maior uso de tecnologia, ainda que promissora, exige que parte substancial da população esteja preparada — infraestrutura, educação e internet são precondições que ainda precisam ser reforçadas.

Cenário futuro: duas curvas possíveis

  • Cenário otimista: Se os países da Ásia do Sul conseguirem acelerar reformas comerciais, ampliar a qualificação dos trabalhadores, e mobilizar recursos para investir em infraestrutura resiliente, então mesmo que o ritmo de crescimento caia em termos percentuais, poderá haver ganhos reais em produtividade, geração de empregos de qualidade e convergência econômica mais forte.
  • Cenário de risco: Caso reformas permaneçam lentas ou sejam adiadas, o crescimento poderá não apenas desacelerar, mas se estabilizar em níveis que não permitam avanços estruturais significativos — o que implicaria menor progresso em redução de pobreza, menor melhoria em renda per capita e maior vulnerabilidade a choques externos.

Considerações finais

O fato de uma região com a dinâmica da Ásia do Sul — com bilhões de habitantes, juventude abundante e potencial de crescimento — ver sua previsão reduzida para ~5,8% no próximo ano (2026) é motivo de alerta, mas não de pessimismo absoluto. Atingir ~6% ainda representa um desempenho mais rápido que muitas grandes economias mundiais. No entanto, o timing das reformas, a qualidade do crescimento (empregos, produtividade) e a resiliência a choques externos passam a ser determinantes.

Para canais de cobertura sobre geopolítica e economia, como o seu site, esse é um tema que vale acompanhar de perto — pois reúne diversos vetores de conexão: política comercial global, tecnologia, demografia, mercados de trabalho, investimento em infraestrutura e vulnerabilidades climáticas. Especialmente quando consideramos que grandes players globais observam a Ásia do Sul não apenas como produtor ou mercado, mas como alicerce de cadeias produtivas e de competição geoestratégica.

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