Bahrain e Chipre firmam acordo de segurança — um marco estratégico no Mediterrâneo Oriental e Golfo Pérsico

Palácio Presidencial de Chipre em Nicosia, edifício oficial da presidência com arquitetura moderna e fachada branca.
O Palácio Presidencial de Nicosia, sede do governo de Chipre e símbolo da autoridade presidencial no país.

Nos últimos anos, as relações entre Bahrain e Chipre vêm se intensificando. Em abril de 2025, o ministro das Relações Exteriores chipriota Constantinos Kombos realizou sua primeira visita oficial ao reino do Bahrain, reunindo‑se com o ministro bahreinita das Relações Exteriores Abdullatif bin Rashid Al Zayani em Manama. O encontro abordou não apenas temas econômicos e diplomáticos, mas também segurança marítima, estabilidade regional e o papel de Chipre como interlocutor no Mediterrâneo‑Oriente Médio.

Paralelamente, os dois países já haviam assinado acordos em áreas como aviação, transporte marítimo e combate ao crime organizado. Por exemplo, o site oficial das Leis de Bahrain mostra que existe um “Agreement between the Government of the Kingdom of Bahrain and the Government of the Republic of Cyprus concerning Cooperation in Combating Terrorism, Organized Crime, Trafficking in Narcotic Drugs …” ratificado em 2018.

Esse novo acordo, anunciado como “histórico”, insere‑se num esforço mais amplo de ambos os países para expandir as suas alianças além dos tradicionais compromissos regionais — e de se posicionar de forma estratégica tanto no Golfo como no Mediterrâneo Oriental.

O que sabemos até agora

Embora o anúncio tenha sido descrito como um “acordo histórico de segurança” entre o Conselho Supremo de Defesa de Bahrein (Bahrain) e a Secretaria Nacional de (Chipre) — embora não tenha sido detalhado publicamente o texto completo —, podemos inferir os seguintes elementos e motivações:

Principais elementos esperados

  • Cooperação em segurança marítima: ambos os países possuem interesse em rotas marítimas estratégicas — o Bahrain no Golfo/Pérsia, Chipre no Mediterrâneo Oriental. O acordo provavelmente contempla patrulha, intercâmbio de inteligência e resposta conjunta a ameaças marítimas.
  • Troca de informações de inteligência e combate ao crime transfronteiriço ou organizado: já existe o acordo de 2018 que cobre terrorismo, tráfico de drogas e migração irregular. É provável que esse novo acordo expanda ou reforce tal cooperação.
  • Potencial para treinamento e suporte logístico/operacional: Chipre possui centros de coordenação de busca e salvamento (JRCC) e experiência em operações marítimas no Mediterrâneo; Bahrain vê acréscimo de valor ao se associar a essas capacidades.
  • Uma dimensão diplomática/geopolítica: ao assinar esse tipo de pacto fora da sua vizinhança imediata, Bahrain sinaliza que está construindo pontes com a Europa/mediterrâneo; Chipre, por sua vez, amplia sua rede de parceiros no Golfo.

Motivações estratégicas

  • Para o Bahrain: diversificar alianças além do eixo Golfo‑Árabe, aumentar sua relevância como hub regional de segurança e logística; reforçar frente às tensões regionais (Irã, Golfo, Red Sea) e proteger suas rotas marítimas.
  • Para Chipre: aproveitar sua localização geoestratégica no Mediterrâneo Oriental, avançar sua política externa diversificada, reforçar credibilidade de parceiro de segurança e logística — especialmente relevante à medida que assume protagonismo europeu no mar Mediterrâneo.
  • Para ambos: construir um “capítulo de segurança” que complemente os laços econômicos, comerciais e diplomáticos crescentes — e que pode oferecer sinergia com iniciativas de conectividade (por exemplo o corredor Índia‑Oriente Médio‑Europa que foi citado nas conversas de abril de 2025).

Impactos regionais e implicações geopolíticas

Esse acordo aparenta ter várias implicações mais amplas:

  • Fortalecimento da rede de alianças no Mediterrâneo‐Golfo: historicamente, os Estados do Golfo estabeleceram laços com potências mediterrâneas (EUA, Turquia, Egito, Grécia), mas essa parceria Bahrain‑Chipre destaca um movimento transversal: Golfo ➜ Mediterrâneo Oriental.
  • Competição e equilíbrio de poder: A região do Mediterrâneo Oriental e do Golfo é por si só palco de tensões — Irã vs. Arábia Saudita, Turquia vs. Grécia/Chipre, transporte marítimo no Estreito de Hormuz ou no Mediterrâneo Oriental. Um acordo desse tipo atua como mecanismo de “hedge” (cobertura) para ambos os países, reforçando suas opções.
  • Conectividade e logística: Chipre já aparece como parceiro em iniciativas de transporte e logística (Ex: conectividade portuária, salvamento marítimo) e Bahrain deseja se posicionar como hub de tráfego marítimo e aéreo no Golfo. O acordo pode portanto facilitar corredores de comércio e fluxos de energia/infraestrutura.
  • Sinal à Europa e ao Golfo: Para Chipre, como membro da União Europeia, esse tipo de colaboração mostra que está ativa na segurança regional para além do âmbito europeu estrito. Para o Bahrain, indica que seu foco estratégico vai além do Golfo imediato e inclui parcerias mediterrâneas — o que pode reduzir isolamento ou dependência só de vizinhança.

Conclusão

O pacto entre o Bahrain e Chipre representa um passo significativo na diplomacia e na arquitetura de segurança do Mediterrâneo Oriental e do Golfo Pérsico. Ele sinaliza que países menores, mas geoestrategicamente posicionados, estão construindo redes de cooperação que atravessam regiões tradicionais.

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