O governo da Bélgica convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional nesta quinta-feira, após uma série de avistamentos de drones não identificados próximos a aeroportos civis e bases militares no país. O caso gerou preocupação em Bruxelas e reacendeu o debate sobre segurança aérea e espionagem estrangeira na Europa.
Autoridades belgas afirmaram que os incidentes ocorreram em diferentes regiões do país, incluindo áreas próximas ao aeroporto de Bruxelas e à base aérea de Kleine-Brogel, que abriga forças da OTAN. Embora ainda não haja confirmação oficial sobre a origem dos aparelhos, fontes de segurança europeias indicaram a suspeita de envolvimento de um “Estado ativo”, com a Rússia entre os principais alvos de investigação.
Preocupação crescente com segurança aérea e militar
Os relatos começaram no início da semana, quando controladores de tráfego aéreo detectaram movimentos incomuns de objetos não tripulados em rotas próximas a zonas de exclusão aérea. O Ministério da Defesa belga confirmou que as Forças Armadas foram acionadas para monitorar e rastrear possíveis incursões, em cooperação com a Força Aérea dos Países Baixos, parceira no comando aéreo conjunto Benelux.
De acordo com o porta-voz do governo belga, a reunião do Conselho de Segurança teve como foco avaliar possíveis riscos à infraestrutura crítica, como aeroportos, centrais elétricas e instalações da OTAN, além de discutir medidas de reforço da vigilância e defesa aérea.
Um dos principais pontos de preocupação é a possibilidade de espionagem ou sabotagem tecnológica, especialmente diante do contexto de tensões geopolíticas na Europa após a guerra na Ucrânia e o aumento das atividades de inteligência russa em território europeu.
Suspeitas de ação estrangeira e o papel da Rússia
Embora o governo belga evite apontar diretamente culpados, a hipótese de envolvimento russo vem sendo discutida em bastidores diplomáticos. Nos últimos meses, diversos países europeus, incluindo Suécia, Finlândia, Dinamarca e Reino Unido, relataram incidentes semelhantes de drones sobrevoando instalações estratégicas.
Esses episódios, segundo analistas de defesa, podem fazer parte de uma estratégia híbrida usada por Moscou para coletar informações, testar respostas e gerar incerteza em países aliados da OTAN.
De acordo com o especialista em segurança europeia Jean-Paul van Hove, da Universidade de Lovaina, “as incursões com drones têm se tornado uma forma de guerra invisível. Elas servem tanto para observação quanto para medir a prontidão de resposta dos aliados ocidentais. Mesmo sem ataques diretos, causam desgaste e tensão constante”.
Reação de Bruxelas e aliados da OTAN
A Bélgica, que abriga a sede da OTAN e da União Europeia, tem importância estratégica dentro da arquitetura de segurança europeia. Por isso, qualquer incidente aéreo em seu território é tratado como assunto de alta prioridade internacional.
Fontes do Ministério da Defesa informaram que o Centro de Operações Aéreas da OTAN em Uedem, na Alemanha, foi notificado e acompanha a situação em tempo real. Além disso, Bruxelas deve solicitar reforço de cooperação técnica com os serviços de inteligência da França, Alemanha e Países Baixos, visando identificar padrões nos voos e possíveis pontos de controle remoto dos drones.
Em nota, o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, declarou que “a segurança nacional e a integridade do espaço aéreo são inegociáveis” e que o governo “não tolerará nenhuma violação deliberada de soberania”.
Contexto europeu: aumento de incursões aéreas não identificadas
O caso belga se soma a uma série de episódios recentes que preocupam governos europeus. Em 2024 e 2025, foram registradas múltiplas incursões de drones não identificados próximos a infraestruturas energéticas e militares em países nórdicos, especialmente em torno de oleodutos, portos e bases da OTAN.
Esses incidentes levaram a União Europeia a propor uma nova diretiva de segurança aérea, que estabelece padrões mínimos de monitoramento e resposta para aeronaves não tripuladas. O objetivo é fortalecer a defesa conjunta e reduzir a vulnerabilidade a operações de espionagem.
Além do aspecto militar, há também riscos civis: aeroportos europeus têm relatado aumento de interferências e atrasos causados por drones operando ilegalmente em zonas restritas.
Impactos políticos e estratégicos
A reunião de emergência do Conselho de Segurança da Bélgica ocorre em um momento delicado para a Europa, que busca equilibrar apoio à Ucrânia e gestão de ameaças híbridas dentro de seu território.
Analistas avaliam que o episódio pode acelerar investimentos em tecnologia anti-drones e em sistemas integrados de radar e defesa aérea, além de reforçar o debate sobre autonomia estratégica europeia.
Segundo o Instituto Egmont de Relações Internacionais, sediado em Bruxelas, “esses eventos revelam a urgência de uma política europeia comum de segurança aérea. A fragmentação atual dificulta respostas coordenadas a ameaças que ultrapassam fronteiras nacionais”.
Conclusão
Os avistamentos de drones na Bélgica, ainda sob investigação, expõem a vulnerabilidade das infraestruturas europeias diante de ameaças tecnológicas e híbridas. Mais do que incidentes isolados, eles simbolizam uma nova fase dos desafios de segurança no continente — marcada por operações discretas, desinformação e espionagem digital.
Com a Bélgica no centro político e militar da Europa, a resposta de Bruxelas será observada de perto por todos os membros da OTAN e da União Europeia. A eficácia dessa reação pode definir o nível de confiança e coordenação europeia em face das novas formas de conflito do século XXI.

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