A Bolívia se prepara para um momento histórico. No dia 19 de outubro de 2025, o país realizará o primeiro segundo turno presidencial de sua história democrática. O pleito marca uma virada política após quase duas décadas de hegemonia do Movimiento al Socialismo (MAS), partido que dominou a cena nacional sob as lideranças de Evo Morales e Luis Arce.
Com o MAS fora da disputa, a população terá que escolher entre dois projetos diferentes de futuro: o centrista Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), e o conservador Jorge “Tuto” Quiroga, da Alianza Libre. Ambos representam, de formas distintas, a promessa de mudança — mas com caminhos e custos muito diferentes.
Quem são os candidatos
| Candidato | Partido | Ideologia | Perfil | Resultado no 1º turno | Principais propostas |
|---|---|---|---|---|---|
| Rodrigo Paz Pereira | Partido Democrata Cristão (PDC) | Centro / Liberal Moderado | Ex-prefeito de Tarija e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora. Defende diálogo e estabilidade. | 32% dos votos válidos | Reformas graduais, incentivo ao setor privado, combate à corrupção e preservação de políticas sociais. |
| Jorge “Tuto” Quiroga | Alianza Libre | Direita Conservadora | Ex-presidente interino (2001–2002), economista liberal. | 27% dos votos válidos | Privatizações, cortes de subsídios e reaproximação com FMI e investidores estrangeiros. |
Como foi o primeiro turno das eleições na Bolívia
O primeiro turno presidencial da Bolívia, realizado em 22 de setembro de 2025, marcou um dos pleitos mais disputados da história recente do país. O centrista Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (PDC), surpreendeu ao liderar a votação com 32% dos votos válidos, enquanto o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, da Alianza Libre, ficou em segundo lugar com 27%.
O grande destaque, porém, foi o fracasso histórico do Movimiento al Socialismo (MAS), que conquistou apenas 18%, ficando fora do segundo turno pela primeira vez desde 2005. A candidatura de María Nela Prada, apoiada por Luis Arce, não conseguiu reverter o desgaste do governo e a divisão interna do partido.
Outros candidatos, como Samuel Doria Medina (Unidad Nacional) e Luis Fernando Camacho (Creemos), obtiveram 10% e 7%, respectivamente, e agora são vistos como potenciais aliados nas alianças para o segundo turno.
A taxa de participação foi alta, atingindo 84% do eleitorado, reflexo da polarização e da sensação de “mudança inevitável” entre os bolivianos.
Resultado oficial do 1º turno
| Candidato | Partido | Percentual de votos |
|---|---|---|
| Rodrigo Paz Pereira | Partido Democrata Cristão (PDC) | 32% |
| Jorge “Tuto” Quiroga | Alianza Libre | 27% |
| María Nela Prada | Movimiento al Socialismo (MAS) | 18% |
| Samuel Doria Medina | Unidad Nacional | 10% |
| Luis Fernando Camacho | Creemos | 7% |
| Outros / Nulos / Brancos | — | 6% |
O cenário político e o desgaste do MAS
O Movimiento al Socialismo (MAS) dominou a política boliviana por quase vinte anos. Sob Evo Morales, o país viveu um período de crescimento sustentado, com redução da pobreza e ampliação dos direitos indígenas. No entanto, a desaceleração econômica, a inflação crescente e as denúncias de corrupção enfraqueceram o partido.
O sucessor de Morales, Luis Arce, enfrentou protestos e queda na popularidade. O modelo de forte intervenção estatal, sustentado por receitas do gás e do lítio, começou a se esgotar, levando o eleitorado a buscar alternativas.
Nesse contexto, Paz e Quiroga emergiram como os rostos da oposição — cada um oferecendo uma saída diferente da crise.
Comparativo das propostas
| Tema | Rodrigo Paz | Jorge “Tuto” Quiroga |
|---|---|---|
| Economia | Reforma fiscal gradual e estímulo à iniciativa privada, sem cortes bruscos nos programas sociais. | Ajuste fiscal rápido, privatizações e corte de subsídios. |
| Setor público | Redução moderada e foco em transparência. | Reestruturação ampla do Estado e auditorias em empresas estatais. |
| Recursos naturais (lítio e gás) | Exploração regulada com controle estatal parcial e foco em sustentabilidade. | Abertura total ao capital estrangeiro e flexibilização ambiental. |
| Programas sociais | Manutenção e revisão conforme o orçamento. | Reavaliação profunda, com possibilidade de cortes. |
| Política externa | Equilíbrio entre EUA, China e vizinhos sul-americanos. | Alinhamento mais firme com os EUA e organismos financeiros. |
Projeções econômicas pós-eleição
Economistas e instituições como o FMI e o BID avaliam que, qualquer que seja o vencedor, a Bolívia enfrentará ajustes necessários para conter o déficit fiscal e recuperar as reservas internacionais. Contudo, o ritmo e a intensidade dessas reformas variam de acordo com o projeto eleito.
| Cenário | Crescimento do PIB (2026) | Inflação prevista | Risco de instabilidade social | Relações externas |
|---|---|---|---|---|
| Vitória de Rodrigo Paz | 2,5 % a 3 % — crescimento moderado e sustentável | 6 % (queda gradual) | Baixo a médio — menor choque social | Relações equilibradas entre blocos regionais e potências |
| Vitória de Tuto Quiroga | 4 % a 4,5 % — crescimento acelerado por reformas liberais | 9 % a 10 % (alta inicial) | Médio a alto — risco de protestos e resistência sindical | Reaproximação com EUA e FMI |
A exploração do lítio — considerado o “ouro branco” da Bolívia — também será decisiva. Paz promete manter controle nacional sobre as reservas, enquanto Quiroga defende atrair grandes corporações internacionais para expandir a produção.
As regiões decisivas e o voto popular
As regiões ocidentais e indígenas, tradicionalmente ligadas ao MAS, poderão definir o resultado. Rodrigo Paz busca conquistar esse eleitorado com um discurso de respeito às conquistas sociais. Já Quiroga aposta em seu histórico administrativo e na promessa de “modernização imediata da economia”.
O apoio de candidatos menores, como Samuel Doria Medina, pode ser o fiel da balança. As últimas pesquisas apontam uma disputa apertada, com pequena vantagem para Paz nas áreas urbanas e liderança de Quiroga nas regiões empresariais do leste.
Desafios do próximo governo
Independentemente de quem vença, o novo presidente enfrentará quatro grandes desafios:
- Recuperar a economia, marcada por inflação e déficit fiscal.
- Restaurar a confiança institucional, abalada por denúncias de corrupção e instabilidade política.
- Atrair investimentos estrangeiros sem abrir mão da soberania sobre recursos estratégicos.
- Garantir coesão social, evitando que ajustes econômicos gerem protestos como os de 2019.
Conclusão
O segundo turno presidencial da Bolívia em 2025 representa mais do que uma disputa eleitoral: é um divisor de águas político e econômico.
Se Rodrigo Paz vencer, o país deve adotar um caminho de reformas graduais e estabilidade, buscando preservar conquistas sociais e reconstruir a confiança internacional.
Se Jorge “Tuto” Quiroga triunfar, a Bolívia poderá embarcar em uma mudança liberal profunda, com reformas rápidas, privatizações e maior integração ao mercado global — ainda que à custa de tensões sociais no curto prazo.
O resultado do dia 19 de outubro mostrará qual caminho a Bolívia está disposta a seguir: a transição cautelosa de Paz ou o choque liberal de Quiroga. Seja qual for o desfecho, a eleição já entrou para a história como o início de uma nova era política no coração da América do Sul.

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