Brasil–Rússia: entre diplomacia estratégica e dependência econômica

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e presidente Vladimir Putin em evento oficial em Moscou, maio de 2025
Lula e Putin durante as comemorações do Dia da Vitória em Moscou, maio de 2025. Reuters.

Conversa entre Lula e Putin ocorre em meio a ameaças de tarifas americanas sobre fertilizantes e combustíveis russos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve, no último sábado (9), uma conversa telefônica de cerca de 40 minutos com o presidente russo Vladimir Putin. Segundo nota oficial do Planalto, “o presidente Putin compartilhou informações a respeito de suas discussões em curso com os Estados Unidos e os recentes esforços pela paz entre Rússia e Ucrânia”.

Ainda segundo o comunicado, “Lula enfatizou que o Brasil sempre apoiou o diálogo e a busca de uma solução pacífica e reafirmou que o seu governo está à disposição para contribuir com o que for necessário”, inclusive no âmbito do BRICS.

O telefonema ocorre em um momento em que o Brasil se prepara para lidar com potenciais tarifas dos Estados Unidos sobre importações de diesel e fertilizantes vindos da Rússia — insumos que sustentam setores vitais da economia nacional.

Laços políticos e estratégicos

Desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem defendido uma política externa de “multipolaridade”, ampliando diálogo com potências fora do eixo tradicional liderado por EUA e União Europeia. A Rússia é peça central nessa estratégia, tanto pela cooperação política no BRICS quanto pelo fornecimento de produtos estratégicos.

O Planalto indicou que a conversa com Putin abordou também temas da agenda internacional, incluindo a situação na Ucrânia e a integração econômica dentro do bloco.

Economia: fertilizantes e energia no centro da pauta

O Brasil é altamente dependente de insumos russos. Em 2024, as importações de fertilizantes da Rússia chegaram a US$ 4,17 bilhões, tornando o país o maior fornecedor individual desses insumos para o mercado brasileiro — com participação em torno de 30–33% no total importado.

No caso do diesel, a escalada é ainda mais impressionante: de apenas US$ 95 milhões em 2022 para US$ 5,4 bilhões em 2024, segundo dados compilados pelo Financial Times.

O vice-presidente da Abicom, Sérgio Araujo, alertou: “A Rússia é um fornecedor importante de um produto [diesel] do qual somos altamente dependentes”. Já o senador Carlos Viana lembrou que “o Brasil compra grande quantidade de diesel e a maioria dos fertilizantes usados na produção agrícola”.

Dados visuais — Evolução das importações brasileiras da Rússia (2022–2024)

AnoFertilizantes (US$ bilhões)Diesel (US$ bilhões)
20220,095
2023~3,54,5
20244,175,4

Fontes: Trading Economics, UN Comtrade, Financial Times.

Entre a geopolítica e o pragmatismo

O dilema brasileiro é manter relações comerciais vantajosas com a Rússia — arriscando atritos com os EUA — ou ceder à pressão da maior potência econômica do Ocidente.

A estratégia atual do Itamaraty busca um ponto de equilíbrio: reforçar laços com parceiros do BRICS, manter a narrativa de defesa da soberania e, ao mesmo tempo, dialogar com Washington para mitigar impactos econômicos.

Cenário futuro

Com o aumento das tensões internacionais, a dependência do Brasil por insumos russos se torna um fator de vulnerabilidade estratégica. A conversa entre Lula e Putin vai além da diplomacia simbólica: é uma tentativa de proteger cadeias de suprimento críticas para a agricultura e a logística do país.

O futuro dirá se o Brasil conseguirá converter esse jogo diplomático em resiliência interna. O teste será constante — e cada tarifa, sanção ou crise global tornará o equilíbrio entre soberania política e segurança econômica mais difícil de manter.

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