
Conversa entre Lula e Putin ocorre em meio a ameaças de tarifas americanas sobre fertilizantes e combustíveis russos
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve, no último sábado (9), uma conversa telefônica de cerca de 40 minutos com o presidente russo Vladimir Putin. Segundo nota oficial do Planalto, “o presidente Putin compartilhou informações a respeito de suas discussões em curso com os Estados Unidos e os recentes esforços pela paz entre Rússia e Ucrânia”.
Ainda segundo o comunicado, “Lula enfatizou que o Brasil sempre apoiou o diálogo e a busca de uma solução pacífica e reafirmou que o seu governo está à disposição para contribuir com o que for necessário”, inclusive no âmbito do BRICS.
O telefonema ocorre em um momento em que o Brasil se prepara para lidar com potenciais tarifas dos Estados Unidos sobre importações de diesel e fertilizantes vindos da Rússia — insumos que sustentam setores vitais da economia nacional.
Laços políticos e estratégicos
Desde o início de seu terceiro mandato, Lula tem defendido uma política externa de “multipolaridade”, ampliando diálogo com potências fora do eixo tradicional liderado por EUA e União Europeia. A Rússia é peça central nessa estratégia, tanto pela cooperação política no BRICS quanto pelo fornecimento de produtos estratégicos.
O Planalto indicou que a conversa com Putin abordou também temas da agenda internacional, incluindo a situação na Ucrânia e a integração econômica dentro do bloco.
Economia: fertilizantes e energia no centro da pauta
O Brasil é altamente dependente de insumos russos. Em 2024, as importações de fertilizantes da Rússia chegaram a US$ 4,17 bilhões, tornando o país o maior fornecedor individual desses insumos para o mercado brasileiro — com participação em torno de 30–33% no total importado.
No caso do diesel, a escalada é ainda mais impressionante: de apenas US$ 95 milhões em 2022 para US$ 5,4 bilhões em 2024, segundo dados compilados pelo Financial Times.
O vice-presidente da Abicom, Sérgio Araujo, alertou: “A Rússia é um fornecedor importante de um produto [diesel] do qual somos altamente dependentes”. Já o senador Carlos Viana lembrou que “o Brasil compra grande quantidade de diesel e a maioria dos fertilizantes usados na produção agrícola”.
Dados visuais — Evolução das importações brasileiras da Rússia (2022–2024)
Ano | Fertilizantes (US$ bilhões) | Diesel (US$ bilhões) |
---|---|---|
2022 | — | 0,095 |
2023 | ~3,5 | 4,5 |
2024 | 4,17 | 5,4 |
Fontes: Trading Economics, UN Comtrade, Financial Times.
Entre a geopolítica e o pragmatismo
O dilema brasileiro é manter relações comerciais vantajosas com a Rússia — arriscando atritos com os EUA — ou ceder à pressão da maior potência econômica do Ocidente.
A estratégia atual do Itamaraty busca um ponto de equilíbrio: reforçar laços com parceiros do BRICS, manter a narrativa de defesa da soberania e, ao mesmo tempo, dialogar com Washington para mitigar impactos econômicos.
Cenário futuro
Com o aumento das tensões internacionais, a dependência do Brasil por insumos russos se torna um fator de vulnerabilidade estratégica. A conversa entre Lula e Putin vai além da diplomacia simbólica: é uma tentativa de proteger cadeias de suprimento críticas para a agricultura e a logística do país.
O futuro dirá se o Brasil conseguirá converter esse jogo diplomático em resiliência interna. O teste será constante — e cada tarifa, sanção ou crise global tornará o equilíbrio entre soberania política e segurança econômica mais difícil de manter.
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