China intensifica diplomacia na Europa: visita de Wang Yi à Itália e à Suíça marca nova fase nas relações sino-europeias

Wang Yi, ministro das Relações Exteriores da China, falando em uma conferência, usando terno escuro e gravata, gesticulando com a mão direita.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, durante conferência diplomática em 10 de janeiro de 2022.

A China deu mais um passo em sua ofensiva diplomática na Europa. O ministro das Relações Exteriores chinês, Wang Yi, iniciou neste domingo (5) uma visita oficial à Itália e à Suíça, em um momento de tensões comerciais crescentes entre Pequim e a União Europeia e de redefinição do equilíbrio geopolítico global.
A viagem, que se estende até o dia 12 de outubro, busca fortalecer a cooperação econômica e política com dois países estrategicamente importantes no continente europeu.

Relações com a Itália: pragmatismo em meio à disputa comercial

A visita à Itália tem um peso simbólico e político especial. Em 2023, o governo italiano de Giorgia Meloni anunciou sua retirada oficial da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) — o megaprojeto de infraestrutura global proposto por Pequim. Ainda assim, as relações bilaterais não esfriaram por completo.
Em julho deste ano, Meloni esteve em Pequim, onde firmou com Wang Yi um plano de ação trienal e novos memorandos de entendimento, sinalizando uma retomada gradual do diálogo econômico.

A China ainda vê a Itália como uma possível ponte de acesso político e econômico à Europa Ocidental. Já Roma tenta manter um equilíbrio delicado entre o pragmatismo comercial com Pequim e o alinhamento estratégico com Bruxelas e Washington, especialmente após o endurecimento das tarifas europeias sobre veículos elétricos chineses — que geraram sanções comerciais mútuas entre a UE e a China.

Essas medidas refletem uma crescente disputa tecnológica e industrial. O setor automotivo, essencial para economias como a alemã e a italiana, tornou-se um campo de batalha econômico entre Bruxelas e Pequim, com impacto direto nas exportações e nos investimentos em energia limpa.

Outro ponto de tensão é o controle da fabricante de pneus Pirelli, que tem participação majoritária da estatal chinesa Sinochem. Em setembro, o governo italiano amenizou restrições impostas à empresa, reconhecendo que ela não havia violado as normas de segurança nacional, o que abriu espaço para um degelo nas relações econômicas.

Diálogo estratégico com a Suíça

A segunda etapa da viagem de Wang Yi será na Suíça, onde ele participará da 4ª rodada do Diálogo Estratégico China–Suíça.
Berna é vista por Pequim como um parceiro de confiança e um canal diplomático neutro dentro da Europa, especialmente em temas sensíveis como comércio, tecnologia e cooperação financeira.

A Suíça, embora não faça parte da União Europeia, tem desempenhado um papel de mediação diplomática entre o Ocidente e a China. O diálogo deve abordar investimentos bilaterais, transferência tecnológica, comércio sustentável e cooperação em inovação industrial — áreas consideradas prioritárias pelo governo chinês.

A ofensiva diplomática chinesa na Europa

A visita de Wang Yi ocorre no contexto de uma estratégia mais ampla de reposicionamento internacional da China, que busca reforçar sua presença no continente europeu em meio à deterioração das relações com os Estados Unidos.
Com a UE revisando suas políticas comerciais e avaliando novas medidas contra subsídios estatais chineses, Pequim tenta evitar um isolamento político que possa comprometer suas exportações e cadeias produtivas globais.

Além disso, Pequim tenta conter a crescente narrativa de “dependência tecnológica” europeia, após a União Europeia lançar uma nova estratégia de inteligência artificial (IA) para reduzir sua vulnerabilidade diante de potências como EUA e China.

Analistas apontam que o esforço diplomático chinês é parte de uma tentativa de reconstruir confiança e diversificar parcerias dentro da Europa, especialmente após o aumento da pressão ocidental por maior transparência em temas como segurança digital, direitos humanos e investimentos estratégicos.

Europa entre oportunidades e cautela

Para a Europa, a relação com a China continua sendo um exercício de equilíbrio.
Por um lado, os países europeus buscam preservar acordos comerciais lucrativos e atrair investimentos chineses em setores como energia limpa, transporte e tecnologia.
Por outro, há uma crescente preocupação com dependência econômica e risco de espionagem industrial, temas que vêm dominando o debate em Bruxelas.

A visita de Wang Yi à Itália e à Suíça é, portanto, mais do que um gesto diplomático — é uma mensagem estratégica: a China quer reafirmar que continua sendo um ator essencial no cenário europeu, disposto a negociar, adaptar-se e disputar espaço político e econômico com as potências ocidentais.

Conclusão

A viagem do ministro Wang Yi simboliza um reajuste calculado da diplomacia chinesa no continente europeu.
Enquanto Pequim busca manter abertas as portas comerciais e políticas com a Europa, os governos europeus tentam encontrar o ponto de equilíbrio entre interesses econômicos e segurança estratégica.
O desfecho dessa aproximação poderá definir o rumo das relações sino-europeias nos próximos anos — e, possivelmente, o futuro da ordem geopolítica global.

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