China comissiona o porta-aviões Fujian e amplia projeção de poder no Indo-Pacífico

Porta-aviões chinês Fujian durante cerimônia de comissionamento em Hainan
O porta-aviões Fujian, o mais moderno da marinha chinesa, entra oficialmente em serviço, marcando um avanço significativo no poder naval da China. (Foto: South China Morning Post)

A China deu um passo decisivo em sua ambição de se tornar uma potência naval global com o comissionamento oficial do Fujian, o mais avançado porta-aviões já construído pelo país. A cerimônia ocorreu esta semana na ilha de Hainan, no sul do país, marcando um marco histórico para a Marinha do Exército de Libertação Popular (PLAN, na sigla em inglês) e simbolizando o fortalecimento da capacidade de projeção de poder de Pequim no Indo-Pacífico.

O mais sofisticado navio da frota chinesa

O Fujian é o terceiro porta-aviões da China, mas o primeiro totalmente projetado e construído de forma independente pelo país, representando um salto tecnológico significativo em comparação aos anteriores, o Liaoning e o Shandong. Diferente desses, que utilizam sistemas de decolagem por rampa, o novo navio é equipado com catapultas eletromagnéticas (EMALS) — tecnologia comparável à utilizada nos mais modernos porta-aviões da Marinha dos Estados Unidos, como o USS Gerald R. Ford.

Segundo informações publicadas pelo The Japan Times e pela France 24, o Fujian tem deslocamento estimado de cerca de 80 mil toneladas e pode operar dezenas de aeronaves de combate e apoio, incluindo caças J-15T e aeronaves de alerta antecipado KJ-600.
Essa modernização não apenas amplia o alcance operacional da China, mas também permite missões aéreas mais frequentes e diversificadas, consolidando sua presença militar além das águas costeiras.

Um símbolo da estratégia marítima chinesa

O comissionamento do Fujian ocorre em um momento de crescentes tensões regionais, especialmente no Estreito de Taiwan e no Mar do Sul da China. Esses dois pontos estratégicos são áreas de disputa e de intensa vigilância militar, tanto por parte da China quanto dos Estados Unidos e seus aliados asiáticos.

Pequim tem reiterado que a expansão de sua marinha é uma resposta defensiva à crescente presença militar norte-americana na região, mas observadores internacionais veem o avanço como parte de um plano mais amplo para redefinir o equilíbrio de poder no Indo-Pacífico.
A cerimônia de comissionamento foi acompanhada por altos oficiais do governo chinês, que destacaram o Fujian como “um símbolo do renascimento nacional e da modernização das forças armadas”.

Reações internacionais e implicações estratégicas

O comissionamento do Fujian foi recebido com atenção e cautela por países vizinhos. Analistas apontam que o novo porta-aviões aumenta a capacidade da China de operar em águas distantes, apoiar bases navais no exterior — como em Djibuti — e sustentar operações militares prolongadas.

Para Taiwan, que enfrenta pressões constantes de incursões aéreas e marítimas chinesas, o avanço representa um alerta estratégico. Já o Japão e as Filipinas, ambos com disputas marítimas com a China, reforçaram a cooperação militar com os Estados Unidos como forma de equilíbrio de poder.

Nos bastidores diplomáticos, o movimento também repercute entre potências ocidentais. Washington acompanha de perto a evolução da marinha chinesa, que se tornou a maior do mundo em número de embarcações. A presença do Fujian amplia o raio de atuação naval da China e reforça sua postura assertiva em zonas de interesse geopolítico, como o Pacífico Ocidental e o Oceano Índico.

Tecnologia e ambição de autossuficiência

Mais do que um avanço militar, o Fujian representa um marco tecnológico para a indústria naval chinesa. O projeto demonstra a capacidade do país de desenvolver sistemas de propulsão, catapultas eletromagnéticas e aviões embarcados sem depender de fornecedores estrangeiros.
Esse feito reforça o plano de longo prazo de Pequim para alcançar autossuficiência em defesa e alta tecnologia, um dos pilares centrais da política de modernização militar iniciada por Xi Jinping.

A construção do navio também integra a estratégia conhecida como “Sonho Chinês de uma Força Armada Forte”, que busca transformar a China em uma potência marítima capaz de proteger seus interesses globais, rotas comerciais e zonas de influência.

O Indo-Pacífico como epicentro da nova competição naval

Com o Fujian agora operacional, a China dá um passo crucial para equilibrar sua capacidade naval frente aos Estados Unidos, que há décadas dominam os mares da região.
A entrada desse porta-aviões muda o cálculo estratégico das potências asiáticas e evidencia a crescente militarização do Indo-Pacífico, área que concentra os principais corredores comerciais do mundo e disputas territoriais sensíveis.

Especialistas apontam que o Fujian não é apenas uma plataforma militar, mas também um instrumento diplomático e simbólico. Sua presença em missões internacionais, como patrulhas de segurança marítima ou operações de ajuda humanitária, poderá ser usada por Pequim para reforçar sua imagem como potência responsável — enquanto expande sua influência geopolítica.

Conclusão

O comissionamento do porta-aviões Fujian representa muito mais do que a entrada em serviço de uma nova embarcação. Trata-se de um divisor de águas na história militar da China, consolidando décadas de investimentos em tecnologia e defesa.
Com ele, Pequim não apenas reforça sua marinha, mas também envia uma mensagem clara ao mundo: a de que pretende ocupar um papel central na segurança e na política global do século XXI.

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