
A Coreia do Norte confirmou que sua ministra das Relações Exteriores, Choe Son Hui, visitará a China entre os dias 27 e 30 de setembro, a convite do chanceler chinês Wang Yi. O encontro marca a segunda visita de alto nível em menos de um mês, evidenciando uma intensificação das relações bilaterais em um momento de crescente polarização na geopolítica asiática.
O simbolismo da visita
O retorno rápido de Choe a Pequim vai além da diplomacia protocolar: é um recado estratégico. A Coreia do Norte busca escapar de um isolamento crescente, enquanto a China precisa de aliados próximos diante da rivalidade cada vez mais acirrada com os Estados Unidos. Essa sintonia mostra que ambos os regimes veem na parceria uma necessidade de sobrevivência e influência regional.
Os interesses de Pyongyang
A visita é parte de uma estratégia mais ampla do regime de Kim Jong-un, que visa:
- Sobrevivência econômica: Pyongyang depende de importações chinesas de alimentos, combustível e bens de consumo. A expectativa é de que Pequim amplie linhas de apoio e flexibilize barreiras comerciais nos próximos meses.
- Segurança política: a proximidade com Pequim fortalece a legitimidade do regime no cenário internacional, contrabalançando o isolamento imposto pelas sanções.
- Respaldo estratégico: a Coreia do Norte projeta que o alinhamento com a China reduzirá riscos de pressões militares diretas por parte de Washington, Seul e Tóquio.
Os interesses de Pequim
Para a China, a aproximação com a Coreia do Norte atende a três dimensões centrais:
- Geopolítica: Pyongyang serve como contrapeso à presença militar dos EUA no Indo-Pacífico, funcionando como uma espécie de “zona tampão” no nordeste asiático.
- Estabilidade interna: manter o regime norte-coreano relativamente estável evita crises humanitárias e fluxos de refugiados que poderiam impactar a fronteira chinesa.
- Influência regional: ao reforçar seu papel como principal aliado de Pyongyang, Pequim se posiciona como ator indispensável em qualquer negociação futura sobre segurança nuclear.
Contexto regional de tensões
O encontro acontece no momento em que EUA, Japão e Coreia do Sul intensificam cooperação militar trilateral, inclusive com exercícios conjuntos de defesa antimísseis. Além disso, Washington tem reiterado o compromisso com a dissuasão nuclear estendida na península coreana, o que aumenta a percepção de ameaça em Pyongyang.
A visita de Choe, portanto, deve ser lida como um movimento de resposta: se o bloco pró-EUA se fortalece, o eixo sino-norte-coreano busca mostrar unidade e capacidade de resistência.
Projeções de impacto a médio prazo
- Maior interdependência econômica
É provável que a China amplie gradualmente o comércio com a Coreia do Norte, contornando sanções internacionais. Pequim deve intensificar o envio de energia e produtos básicos, em troca de acesso a recursos minerais norte-coreanos. - Aprofundamento da cooperação militar indireta
Embora improvável que Pequim forneça abertamente tecnologia bélica, espera-se um aumento do compartilhamento de inteligência e da coordenação política em fóruns multilaterais. Essa parceria fortaleceria a posição da Coreia do Norte frente às alianças ocidentais. - Reforço do bloco anti-EUA na Ásia
A relação sino-norte-coreana pode se expandir para um alinhamento mais visível em conjunto com a Rússia. Caso isso se concretize, a região poderá testemunhar um tripé estratégico Moscou–Pequim–Pyongyang, aumentando a pressão sobre os EUA e seus aliados. - Aumento do risco de escalada militar
A aproximação também pode gerar efeito contrário: ao perceber maior coesão entre China e Coreia do Norte, Washington, Seul e Tóquio tendem a intensificar ainda mais sua cooperação militar, aumentando o risco de incidentes e crises de segurança.
Conclusão
A segunda visita de Choe Son Hui à China em menos de um mês confirma que a parceria sino-norte-coreana está entrando em uma nova fase de consolidação estratégica. No médio prazo, a tendência é de maior interdependência econômica e de alinhamento político contra o eixo liderado pelos EUA.
Contudo, esse fortalecimento não elimina riscos — ao contrário, pode acelerar a militarização do nordeste asiático e cristalizar um cenário de blocos opostos, tornando a região um dos principais pontos de tensão geopolítica do mundo.
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