As eleições gerais realizadas nos Países Baixos em 29 de outubro de 2025 marcaram uma virada significativa na política neerlandesa. Com quase todos os votos apurados, o resultado mostra um avanço expressivo do partido centrista Democraten 66 (D66), liderado por Rob Jetten, e uma perda de força do Partido da Liberdade (PVV), de Geert Wilders, que vinha sendo um dos principais nomes da extrema-direita europeia.
O equilíbrio entre as duas legendas, cada uma com cerca de 26 assentos em um Parlamento de 150 cadeiras, reflete a fragmentação política que caracteriza o sistema multipartidário holandês e reforça a importância das negociações para a formação de uma coalizão governamental.
O avanço do D66 e o retorno do pragmatismo político
O D66, partido de centro-liberal com pautas voltadas à integração europeia, sustentabilidade e direitos civis, emergiu como o grande vencedor político da eleição. Sob a liderança de Rob Jetten, a legenda conseguiu reconquistar parte do eleitorado moderado que havia migrado para partidos mais à direita nas eleições anteriores.
A campanha de Jetten enfatizou temas como habitação, transição energética e estabilidade econômica, apresentando o D66 como uma alternativa pragmática diante da crescente polarização. O resultado indica um desejo de equilíbrio por parte do eleitorado neerlandês, em um contexto europeu marcado por tensões econômicas, climáticas e migratórias.
A retração de Geert Wilders e o enfraquecimento do populismo de direita
O Partido da Liberdade (PVV), de Geert Wilders, que havia alcançado destaque nas eleições anteriores com um discurso anti-imigração e eurocético, perdeu parte de seu apoio popular. Analistas apontam que o eleitorado holandês parece ter buscado soluções mais moderadas e viáveis, cansado da retórica polarizadora.
Além disso, os demais partidos — incluindo o VVD (Partido Popular para a Liberdade e Democracia) e o GroenLinks-PvdA (aliança entre verdes e trabalhistas) — reafirmaram sua recusa em compor uma coalizão com o PVV, o que isola ainda mais Wilders no espectro político.
Um Parlamento fragmentado e o desafio de formar governo
Com pelo menos uma dezena de partidos com representação significativa, a formação de governo será um processo complexo e demorado. A tradição política neerlandesa é marcada pela necessidade de consenso, e a atual configuração parlamentar exigirá negociações cuidadosas entre o centro e a esquerda moderada.
Rob Jetten deverá buscar o apoio de legendas como o VVD e o GroenLinks-PvdA para construir uma maioria estável. No entanto, diferenças programáticas — especialmente nas áreas de política fiscal e ambiental — podem dificultar os entendimentos iniciais.
Implicações para a União Europeia
O resultado das eleições na Holanda também tem repercussões além das fronteiras nacionais. A queda do PVV representa um revés para o populismo de direita europeu, que vinha acumulando vitórias em outros países do bloco.
Por outro lado, o fortalecimento do D66 reforça a posição pró-União Europeia do novo governo, favorecendo maior cooperação com Bruxelas em temas como o pacto verde europeu, a política migratória comum e o apoio à Ucrânia diante da guerra em curso.
Conclusão: uma virada de rumo e o retorno do diálogo político
As eleições neerlandesas de 2025 sinalizam um momento de reequilíbrio no cenário político do país. Após anos de ascensão do discurso populista e antiestablishment, o eleitorado demonstrou preferência por soluções mais realistas e cooperativas.
Se Rob Jetten conseguir consolidar uma coalizão estável, a Holanda poderá retomar o papel de ponte entre o liberalismo europeu e a responsabilidade social, reforçando sua imagem de nação pragmática e democrática no coração da Europa.

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