As Forças Armadas dos Estados Unidos estariam preparando o estabelecimento de uma presença militar em uma base aérea nas proximidades de Damasco, capital da Síria, segundo fontes diplomáticas e militares ouvidas pela agência Reuters. A medida, caso confirmada, representaria um dos movimentos geopolíticos mais sensíveis da região desde o início da guerra civil síria em 2011.
O objetivo declarado seria facilitar um pacto de não-agressão entre Israel e a Síria, criando um canal de comunicação e um mecanismo de verificação internacional em uma potencial zona desmilitarizada no sul do país. Essa área, situada próxima às Colinas de Golã — território ocupado por Israel desde 1967 — é considerada uma das fronteiras mais tensas do Oriente Médio.
Washington busca reduzir tensões e conter o Irã
De acordo com as informações obtidas pela Reuters, oficiais americanos e israelenses estariam discutindo discretamente os detalhes de um acordo de monitoramento conjunto, no qual tropas dos EUA desempenhariam papel de observadores ou forças de garantia em território sírio.
A estratégia, segundo analistas, se encaixa na tentativa do governo americano de conter a influência do Irã na Síria e de impedir uma escalada militar direta entre Damasco e Tel Aviv.
“Essa presença serviria como um amortecedor, garantindo que nenhuma das partes viole as condições de um cessar-fogo e reduzindo o risco de incidentes fronteiriços”, afirmou um diplomata ocidental sob condição de anonimato.
No entanto, a proposta é vista com cautela por diversos países da região. O Irã e o Hezbollah, aliados históricos de Damasco, consideram qualquer presença militar americana como uma provocação e violação da soberania síria.
Damasco nega e fala em ‘fabricar pretextos’
O governo sírio, por meio de seu Ministério das Relações Exteriores, negou formalmente qualquer acordo que permita a presença militar dos Estados Unidos em seu território. Em nota divulgada pela agência estatal SANA, o regime de Bashar al-Assad classificou as informações como “fabricadas para legitimar uma nova forma de ocupação estrangeira”.
Autoridades sírias afirmaram que qualquer presença militar não autorizada será tratada como uma força de ocupação. Essa posição reforça o distanciamento entre Damasco e Washington, que não mantêm relações diplomáticas plenas desde o início do conflito sírio.
“Os Estados Unidos não buscam estabilidade, mas sim controle político e militar sobre o território sírio”, afirmou o vice-ministro das Relações Exteriores da Síria em entrevista à televisão estatal.
O contexto: a guerra síria e as fronteiras do conflito
A Síria vive, desde 2011, uma guerra que fragmentou o país e envolveu múltiplos atores externos. As forças governamentais de Assad, com apoio da Rússia e do Irã, reconquistaram boa parte do território, mas grandes áreas ainda estão sob influência de forças curdas e tropas norte-americanas, especialmente no nordeste, onde operam bases conjuntas com a coalizão internacional.
A nova proposta de presença militar em Damasco, portanto, ampliaria o alcance geográfico da presença americana, estendendo-a para uma região central, próxima à capital síria e ao teatro diplomático dominado por Rússia e Irã.
Israel observa com interesse e cautela
Para Israel, a presença de forças americanas em solo sírio representaria uma camada adicional de segurança contra ameaças vindas do norte, especialmente de grupos armados apoiados por Teerã.
Nos últimos meses, Israel intensificou seus ataques aéreos contra alvos iranianos e do Hezbollah na Síria, afirmando que tais operações são necessárias para impedir o envio de armas avançadas ao Líbano.
Analistas militares israelenses afirmam que a presença americana próxima à fronteira poderia reduzir a frequência de confrontos, mas também limitar a liberdade de ação das Forças de Defesa de Israel (IDF) dentro do território sírio.
Risco de confronto com a Rússia
Outro elemento delicado é a posição da Rússia, principal aliada militar de Assad e presença dominante no espaço aéreo sírio. Moscou já demonstrou oposição a qualquer plano que envolva expansão militar dos EUA no país.
Fontes diplomáticas afirmam que o Kremlin considera o projeto um “ato de ingerência direta” em uma região onde mantém bases e unidades de defesa aérea. Caso os Estados Unidos avancem com a iniciativa, é provável que a Rússia reforce sua presença nas proximidades de Damasco como forma de dissuasão.
Análise: a difícil equação do equilíbrio
A iniciativa norte-americana reflete o dilema estratégico dos EUA no Oriente Médio: tentar estabilizar regiões em conflito sem se envolver diretamente em novas guerras. Ao mesmo tempo, Washington busca demonstrar influência diplomática e conter adversários — sobretudo o Irã e a Rússia — em um cenário regional cada vez mais polarizado.
Contudo, a falta de consentimento do governo sírio e a resistência de aliados locais tornam o plano altamente controverso e de difícil execução.
“Qualquer presença militar estrangeira em Damasco, sem aprovação oficial, seria uma linha vermelha para Assad”, explica a analista política libanesa Lina Khoury. “E, neste momento, nem o Irã nem a Rússia permitiriam que os EUA se movessem livremente no coração da Síria.”
Conclusão
A possível presença militar dos Estados Unidos em Damasco evidencia a complexidade das alianças e rivalidades no Oriente Médio. Enquanto Washington tenta mediar um pacto de não-agressão entre Israel e Síria, o regime de Assad vê a proposta como uma ameaça à sua soberania.
Entre diplomacia e dissuasão, a medida mostra como a Síria continua sendo um tabuleiro estratégico de poder, onde cada movimento militar pode redefinir o equilíbrio regional.

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