União Europeia enfrenta críticas por falta de protagonismo na política do Indo-Pacífico

Edifício moderno do Parlamento Europeu em Bruxelas, representando a atuação internacional da União Europeia.
Sede do Parlamento Europeu em Bruxelas, onde ministros discutiram a política do bloco para o Indo-Pacífico.

A União Europeia (UE) voltou a ser alvo de críticas por sua postura considerada tímida em relação ao Indo-Pacífico, uma das regiões mais estratégicas do mundo em termos econômicos e geopolíticos. Segundo o South China Morning Post, durante uma reunião recente em Bruxelas, os ministros das Relações Exteriores da UE dedicaram apenas sete minutos à discussão sobre a política do bloco para o Indo-Pacífico — um fato que levantou questionamentos sobre a prioridade dada ao tema.

O Indo-Pacífico e a disputa por influência

O Indo-Pacífico tornou-se o centro das atenções da política internacional nos últimos anos. A região abriga cerca de 60% da população mundial, representa mais de 40% da economia global e é palco da crescente rivalidade estratégica entre os Estados Unidos e a China.
Enquanto Washington busca reforçar alianças militares e comerciais, como o Quad (com Japão, Índia e Austrália) e o AUKUS (com Reino Unido e Austrália), Pequim expande sua influência por meio de investimentos, acordos bilaterais e da Iniciativa do Cinturão e Rota (Belt and Road Initiative).

Nesse cenário, a União Europeia tenta se posicionar, mas enfrenta dificuldades para equilibrar seus interesses econômicos com os valores políticos e de segurança. A percepção de que o bloco europeu tem se mantido distante das decisões cruciais da região reforça a ideia de que a Europa está perdendo relevância estratégica.

Críticas à falta de coerência e coordenação

Analistas afirmam que a política europeia para o Indo-Pacífico sofre de fragmentação interna e falta de clareza estratégica. Enquanto países como França e Alemanha tentam reforçar sua presença militar e diplomática na região, outros membros da UE preferem adotar uma abordagem mais cautelosa, temendo prejudicar as relações comerciais com a China — o maior parceiro econômico do bloco.

O tempo ínfimo dedicado ao tema durante a reunião ministerial em Bruxelas foi interpretado como um sinal simbólico da falta de prioridade. Especialistas lembram que, enquanto a União Europeia discute o Indo-Pacífico de forma limitada, os EUA e a China ampliam rapidamente sua influência política e econômica sobre países do Sudeste Asiático e do Pacífico.

A crescente aliança EUA-China e o papel europeu

O South China Morning Post também destacou a noção emergente de um “G2” geopolítico, no qual Washington e Pequim dominam o cenário global, relegando outros atores — incluindo a Europa — a um papel secundário.
Essa dinâmica é visível em temas como comércio, tecnologia e segurança marítima, nos quais a UE busca relevância, mas enfrenta dificuldades em transformar intenções em ações concretas.

Embora o bloco tenha lançado em 2021 sua Estratégia de Cooperação para o Indo-Pacífico, o documento foi amplamente criticado por falta de clareza operacional e por depender fortemente de compromissos voluntários dos Estados-membros. Até o momento, não há um consenso interno sobre o nível de engajamento militar, diplomático e econômico que a Europa deve adotar na região.

O desafio de permanecer relevante

Com a crescente interdependência global e a instabilidade nas rotas marítimas asiáticas, o Indo-Pacífico tornou-se vital não apenas para o comércio, mas também para a segurança energética e tecnológica da Europa.
No entanto, enquanto potências como China, Índia, Japão e Estados Unidos moldam a nova ordem regional, a União Europeia corre o risco de ser vista como um ator periférico, mais preocupado com disputas internas do que com os rumos estratégicos do mundo.

A falta de ação coordenada e o aparente desinteresse institucional colocam em dúvida a capacidade do bloco de exercer influência real em uma região que será decisiva para o equilíbrio global nas próximas décadas.

Conclusão

O episódio dos “sete minutos” simboliza mais do que uma falha de agenda: reflete uma crise de relevância geopolítica da União Europeia em um mundo cada vez mais polarizado entre grandes potências.
Enquanto o Indo-Pacífico consolida-se como epicentro da política global, a Europa enfrenta o desafio de redescobrir seu papel — entre a busca por autonomia estratégica e a necessidade de não se tornar um mero espectador do novo equilíbrio internacional.

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