Europa é pressionada a manter apoio à Ucrânia enquanto guerra se intensifica em Pokrovsk e Kiev fecha acordo de gás com a Grécia

Presidente finlandês Alexander Stubb parabeniza os vencedores do Prêmio de Internacionalização de 2025 em cerimônia oficial em Helsinque
O presidente da Finlândia, Alexander Stubb, parabeniza os vencedores do Prêmio de Internacionalização de 2025 — Orion, Sensofusion, Sandvik Mining and Construction e a comunidade finlandesa de startups — durante cerimônia oficial no Palácio Presidencial, em 14 de novembro de 2025.

O presidente da Finlândia, Alexander Stubb, alertou neste domingo (16) que um cessar-fogo na guerra entre Rússia e Ucrânia é “improvável antes da primavera de 2026”, reforçando o recado de que a Europa precisa manter – e até ampliar – o apoio a Kiev em um momento de fadiga política, econômica e social em vários países do continente.

Ao mesmo tempo, o campo de batalha segue extremamente ativo, com dezenas de ataques e centenas de confrontos em 24 horas, especialmente na região de Pokrovsk, no oblast de Donetsk, que se tornou um dos eixos centrais da ofensiva russa neste fim de ano.

Para tentar reduzir sua vulnerabilidade em meio ao inverno e aos bombardeios contra infraestrutura energética, a Ucrânia anunciou um novo acordo com a Grécia para importação de gás, abrindo mais uma rota de suprimento para o país.

Enquanto isso, os números diários divulgados por Kiev apontam altas perdas russas e novos ataques contra cidades ucranianas, com mortos e feridos em diferentes regiões.

Stubb: cessar-fogo improvável antes da primavera de 2026

Em declarações à imprensa, o presidente finlandês Alexander Stubb avaliou que um cessar-fogo ou negociações substantivas de paz não devem ocorrer antes da primavera de 2026, dadas as posições atuais de Moscou e Kyiv e a dinâmica no campo de batalha.

Segundo ele, a prioridade agora é garantir que a Ucrânia não perca capacidade militar nem política de resistir:

  • Stubb insiste que a ajuda militar e financeira europeia deve continuar, mesmo diante de escândalos internos e de disputas orçamentárias dentro da União Europeia.
  • O presidente também vincula a estabilidade da Ucrânia à segurança do próprio continente europeu, argumentando que uma vitória russa ou um “congelamento” do conflito em termos desfavoráveis a Kyiv poderia encorajar novos movimentos agressivos de Moscou no futuro.

A posição da Finlândia é simbólica: o país, que historicamente buscou neutralidade, aderiu à OTAN após a invasão em grande escala de 2022 e hoje é uma das vozes mais firmes em defesa de um posicionamento duro da Europa contra o Kremlin.

Pokrovsk: novo epicentro da ofensiva russa

No terreno, o foco se volta para Pokrovsk e seu entorno, no oblast de Donetsk. Relatórios militares ucranianos deste domingo indicam que, apenas nessa direção, foram repelidos 50+ ataques russos em um único dia, envolvendo assaltos terrestres, bombardeios de artilharia e uso intensivo de drones.

A região ganhou importância por diversos motivos:

  • Logística e linhas de suprimento: Pokrovsk está ligada a rotas ferroviárias e rodoviárias importantes para a Ucrânia no leste.
  • Profundidade defensiva: a queda da cidade poderia empurrar a linha de frente mais para o interior, exigindo da Ucrânia uma reorganização defensiva mais ampla.
  • Narrativa política: para Moscou, avanços em Donetsk alimentam o discurso de que a “meta” de controlar toda a região está em andamento.

Análises independentes apontam que a Rússia vem apostando em ofensivas de desgaste, lançando ataques repetidos contra posições fortificadas, mesmo ao custo de altas perdas humanas e de equipamento. Relatórios recentes falam em centenas de combates ao longo da linha de frente em 24 horas, com Pokrovsk como um dos pontos de maior intensidade.

Novo acordo de gás entre Ucrânia e Grécia: energia como frente estratégica da guerra

Em meio ao aumento de ataques russos contra infraestrutura energética, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou neste domingo um acordo com a Grécia para importação de gás, criando uma nova rota de fornecimento para o inverno.

Pelos anúncios oficiais:

  • O acordo prevê que a Ucrânia importe gás via Grécia, utilizando a infraestrutura grega e rotas já integradas ao mercado europeu.
  • Zelensky afirma que já há garantias de financiamento para cobrir quase 2 bilhões de euros em importações de gás, compensando a queda na produção interna ucraniana causada pelos bombardeios russos.
  • O novo arranjo é apresentado como “mais uma rota de suprimento”, reduzindo o risco de cortes e ajudando a estabilizar o sistema energético em meio ao inverno.

Esse movimento reforça uma tendência importante na guerra: a energia é um dos campos centrais do conflito. A Rússia tem intensificado ataques contra:

  • Usinas de energia,
  • Sistemas de transmissão elétrica,
  • Instalações de produção de gás.

Para Kiev, aumentar as conexões com a rede energética europeia e diversificar rotas é uma forma de neutralizar a pressão russa e mostrar que o país continua integrado ao sistema econômico e energético do continente.

Perdas russas em alta e civis ucranianos sob ataque

Os números divulgados pelo Estado-Maior ucraniano e compilados por diferentes veículos apontam que, somente nas últimas 24 horas, a Rússia teria perdido cerca de 860 militares, além de tanques, veículos blindados, sistemas de artilharia e centenas de drones.

De acordo com esses dados:

  • Cerca de 1,158 milhão de militares russos teriam sido mortos ou feridos desde o início da invasão em larga escala, em fevereiro de 2022;
  • O número acumulado de equipamentos destruídos inclui mais de 11 mil tanques, 23 mil veículos blindados e 34 mil sistemas de artilharia, entre outros meios.

Embora esses números não possam ser verificados de forma independente e sejam parte da guerra de narrativas, eles indicam um quadro de combates extremamente intensos e custosos, sobretudo para a Rússia, que continua a lançar ofensivas terrestres em múltiplos eixos.

Paralelamente, ataques russos nas últimas 24 horas mataram pelo menos 4 civis e feriram 17 em diferentes regiões da Ucrânia, segundo autoridades locais, incluindo danos a uma importante instalação de energia na região de Odesa.

Esses ataques mantêm a população sob constante risco e pressionam ainda mais o sistema energético ucraniano, reforçando a importância do acordo com a Grécia e de outros arranjos energéticos com parceiros europeus.

O cálculo da Europa: fadiga da guerra vs. risco estratégico

As declarações de Alexander Stubb, os combates em Pokrovsk e o acordo de gás com a Grécia convergem para a mesma questão central: até que ponto a Europa está disposta – e é capaz – de sustentar a Ucrânia a longo prazo?

Alguns elementos desse cálculo:

  1. Fadiga política e social
    • Em vários países europeus, o custo econômico da guerra, somado ao desgaste com sanções e inflação energética, alimenta movimentos políticos céticos em relação ao apoio a Kiev.
    • Stubb, contudo, tenta enquadrar o debate como uma questão de segurança existencial europeia, e não apenas de solidariedade.
  2. Dependência da política dos EUA
    • A Europa sabe que o apoio americano é crucial. A instabilidade e as mudanças de linha em Washington obrigam o bloco a discutir uma maior autonomia em defesa e energia, mas o processo é lento.
    • Países como a Finlândia assumem protagonismo diplomático, tentando influenciar tanto os parceiros europeus quanto os EUA em direção a um compromisso duradouro com Kiev.
  3. Energia como arma e como vulnerabilidade
    • Para Moscou, atacar infraestrutura energética é uma forma de desgastar a moral da população e aumentar o custo da guerra para Kiev e seus aliados.
    • Para Kiev e a UE, acordos como o da Grécia demonstram que o bloco tenta fechar brechas de vulnerabilidade, conectando ainda mais a Ucrânia ao mercado energético europeu.
  4. Cenário militar sem solução rápida
    • A avaliação de que não haverá cessar-fogo antes de 2026 reforça a percepção de que a guerra entrou numa fase prolongada, em que cada inverno, cada pacote de ajuda militar e cada acordo de energia têm peso estratégico.

Por que o momento atual é decisivo

A combinação de fatores – intensificação dos combates em Pokrovsk, a ofensiva russa contra a infraestrutura energética, o novo acordo de gás com a Grécia e o alerta do presidente finlandês – aponta para um momento decisivo da guerra:

  • Se a Europa conseguir manter a ajuda militar, financeira e energética, a Ucrânia tende a atravessar o inverno em condições melhores do que Moscou gostaria.
  • Se, ao contrário, a fadiga da guerra crescer e os apoios forem reduzidos, a Rússia pode explorar essa brecha para tentar consolidar ganhos territoriais, especialmente em regiões como Donetsk.

Para Alexander Stubb, o recado é claro: a guerra não dá sinais de terminar em breve e a escolha, para a Europa, é entre sustentar a Ucrânia agora ou pagar um preço potencialmente maior no futuro, caso a agressão russa seja recompensada ou se repita em outros lugares.

Conclusão

O cenário desenhado por Stubb, os combates intensos em Pokrovsk e o movimento de Kyiv para diversificar suas rotas de energia com a Grécia desenham uma realidade simples e dura: a guerra na Ucrânia entrou em uma fase longa e estratégica, na qual decisões políticas e logísticas tomadas agora terão impacto por meses — talvez anos. A Europa enfrenta, simultaneamente, um dilema moral e pragmático: sustentar um esforço que consome recursos e desgaste político no curto prazo para evitar um custo geopolítico, econômico e de segurança muito maior depois.

A manutenção do apoio à Ucrânia exigirá, portanto, coerência entre palavras e fatos: orçamentos estáveis para ajuda militar e humanitária; avanços práticos na resiliência energética e na infraestrutura; e coordenação política entre os Estados-membros para mitigar a fadiga social. Sem isso, o espaço estratégico que Kyiv vem conquistando com acordos como o firmado com a Grécia e com a resistência nas linhas de frente poderá se reduzir, abrindo caminho para consolidações territoriais que mudarão permanentemente o equilíbrio de poder no continente.

Ao mesmo tempo, a contínua pressão russa sobre infraestrutura e civis lembra que o conflito não é apenas militar, mas também econômico e humanitário — e que a resposta europeia precisa ser multidimensional: defesa, diplomacia, financiamento e assistência às populações afetadas. Se a Europa optar por enxergar a Ucrânia como parte integrante de sua própria segurança, as atuais medidas — incluindo novos corredores energéticos e apoio logístico — deverão ser ampliadas e institucionalizadas. Caso contrário, os custos a longo prazo poderão superar em muito o esforço presente.

Em suma: a escolha hoje é clara — sustentar a Ucrânia e investir em resiliência coletiva, ou arriscar um cenário em que ganhos pontuais no campo de batalha se transformem em perdas estratégicas para a Europa amanhã. As próximas decisões políticas, orçamentárias e diplomáticas definirão qual desses caminhos o continente trilhará.

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