Grécia emerge como novo centro estratégico de gás natural liquefeito na Europa

Terminal de gás natural liquefeito de Revithoussa, na Grécia, localizado próximo a Atenas.
Terminal de GNL de Revithoussa, próximo a Atenas, é uma das principais instalações responsáveis pelo abastecimento de gás natural liquefeito na Grécia e no sudeste da Europa.

A Grécia vem consolidando sua posição como um dos principais polos energéticos do continente europeu, tornando-se um elo vital na nova arquitetura energética da Europa. Com o apoio dos Estados Unidos e o incentivo da União Europeia, o país busca se firmar como um hub-chave de gás natural liquefeito (GNL), reduzindo significativamente a dependência europeia do gás russo — um movimento com implicações profundas na geopolítica e na segurança energética do continente.

Transição energética e reposicionamento geopolítico

Desde o início da guerra na Ucrânia, em 2022, a Europa tem acelerado esforços para diversificar suas fontes de energia e diminuir a vulnerabilidade causada pela dependência do gás natural russo. Antes do conflito, cerca de 40% do gás consumido na União Europeia era proveniente da Rússia. Hoje, esse número caiu drasticamente, e a Grécia tem desempenhado papel cada vez mais relevante nesse processo.

O governo grego, em cooperação com Washington, está ampliando e modernizando seus terminais de GNL, em especial os de Revithoussa (próximo a Atenas) e Alexandroupolis, na região norte do país. Estes portos estratégicos têm se tornado peças centrais de uma nova rota energética que busca abastecer não apenas a Grécia, mas também países da Europa Central e Oriental — incluindo Bulgária, Romênia, Sérvia e Macedônia do Norte.

Revithoussa e Alexandroupolis: pilares de uma nova rede energética

O terminal de Revithoussa, operando desde 2000, foi expandido para aumentar sua capacidade de armazenamento e regaseificação, recebendo embarcações vindas dos Estados Unidos, Catar e Argélia. Já o novo terminal de Alexandroupolis, inaugurado em 2024, representa um marco na integração energética regional. Ele é considerado um dos projetos mais importantes da Iniciativa dos Três Mares, voltada a fortalecer as conexões de energia, transporte e infraestrutura entre os países do Báltico, do Adriático e do Mar Negro.

A Grécia, por sua posição geográfica, serve como ponte entre o Mediterrâneo Oriental e os Bálcãs, o que a torna uma alternativa estratégica à dependência do gás russo que historicamente dominava as rotas pelo norte da Europa. O país também se beneficia de uma estreita relação com os Estados Unidos, que vêm aumentando o envio de GNL para o continente europeu.

A meta europeia: independência energética até 2027

De acordo com planos delineados em Bruxelas, a União Europeia pretende eliminar totalmente as importações de gás russo até 2027 — incluindo o banimento do GNL russo até 2026 em alguns cenários. Para alcançar esse objetivo, o bloco aposta fortemente em novas rotas e fornecedores, como os Estados Unidos, Catar e países africanos, além do investimento em energia renovável.

A Grécia se encaixa nesse plano de maneira estratégica. Ao garantir capacidade de armazenamento e distribuição de GNL, o país se torna essencial para abastecer mercados regionais e reforçar a segurança energética europeia. Essa infraestrutura também abre espaço para futuras exportações de hidrogênio verde, alinhando-se à transição energética e às metas de neutralidade climática da UE até 2050.

Consequências geopolíticas e econômicas

O fortalecimento do papel da Grécia no setor energético não é apenas técnico, mas também político. O país ganha relevância dentro da União Europeia e da OTAN, ao mesmo tempo em que reforça seus laços com Washington. Esse novo papel desafia a tradicional influência russa sobre o abastecimento de gás no continente e redesenha o mapa geopolítico da energia na região.

Além disso, a economia grega se beneficia diretamente: o investimento em infraestrutura, a geração de empregos e o aumento do tráfego marítimo fortalecem o setor energético e portuário. Em longo prazo, a Grécia pode se tornar um dos principais pontos de interconexão entre a Europa e o Oriente Médio — região rica em recursos energéticos.

Desafios à vista

Apesar do otimismo, o projeto enfrenta desafios. A transição para o GNL requer investimentos bilionários, e o mercado global enfrenta volatilidade de preços. Há também a preocupação ambiental: embora o GNL seja menos poluente que o carvão ou o petróleo, ele ainda é um combustível fóssil. Bruxelas insiste que o GNL deve ser uma solução de transição, não o destino final da matriz energética europeia.

Além disso, a crescente competição entre fornecedores — especialmente entre os EUA e o Catar — cria tensões comerciais que podem influenciar o custo da energia para os consumidores europeus.

Um novo eixo energético europeu

A consolidação da Grécia como hub de GNL simboliza uma mudança histórica na política energética europeia. O eixo de dependência energética está se deslocando do norte para o sul, com o Mediterrâneo assumindo um papel central nas estratégias de segurança e sustentabilidade do continente.

Em um contexto de instabilidade global e de redefinição de alianças, a Grécia emerge não apenas como uma ponte energética, mas como um ator geopolítico crucial na construção da nova ordem energética europeia — uma Europa mais autônoma, resiliente e integrada.

Conclusão

O avanço da Grécia como centro de distribuição de gás natural liquefeito representa mais do que uma mudança de infraestrutura: é um reflexo da transformação política, econômica e estratégica da Europa.
Ao se tornar um pilar da segurança energética regional, o país reforça sua importância dentro da União Europeia e fortalece os laços transatlânticos com os Estados Unidos.

A transição para o GNL, embora temporária, oferece estabilidade em um cenário global de incertezas e garante à Europa tempo e espaço para avançar rumo a fontes mais limpas e renováveis. Nesse contexto, a Grécia deixa de ser apenas um ponto no mapa e se afirma como um novo eixo da energia europeia, contribuindo para um continente mais independente e preparado para os desafios do futuro.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*