Em uma declaração à TV estatal no sábado, o ministro da Defesa do Irã, Major-General Amir Hatami, reafirmou que “as ameaças de Israel contra a soberania e segurança do Irã continuam ativas”, apesar da trégua militar não formalizada firmada em junho. Essa retórica mostra que o acordo de não-agressão, mediado por Omã e Catar, foi mais uma pausa tática do que uma mudança estratégica duradoura. Hatami, que voltou ao cargo de ministro da Defesa após breve afastamento, não é o chefe das forças armadas — posição que permanece sob comando direto do Líder Supremo. Essa distinção institucional é importante para compreender a natureza política das declarações militares iranianas.
Contexto recente: trégua frágil e objetivos divergentes
- Trégua não formal: Em 15 de junho de 2025, Irã e Israel concordaram informalmente em suspender ataques diretos por via de milícias aliadas e ciberoperações. Sem um pacto escrito, a pausa nunca integrou compromissos públicos de desarme.
- Crise de confiança mútua: Tanto Teerã quanto Tel Aviv seguem desconfiados: o Irã teme ações israelenses contra seu programa nuclear; Israel monitora as forças Quds da Guarda Revolucionária em países vizinhos.
Capacidades militares e sinalizações recentes
- Programa de mísseis hipersônicos: Em 18 de junho, a Guarda Revolucionária anunciou o uso do míssil Fattah-1 em ataques a Israel, capazes de perfurar defesas convencionais.
- Ataques contra bases estrangeiras: Em resposta a bombardeios dos EUA contra instalações nucleares iranianas, o Irã lançou mísseis contra uma base militar americana no Catar em 21 de junho.
- Cooperação trilateral: Fontes relatam que, após o fim parcial das sanções, Irã, Rússia e China firmaram acordo para desenvolvimento conjunto de capacidades aéreas e de defesa, ampliando a tensão estratégica com o Ocidente.
Análise: motivações para manter o tom bélico
- Legitimidade interna — Após protestos de 2022–2023, o regime reforça a narrativa antiocidental para unificar elites políticas e defender o projeto revolucionário.
- Pressão dos EUA e aliados árabes — A normalização de relações entre Israel e Estados do Golfo aumenta o sentimento de cerco em Teerã.
- Dissuasão por incerteza — Mantendo retórica agressiva, o Irã sinaliza que qualquer ação contra seu programa nuclear ou proxies será respondida com força.
Implicações regionais
- Proxy wars renovadas: Hezbollah no Líbano e Houthis no Iêmen podem intensificar operações contra alvos israelenses e marítimos.
- Risco naval: Estreitamentos no Golfo Pérsico e ataques a cabos submarinos no Mar Vermelho elevam o risco de erro de cálculo entre frotas iranianas e navais ocidentais.
- Escalada nuclear: Relatórios da AIEA indicam enriquecimento de urânio acima de 80% em algumas centrífugas, intensificando o receio de corrida armamentista regional.
Conclusão
A retórica do ministro Amir Hatami mostra que, apesar da trégua tática, a rivalidade Irã-Israel permanece intensa. Ataques recentes de mísseis hipersônicos e acordos de cooperação militar com potências como Rússia e China complicam ainda mais a estabilidade. A região segue vulnerável a escaladas por erro de cálculo, exigindo vigilância constante por parte da comunidade internacional.

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