Japão reafirma compromisso de apoio à Ucrânia e descarta recusa a plano de ativos russos

Vice-ministro japonês Atsushi Mimura participa de evento da Reuters NEXT em Tóquio, Japão.
Atsushi Mimura, vice-ministro das Finanças para Assuntos Internacionais do Japão, durante o evento Reuters NEXT em Tóquio, em 21 de janeiro de 2025. Foto: Issei Kato/REUTERS.

O governo do Japão negou veementemente relatório de mídia que afirmava ter recusado um pedido da União Europeia para participar de um plano que usaria ativos russos congelados como apoio financeiro à Ucrânia. A declaração oficial reafirma o compromisso japonês com Kiev, mas também revela os dilemas estratégicos e legais envolvidos na mobilização de recursos no contexto geopolítico atual.

Contexto: a pressão sobre os ativos russos

Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, a UE concentrou esforços para sancionar o regime de Moscou, congelando bilhões de euros em ativos russos — alguns depositados em instituições na Europa, como o grupo de custódia de valores mobiliários sediado na Bélgica. A ideia que ganhou força nas últimas semanas foi converter esses ativos em financiamento imediato para ajudar a Ucrânia com gastos militares e serviços essenciais, via um “empréstimo de reparação”.

A UE vem pressionando países fora do bloco, especialmente parceiros do G7, a adesão à iniciativa, na esperança de criar apoio internacional e aliviar a carga financeira sobre os próprios membros europeus.

O mal-entendido e a resposta de Tóquio

Na última reunião dos ministros de Finanças do G7, circulou um relato de imprensa indicando que o Japão teria recusado a proposta da UE, citando motivos legais e afirmando não poder disponibilizar cerca de US$ 30 bilhões em ativos russos congelados sob sua jurisdição.

No entanto, o vice-ministro das Finanças do Japão, em comunicado oficial, classificou o relato como “completamente falso”. Segundo ele, o governo “sempre agiu no interesse da Ucrânia” e permanece aberto a formas de apoio, baseadas na segurança regional e no contexto asiático.

O dilema jurídico e estratégico

A controvérsia revela dilemas profundos:

  • Legalidade vs. urgência humanitária e de guerra: converter ativos congelados em empréstimos para um país em guerra implica contornar regras de sanções, propriedade soberana e direitos financeiros internacionais. Muitos países temem que tal movimento viole acordos jurídicos ou acarrete retaliações.
  • Risco de precedentes internacionais: se ativos de um Estado forem reutilizados para reparar danos de guerra, isso pode redefinir normas de soberania financeira, provocando insegurança para investidores e reservas internacionais — especialmente em países não alinhados ou terceiros neutros.
  • Pressões geopolíticas e alianças: para o Japão, participar de um esquema liderado pela UE implica alinhar-se a uma estratégia ocidental com consequências globais, o que poderia complicar relações com potências fora da OTAN.

O equilíbrio entre solidariedade e cautela

A postura japonesa — negar a recusa formal, ao mesmo tempo em que adota linguagem cautelosa — reflete esse equilíbrio delicado. Por um lado, reafirma solidariedade à Ucrânia e mantém portas abertas para apoio futuro. Por outro, demonstra preocupação com os riscos financeiros, diplomáticos e jurídicos associados a um movimento tão inédito.

Para a UE, a adesão de países extra-bloco como o Japão seria um golpe simbólico e prático: simbolizaria unidade internacional e aliviar a dependência europeia isolada; praticamente, ampliaria a base de ativos disponíveis e aumentaria a credibilidade do plano. A negativa — real ou percebida — dificulta esse esforço e expõe divisões sobre os limites da ação internacional.

Impactos potenciais e cenários futuros

Dependendo dos próximos passos, o caso pode desencadear diferentes desdobramentos:

  • Se o plano avançar sem adesão ampla, a UE e seus membros assinarão uma versão mais restrita do empréstimo, assumindo quase todo o risco e a responsabilidade financeira. Isso pode sobrecarregar orçamentos nacionais e suscitar críticas internas.
  • Se houver adesão internacional ampla, o plano pode se consolidar como mecanismo inovador de reparação de guerra — com implicações para futuros conflitos — e redefinir precedentes financeiros.
  • Se a iniciativa fracassar por objeções legais ou diplomáticas, a Ucrânia enfrentará novo hiato de financiamento; e a crise de credibilidade da solidariedade internacional pode se agravar, reforçando a fragmentação global de alianças.

Conclusão

A negação feita pelo Japão não encerra o debate sobre os ativos russos congelados — ela o realça. A questão expõe tensões entre urgência de apoio à Ucrânia, legalidade internacional, soberania financeira e geopolítica global. O desenrolar dessa disputa nas próximas semanas será decisivo não apenas para o futuro da guerra, mas para os rumos da governança financeira internacional.

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