Em 17 de outubro de 2025, Madagascar vivenciou um marco histórico com a posse de Michael Randrianirina como presidente, após um golpe militar que depôs o então presidente Andry Rajoelina. Este evento não apenas alterou a liderança política do país, mas também refletiu profundas insatisfações sociais e políticas que estavam fermentando há meses.
O Contexto do Golpe
O descontentamento popular com o governo de Rajoelina vinha crescendo desde o final de setembro de 2025, impulsionado por uma combinação de fatores econômicos e sociais. A pobreza generalizada, a falta de infraestrutura básica e a escassez de oportunidades para a juventude malgaxe alimentaram uma série de protestos liderados principalmente por jovens, conhecidos como “Gen Z Madagascar”. Esses protestos foram inicialmente pacíficos, mas rapidamente se intensificaram, levando a confrontos com as forças de segurança.
Em 12 de outubro, a unidade militar de elite CAPSAT, historicamente influente na política malgaxe, começou a se rebelar contra o governo. CAPSAT, que desempenhou um papel crucial no golpe de 2009 que levou Rajoelina ao poder, rapidamente ganhou apoio de outras facções militares e da população. No dia seguinte, o presidente Rajoelina fugiu do país, temendo por sua segurança, e o parlamento votou por sua destituição, como detalhado na matéria interna “Crise política em Madagascar: presidente Rajoelina deixa o país após protestos históricos”.
A Ascensão de Michael Randrianirina
Com a queda do governo, o coronel Michael Randrianirina, comandante da CAPSAT, assumiu a liderança do país. Em 14 de outubro, ele foi nomeado presidente interino pelo Supremo Tribunal Constitucional e anunciou a dissolução de várias instituições políticas, exceto a Assembleia Nacional. Randrianirina prometeu realizar eleições dentro de dois anos e formou um conselho composto por membros das forças armadas, da polícia e da gendarmaria para governar o país durante o período de transição.
Sua posse oficial ocorreu em 17 de outubro, em uma cerimônia no Supremo Tribunal Constitucional, onde ele reafirmou seu compromisso com a unidade nacional e os direitos humanos. Apesar do tom otimista da cerimônia, muitos manifestantes expressaram ceticismo, destacando que suas demandas por um governo mais responsivo à população ainda não haviam sido atendidas.
Reações Internacionais
A comunidade internacional reagiu com preocupação ao golpe. O Secretário-Geral da ONU, António Guterres, condenou a mudança de governo como “inconstitucional” e pediu o retorno à ordem constitucional. A União Africana também suspendeu Madagascar, rejeitando a ação militar e solicitando a restauração da paz e da unidade no país.
Desafios e Perspectivas Futuras
Madagascar enfrenta uma série de desafios significativos. A economia do país continua a lutar, com uma renda anual média de apenas US$ 600, apesar de suas valiosas exportações como baunilha e safiras. Além disso, a população jovem, com idade média abaixo de 20 anos, continua a exigir mudanças substanciais no governo e na sociedade.
O novo governo de Randrianirina terá que navegar por essas águas turbulentas, equilibrando as expectativas da população com as pressões internacionais e internas. A promessa de eleições dentro de dois anos será um teste crucial para sua liderança e para a estabilidade política de Madagascar.
Conclusão
O golpe de 2025 em Madagascar representa um ponto de inflexão na história política do país. A ascensão de Michael Randrianirina à presidência, embora respaldada por uma parte significativa da população, também levanta questões sobre o futuro da democracia e da governança em Madagascar. O caminho a seguir será desafiador, exigindo um equilíbrio delicado entre as aspirações internas e as pressões externas.

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