Argentina em crise: Milei busca apoio de Trump, Netanyahu e FMI para estabilizar economia

Presidente dos EUA Donald Trump cumprimenta o presidente argentino Javier Milei durante encontro oficial em Maryland, fevereiro de 2025.
Donald Trump e Javier Milei apertam as mãos no Gaylord National Resort & Convention Center, Oxon Hill, Maryland, durante reunião oficial em 22 de fevereiro de 2025. Foto de domínio público, Casa Branca.

O presidente da Argentina, Javier Milei, prepara uma série de encontros estratégicos em Nova York durante a Assembleia Geral da ONU, em um momento em que a crise econômica interna pressiona seu governo e aumenta a necessidade de respaldo externo. A agenda inclui reuniões com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva.

Contexto: economia fragilizada e pressão cambial

A Argentina enfrenta uma conjuntura delicada: inflação elevada, forte pressão sobre o peso e desafios para manter os compromissos fiscais estabelecidos em acordos com o FMI. Apesar da recente valorização pontual dos mercados, impulsionada por sinais de possível apoio dos Estados Unidos, a instabilidade cambial segue como um dos principais entraves à recuperação econômica.

O Banco Central argentino tem realizado intervenções diretas no câmbio, vendendo cerca de US$53 milhões em reservas para conter a desvalorização da moeda. A medida, embora prevista em entendimentos com o FMI, evidencia o quanto o país depende de confiança externa e liquidez internacional para atravessar a turbulência.

O orçamento de 2026, apresentado recentemente ao Congresso, projeta um superávit fiscal primário de 1,5% do PIB e até mesmo um superávit total de 0,3% após o pagamento da dívida. Além disso, prevê uma queda drástica da inflação, que passaria de aproximadamente 24,5% em 2025 para 10,1% em 2026, e um crescimento econômico de 5%. Embora as metas demonstrem otimismo, muitos analistas questionam a viabilidade, dado o histórico de instabilidade econômica do país.

Trump e Milei: aproximação ideológica e busca de apoio político

O encontro com Donald Trump, em especial, ganha simbolismo político. Milei e Trump compartilham um discurso de forte crítica ao “globalismo” e à esquerda internacional, além de alinhamento em pautas econômicas liberais. Para Milei, a reunião é uma oportunidade de estreitar laços com Washington em um momento em que a Casa Branca sinaliza abertura para apoio financeiro direto à Argentina, como linhas de swap e compra de dívida.

Ao mesmo tempo, a aproximação com Trump pode servir como um gesto político de alinhamento, já que o presidente norte-americano vem reforçando a importância de parceiros estratégicos no hemisfério sul para conter a influência da China.

Netanyahu: aliança estratégica e geopolítica

A audiência com Netanyahu também tem peso significativo. Milei já havia demonstrado proximidade com Israel ao transferir a embaixada argentina de Tel Aviv para Jerusalém, medida que o aproximou da política externa israelense e marcou posição em um cenário global de crescente polarização em torno do conflito israelo-palestino.

No encontro, espera-se que ambos discutam cooperação tecnológica, segurança e investimentos em energia, áreas em que Israel se apresenta como parceiro de alto valor agregado. Além disso, a aproximação pode reforçar o perfil internacional de Milei como um líder que se posiciona claramente em blocos de afinidade política e ideológica.

FMI e a busca por credibilidade

A reunião com Kristalina Georgieva talvez seja a mais delicada da agenda. O FMI é credor central da Argentina, e sua posição pode definir a margem de manobra econômica do governo Milei. Para convencer a instituição, Milei precisará demonstrar capacidade de implementação de reformas estruturais e viabilidade política interna.

O orçamento enviado ao Congresso promete aumento real nos gastos sociais em 2026, como pensão (+5%), saúde (+17%) e educação (+8%). Esses números, embora expressem a intenção de preservar políticas sociais, esbarram no desafio da austeridade fiscal.

Resistência interna e desafios políticos

No plano interno, Milei enfrenta resistência de sindicatos, movimentos sociais e partidos opositores. Greves e protestos contra medidas de austeridade têm se multiplicado, levantando dúvidas sobre a capacidade do governo em aplicar reformas de impacto sem gerar instabilidade social. Esse cenário pode enfraquecer sua posição nas negociações externas, já que credores e parceiros analisam não apenas a solidez econômica, mas também a governabilidade.

Análise: diplomacia como ponte para estabilidade

As reuniões em Nova York representam mais do que encontros protocolares — são um teste de legitimidade internacional para Javier Milei. Seu governo, marcado por um discurso disruptivo e por medidas econômicas de choque, enfrenta o desafio de combinar radicalismo político no plano interno com diplomacia pragmática no cenário global.

Se conseguir obter apoio financeiro dos EUA, sinal verde do FMI e acordos de cooperação com Israel, Milei terá dado um passo importante para reforçar sua base econômica e política. Caso contrário, a Argentina pode ver aprofundar-se a instabilidade, com risco de deterioração social e aumento da pressão nos mercados.

Conclusão

O futuro imediato da Argentina depende da capacidade de Milei em transformar promessas diplomáticas em resultados concretos. A busca por apoio externo mostra-se vital não apenas para aliviar a crise cambial e garantir financiamento, mas também para fortalecer sua autoridade política diante das resistências internas. Entre a necessidade de ajustes duros e a expectativa de soluções rápidas, a aposta na diplomacia internacional surge como um dos poucos caminhos possíveis para equilibrar governabilidade e estabilidade econômica.

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