Conflito Rússia-Ucrânia: forças russas avançam em Pokrovsk enquanto Europa tenta retomar diálogo diplomático

Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky em reunião com o Ministro das Relações Exteriores dos Países Baixos sobre ajuda energética à Ucrânia.
No dia 28 de outubro de 2025, o presidente Volodymyr Zelensky se reuniu com o Ministro das Relações Exteriores dos Países Baixos para discutir a situação energética na Ucrânia e o novo pacote de ajuda europeu ao setor.

A guerra entre Rússia e Ucrânia entra em uma nova fase de intensificação militar e movimentação diplomática. Segundo o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, as forças russas concentram-se massivamente em torno da cidade de Pokrovsk, na região de Donetsk, com uma proporção de oito soldados russos para cada ucraniano. O avanço reforça a pressão sobre as defesas ucranianas no leste do país e eleva a tensão às vésperas de novas conversações de paz entre Kiev e representantes europeus.

Pokrovsk: novo epicentro da ofensiva russa

A cidade de Pokrovsk, localizada a cerca de 50 quilômetros a noroeste de Donetsk, tornou-se um dos principais alvos da ofensiva russa desde meados de outubro. A região é considerada estratégica por abrigar rotas logísticas e linhas férreas essenciais para o transporte de suprimentos militares ucranianos.

Relatos de campo indicam que a Rússia intensificou ataques com drones, artilharia e bombardeios aéreos, buscando isolar a cidade antes de uma possível ofensiva terrestre em larga escala. De acordo com Zelensky, o desequilíbrio de forças — “oito para um” — demonstra a gravidade da situação e o esforço russo em consolidar o controle sobre todo o oblast de Donetsk.

A defesa ucraniana, por sua vez, tem se apoiado em unidades remanescentes das brigadas mecanizadas e no uso de drones e artilharia ocidental para conter o avanço russo. No entanto, a escassez de munições e o cansaço das tropas vêm sendo fatores críticos no prolongamento do conflito.

Um impasse que se arrasta

Desde o início da invasão russa, em fevereiro de 2022, Donetsk tem sido um dos pontos mais disputados do conflito. Após meses de combates em Bakhmut e Avdiivka, o foco das operações deslocou-se para Pokrovsk, considerada a “porta de entrada” para as regiões centrais controladas por Kiev.

O controle dessa cidade permitiria às forças russas ampliar o domínio sobre o Donbass e ameaçar outras áreas estratégicas, como Dnipropetrovsk e Zaporizhzhia. Para a Ucrânia, a perda de Pokrovsk representaria um golpe moral e logístico, além de enfraquecer as defesas no leste.

Reunião europeia busca caminho para cessar-fogo

Paralelamente aos combates, diplomatas europeus e ucranianos devem se reunir ainda esta semana para discutir um plano preliminar de cessar-fogo, segundo reportagens do The Independent. O encontro, porém, é visto como o início de um esforço diplomático e não como um avanço imediato rumo à paz.

Fontes próximas às negociações afirmam que a proposta europeia busca criar um canal de comunicação estável entre Kiev e Moscou, com a mediação de países neutros. O objetivo seria estabelecer uma trégua temporária, permitindo a entrega de ajuda humanitária e o reabastecimento de civis em áreas devastadas pelos combates.

Apesar disso, o governo ucraniano insiste que qualquer negociação deve estar condicionada à retirada total das tropas russas do território ucraniano — um ponto que Moscou rejeita categoricamente. O Kremlin, por sua vez, mantém a exigência de reconhecimento das regiões anexadas e a neutralidade permanente da Ucrânia em relação à OTAN.

A posição europeia e o dilema da segurança continental

A União Europeia enfrenta um dilema cada vez mais complexo: manter o apoio militar à Ucrânia, pressionando a Rússia, ou abrir espaço para negociações diplomáticas que possam aliviar o custo econômico e energético do conflito.

Países como França e Alemanha têm se mostrado mais inclinados a buscar um cessar-fogo controlado, enquanto Polônia e Estados Bálticos defendem a continuidade do apoio militar irrestrito a Kiev, argumentando que qualquer concessão a Moscou seria vista como sinal de fraqueza.

Esse impasse reflete não apenas divergências políticas dentro da Europa, mas também a fadiga crescente da guerra. Com o conflito se estendendo pelo quarto ano, a pressão pública em alguns países europeus começa a aumentar, especialmente diante da crise energética e da desaceleração econômica.

Apoio ocidental e limites da resistência ucraniana

Os Estados Unidos e o Reino Unido continuam sendo os principais fornecedores de armamentos à Ucrânia, mas enfrentam desafios domésticos e orçamentários. O governo norte-americano de Donald Trump, embora tenha reafirmado o compromisso com Kiev, adota uma postura mais pragmática e vem pressionando a Europa a assumir um papel maior no financiamento da guerra.

Enquanto isso, a Ucrânia busca equilibrar o esforço militar com a necessidade de reconstrução interna. A destruição de infraestrutura civil, o deslocamento de milhões de pessoas e a escassez de recursos criam um cenário de desgaste prolongado, que ameaça a estabilidade política e social do país.

O peso das negociações

Embora as conversações de cessar-fogo ainda estejam em estágio inicial, elas sinalizam uma mudança de tom no cenário europeu. Depois de mais de três anos de guerra, cresce a percepção de que uma vitória militar completa é improvável para ambos os lados.

Diplomatas veem no diálogo uma tentativa de estabelecer condições mínimas para futuras negociações de paz, talvez com a mediação de países como Turquia, Suíça ou Hungria. Ainda assim, a confiança entre Moscou e Kiev é praticamente inexistente, e qualquer avanço dependerá de concessões difíceis e do envolvimento direto das grandes potências.

Conclusão

A concentração de forças russas em Pokrovsk evidencia que a guerra na Ucrânia está longe de terminar. O desequilíbrio militar no leste do país e a pressão por um cessar-fogo demonstram que o conflito entrou em uma fase de resistência prolongada, onde o campo de batalha e a diplomacia se entrelaçam.

Enquanto a Rússia busca consolidar ganhos territoriais e a Ucrânia tenta manter suas posições, a Europa se vê dividida entre apoiar a continuidade da guerra ou promover um diálogo que evite uma escalada ainda maior. O destino de Pokrovsk pode, portanto, se tornar um símbolo do futuro incerto da guerra — e do esforço europeu para evitar que ela se torne permanente.

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