O governo etíope denuncia colaboração da Eritreia com grupos opositores na região do Tigray, aumentando a preocupação internacional com a estabilidade regional
A Etiópia afirmou nesta quarta-feira, 8 de outubro de 2025, que a Eritreia estaria colaborando com forças opositoras na região do Tigray para uma possível ofensiva militar, alertando a ONU sobre o risco iminente de escalada de violência. A declaração reforça temores de um novo conflito armado em um dos pontos mais instáveis do continente africano, onde guerras locais e tensões transfronteiriças têm se somado a crises humanitárias persistentes.
Contexto histórico e geopolítico
A tensão entre Etiópia e Eritreia tem raízes profundas, remontando à guerra de fronteira de 1998–2000, que resultou em dezenas de milhares de mortes e consolidou animosidades políticas. Apesar do acordo de paz assinado em 2018, as relações permaneceram frágeis, com acusações mútuas de apoio a insurgentes e interferência interna.
O Tigray, região no norte da Etiópia, já foi palco de um conflito devastador entre o governo federal e o Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF), iniciado em 2020. A guerra deixou milhares de mortos, milhões de deslocados e uma crise humanitária sem precedentes, com fome e insegurança afetando amplamente a população civil.
Agora, com alegações de colaboração da Eritreia com grupos opositores locais, o cenário se complica ainda mais, ameaçando desestabilizar todo o Chifre da África.
A denúncia etíope
O governo federal etíope apresentou suas preocupações à ONU, alertando para o que considera preparativos militares e movimentações estratégicas ao longo da fronteira norte. Segundo as autoridades, a Eritreia teria fornecido apoio logístico e treinamento a grupos insurgentes que operam dentro do Tigray, aumentando o risco de ataques coordenados contra cidades e infraestrutura etíope.
Essa acusação chega em um momento em que a comunidade internacional, incluindo a União Africana e o Conselho de Segurança da ONU, já monitora atentamente a região devido à histórica volatilidade e à presença de múltiplos atores armados.
Impactos humanitários e sociais
Um possível novo conflito na região pode agravar ainda mais a crise humanitária. Organizações como a Cruz Vermelha Internacional e a ONU alertam que milhões de civis podem ser afetados por deslocamentos forçados, escassez de alimentos e cortes de serviços essenciais.
Além disso, o impacto social tende a se estender para além do Tigray: as comunidades fronteiriças, muitas delas interligadas por laços étnicos e comerciais, podem sofrer deslocamentos massivos, afetando também Sudão e Djibuti, que servem como rotas críticas de comércio e ajuda humanitária.
Implicações regionais e internacionais
O Chifre da África é uma região estratégica, com fronteiras sensíveis e rotas comerciais vitais para o comércio global. Um aumento da violência entre Etiópia e Eritreia poderia:
- Intensificar fluxos de refugiados para países vizinhos.
- Aumentar a pressão sobre organizações humanitárias internacionais.
- Reforçar a presença de potências externas, como Estados Unidos, União Europeia e China, interessadas na estabilidade regional.
Especialistas em segurança africana alertam que, caso a Eritreia efetivamente participe de um conflito armado, isso representaria uma escalada rara desde a assinatura do acordo de paz de 2018, com potenciais consequências para toda a região do Chifre da África.
Reação da comunidade internacional
Até o momento, a ONU emitiu declarações pedindo moderação e diálogo. O Conselho de Segurança está avaliando medidas de pressão diplomática e reforço de observadores internacionais, enquanto a União Africana busca mediar negociações preventivas entre as partes.
Organizações de direitos humanos, como Human Rights Watch, enfatizam que é crucial proteger civis e garantir acesso humanitário às populações afetadas, diante do histórico de violência e violações na região.
Conclusão
A acusação da Etiópia contra a Eritreia evidencia que o Chifre da África continua sendo uma das regiões mais instáveis do continente. A possibilidade de uma nova ofensiva militar coloca não apenas a população local em risco, mas também ameaça a estabilidade regional, exigindo atenção e ação coordenada da comunidade internacional.
Enquanto o mundo acompanha os desdobramentos, o desafio permanece: equilibrar pressão diplomática, prevenção de conflitos e proteção humanitária, em um território marcado por décadas de tensões políticas e sociais.

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