Visita Presidencial dos EUA à Coreia do Sul: Contexto, Propostas e Desafios

Presidente Donald Trump sendo recebido pelo presidente sul-coreano Lee Jae‑myung e guardas de honra na chegada à Coreia do Sul.
Trump chega à Coreia do Sul e é recebido pelo presidente Lee Jae‑myung durante cerimônia com guardas de honra.

A visita do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, à Coreia do Sul marca um ponto estratégico nas relações econômicas e diplomáticas da Ásia-Pacífico. Realizado no contexto da Cúpula da APEC 2025, o encontro com o presidente sul-coreano Lee Jae-myung não apenas evidencia a importância da aliança bilateral, mas também lança luz sobre as complexas negociações comerciais entre os EUA, a Coreia do Sul e a China. Com um acordo de investimento de US$ 350 bilhões em pauta, a visita representa um delicado equilíbrio entre interesses econômicos, segurança regional e rivalidades geopolíticas, impactando mercados, indústrias e a dinâmica global de poder.

Cenário e Motivações

O presidente dos EUA, Donald Trump, realizou uma visita à cidade de Gyeongju, na Coreia do Sul, onde se encontrou com o presidente sul‑coreano Lee Jae‑myung, no contexto da cúpula anual da Asia‑Pacific Economic Cooperation (APEC) de 2025. Este encontro ocorre em meio a múltiplas frentes de tensão diplomática e comercial:

  • A relação entre EUA e China, em especial sobre tarifas, exportações de minerais estratégicos e apoio à agricultura americana.
  • O papel da Coreia do Sul como aliada estratégica dos EUA, mas também uma economia altamente dependente do comércio com a China.
  • A tentativa de Washington de alcançar acordos que reforcem seu posicionamento geoeconômico (tecnologia, minerais, cadeias de suprimentos) e que negociem concessões de parceiros próximos.

O Acordo Comercial entre EUA e Coreia do Sul

Durante o encontro, Trump afirmou que um acordo comercial com a Coreia do Sul foi “praticamente finalizado”. Os principais termos divulgados incluem:

  • Um pacote de US$ 350 bilhões em investimentos sul‑coreanos nos EUA.
  • Em troca, os EUA estariam dispostos a rever e reduzir tarifas aplicadas às exportações coreanas, em especial automóveis e aço, que estavam sujeitas a 25% de tarifas norte‑americanas.
  • O encontro se dá nas margens da APEC, o que realça o caráter estratégico mais amplo — não é apenas bilateral, mas dentro de um contexto regional de cadeias de valor e rivalidades.

Questões em Tensão e Desafios

Apesar dos anúncios, vários pontos permanecem como gargalos ou riscos, que merecem análise aprofundada:

Valor e forma dos investimentos

A Coreia do Sul está disposta a investir os US$ 350 bilhões, mas discorda do formato – prefere reduzir a parte de aporte direto em dinheiro e aumentar a participação em empréstimos, garantias ou joint‑ventures. Essa divergência pode gerar atrasos ou modificações no cronograma, o que afeta a confiança dos mercados.

Tarifas e indústria exportadora sul‑coreana

Enquanto o acordo clama por redução de tarifas, fabricantes coreanos de automóveis e aço permanecem vulneráveis se o acordo não for implementado ou se surgirem retrocessos.
Para a Coreia do Sul, manter o acesso preferencial aos mercados dos EUA é vital, mas depende de contrapartidas que Washington exige — o que gera dilemas políticos e econômicos internos.

Relação com a China e cadeia de suprimentos

A Coreia do Sul está em posição complexa: por um lado, aliada dos EUA; por outro, fortemente integrada em cadeias de valor com a China.
A expectativa de que Trump e Xi Jinping se encontrem na Coreia do Sul aumenta a interdependência entre esse acordo EUA‑Coreia e o panorama maior EUA‑China.
Além disso, a questão das terras‑raras (rare earths) e minerais estratégicos fabricados ou exportados pela China coloca pressão sobre os EUA para assegurar cadeias alternativas — algo que impacta, direta ou indiretamente, a Coreia do Sul.

Segurança e geopolítica

O encontro também ocorreu enquanto a Coreia do Norte testava mísseis de cruzeiro capazes de ataque nuclear, reforçando o componente segurança na aliança EUA‑Coreia. Para a Coreia do Sul, defender a economia não basta: a segurança permanece primordial, o que complica a negociação de concessões econômicas com o aliado americano.

Cronograma e confiança

Trump afirmou que o acordo estava “fechado”, mas não apresentou um texto formal divulgado.
A falta de transparência imediata sobre termos detalhados leva a incertezas no mercado e exige acompanhamento de implementação.

Implicações para os Atores Envolvidos

Para os EUA

  • O acordo reforça a estratégia de Trump de utilizar grandes pacotes de investimento bilateral para garantir concessões: salários, tecnologia, indústria naval — elementos da “nova diplomacia econômica”.
  • A negociação também busca criar uma frente asiática fortalecida ao redor dos EUA, que sirva de contraponto à China — simbolicamente e economicamente.
  • A promessa de investimento facilita a redução de tarifas e pode aliviar pressão sobre o setor manufatureiro americano — porém, depende da materialização das entregas sul‑coreanas.

Para a Coreia do Sul

  • A capacidade de atrair ou comprometer US$ 350 bilhões é ao mesmo tempo oportunidade e desafio: ela mostra que Seul está disposto a jogar um papel significativo na arquitetura econômica regional.
  • Mas a prioridade de Seul será preservar sua competitividade internacional, especialmente frente à China e Japão, e garantir que o acordo não comprometa o acesso ao grande mercado chinês.
  • O equilíbrio entre aliança militar, segurança nacional e autonomia econômica será testado: Seul precisa manter confiança de seus cidadãos e indústrias.

Para a China

  • O acordo EUA‑Coreia e o encontro Trump‑Xi marcam para Pequim um momento de vigilância: Washington busca reduzir sua dependência chinesa em cadeias de suprimentos estratégicos.
  • A China, ao endurecer controles sobre terras‑raras e exportações sensíveis, aumenta sua alavancagem nas negociações — o que cria tensão, mas também dá margem para cooperação para evitar escaladas.
  • A Coreia do Sul pode se tornar mediadora ou alvo de pressão chinesa, dado seu posicionamento intermediário.

Perspectivas para o Futuro e Cenários Possíveis

  • Cenário otimista: O acordo se formaliza integralmente, as parcelas de investimento começam a fluir conforme o cronograma, as tarifas caem e o comércio bilateral se intensifica. A Coreia do Sul e os EUA avançam em cooperação industrial – por exemplo, construção naval, tecnologia de semicondutores, cadeias verdes. O encontro Trump‑Xi resulta em trilha clara de estabilização nas relações bilaterais EUA‑China, beneficiando toda a região APEC.
  • Cenário de estabilidade com atraso: O acordo é assinado, mas sua implementação se estende por muitos anos, com várias condicionantes. Tarifas são reduzidas parcialmente, investimentos são feitos de forma fracionada, algumas indústrias sul‑coreanas ficam em dúvida. O encontro EUA‑China traz avanços limitados.
  • Cenário pessimista: Divergências internas na Coreia do Sul, retaliação chinesa ou mudanças na política americana inviabilizam ou atrasam a execução. As tarifas permanecem elevadas, os investimentos não fluem como prometido e surgem dúvidas sobre a validade do acordo. Isso poderia gerar instabilidade na economia sul‑coreana e afetar toda a região.

Conclusão

A visita de Donald Trump à Coreia do Sul e o acordo anunciado com Lee Jae‑myung representam um momento estratégico de alta relevância para a Ásia‑Pacífico. Não se trata apenas de um “contrato bilateral”, mas de um nó central na rede de relações que envolvem EUA, Coreia do Sul, China e demais economias da região.

O sucesso desse acordo dependerá de como (não apenas se) os US$ 350 bilhões forem entregues e aplicados, de como as tarifas serão ajustadas na prática, e de como a Coreia do Sul equilibrará seu papel de aliada dos EUA e de parceiro econômico da China.
Para os analistas de geopolítica e economia internacional, o desdobramento amanhã desse acordo pode ser um dos indicadores mais valiosos para prever o rumo das cadeias de tecnologia, minerais estratégicos e diplomacia comercial nos próximos anos.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*