O governo dos Estados Unidos deu um passo importante na descompressão das tensões comerciais com o Brasil. O presidente Donald Trump assinou, em 20 de novembro de 2025, uma ordem executiva que remove a tarifa adicional de 40% aplicada sobre uma série de produtos agroalimentares brasileiros, incluindo café, carne bovina, cacau, frutas e outros itens.
A medida reverte, ao menos parcialmente, uma política tarifária que vinha penalizando diretamente o agronegócio brasileiro e encarecendo alimentos para o consumidor americano. Ao mesmo tempo, revela uma mudança de prioridade na Casa Branca: sai o uso das tarifas como instrumento de pressão política e ganha espaço a necessidade de conter a alta do custo de vida nos Estados Unidos.
Como surgiram as tarifas contra o Brasil
As tarifas adicionais contra o Brasil foram introduzidas em 2025, em meio à segunda administração Trump, dentro de um pacote mais amplo de sobretaxas sobre parceiros comerciais considerados “injustos” ou “hostis” à agenda da Casa Branca.
No caso brasileiro, o gatilho político foi claro:
- O governo Trump reagiu ao processo, condenação e prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado político do republicano, por tentativa de golpe após as eleições de 2022.
- Em resposta, Washington impôs um adicional de 40% sobre uma gama de produtos brasileiros, somado a tarifas já existentes, elevando a carga total sobre alguns itens a níveis próximos de 50% nas importações de alimentos.
Na prática, a medida funcionou como uma espécie de sanção política disfarçada de tarifa comercial. Além de atingir o governo brasileiro, ela afetou diretamente exportadores e produtores do agronegócio, principalmente nos setores de café, carne bovina, cacau, sucos e frutas tropicais.
O que exatamente Trump revogou
A nova ordem executiva assinada por Trump retira a tarifa extra de 40% sobre vários produtos agroalimentares brasileiros. Segundo reportagens de agências internacionais e veículos especializados, a decisão atinge:
- Café
- Carne bovina
- Cacau
- Frutas e sucos de frutas
- Outros alimentos processados de origem brasileira
Alguns pontos cruciais:
- A remoção é retroativa para importações a partir de 13 de novembro de 2025, o que abre espaço para reembolso das tarifas pagas por importadores americanos nesse período.
- No caso da carne bovina, a retirada dos 40% se soma à reversão anterior de uma tarifa de 10% aplicada em outro pacote, embora ainda existam tarifas relacionadas a quotas e limites de volume.
- A medida se insere numa estratégia mais ampla de alívio tarifário sobre alimentos para tentar reduzir a pressão sobre os preços internos e, consequentemente, sobre a popularidade do governo Trump.
Por que Trump recuou: pressão econômica e política interna
Se a imposição das tarifas teve forte componente político, a remoção delas é guiada sobretudo por fatores econômicos domésticos:
- Alta nos preços de alimentos nos EUA
- As sobretaxas sobre produtos brasileiros contribuíram para encarecer café, carne, sucos e frutas nos supermercados americanos.
- Com a inflação de alimentos incomodando eleitorado e imprensa, a Casa Branca passou a ser responsabilizada por decisões de política comercial consideradas excessivamente ideológicas.
- Queda na popularidade do governo
- Pesquisas de opinião apontaram desgaste da imagem de Trump na gestão da economia, em especial no tema “custo de vida”.
- Às vésperas de ciclos eleitorais importantes, o governo optou por aliviar tarifas sobre alimentos – um gesto com impacto rápido e direto no bolso do consumidor.
- Pressão de importadores e da indústria alimentícia
- Empresas do setor de café, carnes e alimentos processados nos EUA vinham reclamando da dificuldade de manter margens com insumos mais caros e menos disponíveis por causa das tarifas.
- Organizações empresariais alertaram para o risco de perda de competitividade, repasse de custos ao consumidor e desorganização de cadeias de suprimento.
Impactos para o Brasil: alívio para o agronegócio e oportunidade de retomada
Para o Brasil, a remoção das tarifas é uma vitória diplomática e econômica, ainda que parcial. Os efeitos mais imediatos tendem a se concentrar em alguns setores-chave:
1. Café
- O Brasil é o maior exportador de café do mundo e, antes das tarifas, respondia por cerca de um terço do café consumido nos Estados Unidos.
- Com o adicional de 40%, muitos importadores americanos passaram a buscar fornecedores alternativos na Ásia e em outros países da América Latina, deslocando o Brasil de parte relevante desse mercado.
- A retirada da tarifa tende a:
- Destravar estoques de café brasileiro que estavam parados em armazéns alfandegados nos EUA;
- Reduzir o preço final ao consumidor americano, ampliando o espaço para recomposição do volume importado do Brasil;
- Reabrir perspectivas para nichos como o café especial brasileiro, que havia sofrido forte queda de embarques para o mercado norte-americano.
2. Carne bovina
- A carne bovina brasileira enfrentava uma combinação de tarifas que, em alguns momentos, chegava a superar 70% de imposto total sobre determinadas vendas para os EUA.
- A retirada dos 40% reduz significativamente o custo de entrada da carne do Brasil, ainda que persistam limitações por quotas e regras sanitárias.
- No médio prazo, a tendência é de:
- Maior competitividade da carne brasileira frente a outros exportadores;
- Potencial recomposição de mercado nos EUA, especialmente em cortes utilizados pela indústria de processados e redes de alimentação.
3. Frutas, sucos e outros produtos
- Itens como suco de laranja, frutas tropicais, cacau e derivados também devem se beneficiar do fim da sobretaxa.
- Para o Brasil, isso significa:
- Melhor acesso ao maior mercado consumidor do mundo;
- Possível aumento de investimentos em logística e processamento, se a mudança tarifária se mantiver estável.
A dimensão geopolítica: de punição política a cooperação pragmática
A decisão de Trump não pode ser vista apenas como um ajuste técnico de tarifas. Ela também sinaliza uma mudança de tom nas relações entre Washington e Brasília:
- O governo Trump utilizou o tema Bolsonaro e sua condenação como justificativa política para endurecer contra o Brasil, enquadrando o país em um discurso de “retaliação” a aliados perseguidos.
- A remoção das tarifas ocorre após negociações diretas entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, incluindo contatos telefônicos e encontros em eventos internacionais.
- Analistas apontam que:
- A decisão é menos um “presente” ao Brasil e mais um movimento pragmático diante da pressão interna sobre inflação de alimentos nos EUA;
- Ainda assim, ela abre espaço para um clima de maior cooperação em outras frentes, como energia, meio ambiente e acordos comerciais específicos.
O que muda para o consumidor brasileiro?
No curto prazo, o impacto mais direto recai sobre o exportador brasileiro e o consumidor americano. Para o público no Brasil, os efeitos são mais indiretos, mas relevantes:
- Com a reabertura do mercado americano em condições mais favoráveis, o Brasil pode:
- Aumentar o volume exportado, especialmente de café e carne bovina;
- Obter melhores preços internacionais, dependendo da dinâmica de oferta e demanda global.
- Internamente, isso pode pressionar os preços domésticos caso a demanda externa absorva uma fatia maior da produção, mas o efeito depende de safra, câmbio e políticas internas.
Riscos e incertezas: o recuo é definitivo?
Apesar do alívio imediato, existem dúvidas sobre a sustentabilidade dessa mudança:
- Volatilidade da política comercial de Trump
- A segunda administração Trump tem sido marcada por decisões rápidas e, por vezes, abruptas na área de tarifas, tanto em relação à China quanto a parceiros tradicionais.
- Nada impede que, diante de novos conflitos políticos ou judiciais envolvendo Bolsonaro ou outros temas sensíveis, a Casa Branca volte a usar tarifas como instrumento de pressão sobre o Brasil.
- Disputas judiciais e questionamentos internos nos EUA
- Parte das tarifas do governo Trump já vem sendo questionada na Justiça americana, com decisões apontando abuso de poder presidencial ao usar justificativas de “emergência nacional” para impor impostos de forma unilateral.
- Embora essas decisões ainda estejam em disputa e muitos efeitos sigam em vigor, a insegurança jurídica adiciona mais instabilidade ao cenário.
- Negociações em andamento
- O recuo parcial pode ser usado por Washington como moeda de troca em negociações mais amplas, envolvendo não apenas tarifas, mas também temas ambientais, energéticos e de alinhamento diplomático.
Conclusão: uma vitória importante, mas não o fim da história
A remoção da tarifa extra de 40% sobre café, carne e outros alimentos brasileiros pelos Estados Unidos representa, ao mesmo tempo, uma conquista econômica para o agronegócio do Brasil e um gesto político calculado do governo Trump.
- Para o Brasil, abre-se uma janela de oportunidade para:
- Retomar participação em um mercado estratégico;
- Reforçar a imagem de fornecedor confiável de alimentos em escala global;
- Reduzir parte dos danos causados por meses de tarifas punitivas.
- Para os EUA, a medida é uma tentativa de:
- Aliviar a pressão sobre o custo de vida;
- Responder a críticas sobre inflação de alimentos;
- Reorganizar o uso das tarifas, priorizando resultados econômicos em detrimento de cruzadas políticas de alto custo.
Ainda assim, o episódio deixa uma lição clara:
na atual conjuntura, comércio internacional e geopolítica caminham lado a lado, e decisões sobre tarifas podem mudar rapidamente, ao sabor de crises políticas, disputas judiciais e cálculos eleitorais. Para o Brasil, o desafio agora é transformar esse alívio momentâneo em ganhos duradouros, diversificando mercados, fortalecendo sua posição negociadora e reduzindo a vulnerabilidade a mudanças bruscas de humor em Washington.

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