
A União Europeia (UE) tem se empenhado em reduzir sua dependência energética da Rússia desde a invasão da Ucrânia em 2022. No entanto, dados recentes revelam que, em 2024, as importações de gás natural liquefeito (GNL) russo para a UE aumentaram em 18%, contrariando os esforços para diversificar as fontes de energia e reduzir a exposição ao Kremlin.
França: Líder nas Compras de GNL Russo
Em 2024, a França se tornou o maior comprador de GNL russo da UE, com importações que aumentaram 81% em relação ao ano anterior. O país adquiriu aproximadamente €3,1 bilhões em GNL russo, representando 34% de suas importações totais de GNL. A infraestrutura avançada de terminais de GNL da França, como o terminal de Dunkirk, facilita essa dependência, permitindo a recepção de grandes volumes de gás liquefeito de diferentes origens.
Bélgica: Retorno Controverso às Importações de GNL Russo
A Bélgica também aumentou suas importações de GNL russo em 2024, totalizando 13,3 terawatts-hora (TWh), superando os níveis pré-guerra. Além disso, o país retomou o transbordo de GNL russo destinado à Ásia, prática que havia sido suspensa anteriormente. Essa retomada gerou críticas internas e externas, especialmente em relação à coerência da política energética belga frente às sanções da UE contra a Rússia.
Atualizando para 2025, a Bélgica gastou aproximadamente €1,4 bilhão em GNL russo entre janeiro e setembro, superando o valor de sua ajuda militar à Ucrânia no mesmo período.
O Papel da Infraestrutura de GNL
A infraestrutura de GNL da UE desempenha um papel crucial nesse contexto. Em 2024, a UE importou mais de 100 bilhões de metros cúbicos de GNL, com os maiores importadores sendo França, Espanha, Países Baixos, Itália e Bélgica. Os principais terminais que recebem GNL russo incluem Dunkirk (França), Zeebrugge (Bélgica) e Bilbao (Espanha), facilitando o fluxo contínuo de GNL russo para o continente.
Embora essa infraestrutura seja essencial para diversificar as fontes de energia, ela também permite a continuidade das importações de GNL russo, tornando a transição energética mais desafiadora.
Impacto Econômico e Político
Em 2024, os países da UE gastaram cerca de €7 bilhões em GNL russo, com França, Bélgica, Espanha e Países Baixos respondendo por 97% dessas importações. Esse montante é superior ao valor total de ajuda militar da UE à Ucrânia no mesmo ano, levantando questões sobre a eficácia das sanções e a verdadeira disposição da Europa em cortar laços energéticos com Moscou.
O impacto econômico interno também é relevante: os gastos contínuos com GNL russo geram pressões políticas sobre governos nacionais, especialmente em países que buscam equilibrar segurança energética, política externa e responsabilidade fiscal.
Contradições na Política Energética da UE
Embora a Comissão Europeia tenha estabelecido o objetivo de eliminar a dependência energética da Rússia até 2027, a realidade mostra um cenário contraditório. A aceleração das importações de GNL russo por países como França e Bélgica indica que, na prática, a transição energética da UE enfrenta desafios significativos. A falta de consenso entre os Estados-membros e a complexidade das infraestruturas existentes dificultam a implementação de uma política energética unificada e eficaz.
Recentemente, a Comissão Europeia propôs um pacote de sanções visando eliminar gradualmente as importações de GNL russo até 2027. No entanto, sua implementação enfrenta obstáculos técnicos e políticos, incluindo a dependência de terminais de GNL existentes e contratos de fornecimento de longo prazo.
Desafios Futuros
A UE enfrenta o desafio de conciliar a necessidade de segurança energética com os objetivos geopolíticos e ambientais. A dependência contínua do GNL russo pode comprometer os esforços para reduzir as emissões de carbono e fortalecer a posição da UE frente à Rússia. Além disso, a falta de uma estratégia energética coesa entre os Estados-membros pode enfraquecer a eficácia das políticas do bloco e prolongar sua vulnerabilidade energética.
Conclusão
Embora a UE tenha estabelecido metas ambiciosas para reduzir a dependência energética da Rússia, a realidade atual demonstra que a transição energética é complexa e repleta de contradições. A continuidade das importações de GNL russo por países como França e Bélgica evidencia a necessidade de uma abordagem mais integrada e estratégica para garantir a segurança energética da Europa, alinhando-a com seus objetivos geopolíticos e ambientais.
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