UE enfrenta resistência interna em plano para reduzir dependência de energia russa

Campo de gás natural Zapolyarnoye em Novy Urengoy, Rússia, operado pela Gazprom
Vista aérea do campo de gás Zapolyarnoye, uma das maiores instalações de produção de gás natural da Gazprom na Rússia

A União Europeia busca reduzir sua dependência energética da Rússia em meio a tensões geopolíticas e ao risco de crises de abastecimento. Em um momento crítico para a segurança energética do bloco, embaixadores dos Estados-membros aprovaram o avanço de uma proposta que pretende proibir novos contratos de energia com a Rússia a partir de 2026. A medida visa não apenas diminuir a influência de Moscou sobre os países europeus, mas também acelerar a transição para fontes de energia renovável e diversificar fornecedores internacionais.

No entanto, a iniciativa enfrenta resistência interna, principalmente de Hungria e Eslováquia, que alertam para os riscos econômicos e sociais de uma transição rápida. O episódio evidencia a complexidade de conciliar interesses nacionais divergentes dentro de um bloco de 27 países com diferentes níveis de dependência energética.

UE avança com proposta de redução de dependência energética russa

A iniciativa reflete o desejo europeu de fortalecer a segurança energética do bloco, diversificar fornecedores e reduzir a influência política da Rússia sobre o suprimento de gás e petróleo. O movimento também se insere em um contexto de tensões geopolíticas crescentes, em especial devido à guerra na Ucrânia e aos esforços de Moscou para manter sua relevância no mercado global de energia.

Resistência de Hungria e Eslováquia

Apesar do consenso geral, países como Hungria e Eslováquia levantaram objeções à proposta, alegando que a transição rápida pode gerar impactos econômicos negativos e prejudicar a estabilidade do fornecimento de energia em seus territórios.

  • Hungria: aproximadamente 80% do gás consumido vem da Rússia, principalmente via gasoduto Druzhba.
  • Eslováquia: cerca de 65% de seu gás também depende de contratos russos.

Budapeste e Bratislava defendem prazos mais flexíveis e mecanismos de compensação para os Estados-membros que enfrentarem dificuldades significativas na adaptação à nova política energética. Essa resistência interna destaca a complexidade de coordenar uma política comum em um bloco de 27 países com diferentes níveis de dependência energética e infraestrutura de importação.

Implicações geopolíticas e econômicas

A proposta de banir novos contratos com a Rússia já em 2026 não apenas sinaliza uma posição firme da UE contra a influência russa, mas também pode acelerar investimentos em energia renovável, GNL (gás natural liquefeito) de outros fornecedores e interconexões energéticas dentro da Europa.

  • Projeção de energia renovável na UE: estima-se que, até 2030, 45% da matriz energética do bloco virá de fontes renováveis, ajudando a reduzir gradualmente a dependência de combustíveis fósseis russos.
  • Alternativas de GNL: EUA, Qatar e Noruega são apontados como fornecedores estratégicos para diversificação de suprimentos.

No entanto, especialistas alertam que a transição exige planejamento estratégico para evitar crises de abastecimento ou aumento nos preços da energia. O setor industrial, particularmente em países altamente dependentes de gás russo, pode enfrentar desafios significativos, e a coordenação entre Estados-membros será crucial para equilibrar segurança energética e competitividade econômica.

Além disso, a medida pode provocar retaliações por parte da Rússia, incluindo cortes de fornecimento ou aumento nos preços do gás, tornando a necessidade de alternativas viáveis ainda mais urgente. Países do sul da Europa, menos dependentes do gás russo, tendem a apoiar a iniciativa, mas ainda assim acompanharão de perto seus efeitos nos mercados globais de energia.

Próximos passos e desafios

O avanço da proposta pelos embaixadores da UE representa apenas o primeiro passo de um processo legislativo complexo. O Conselho Europeu e o Parlamento Europeu precisarão analisar e aprovar medidas concretas, incluindo prazos, exceções e mecanismos de apoio para os Estados mais vulneráveis.

O sucesso da proposta dependerá da capacidade do bloco de equilibrar objetivos estratégicos de longo prazo com as realidades econômicas e sociais de cada país. Enquanto isso, Hungria e Eslováquia devem manter negociações intensas para garantir condições que não comprometam seu abastecimento energético nem causem instabilidade doméstica.

Conclusão

A tentativa da União Europeia de reduzir a dependência energética da Rússia encontra o primeiro obstáculo político interno, com Hungria e Eslováquia exigindo ajustes na proposta. O desafio agora será equilibrar interesses nacionais divergentes, garantir segurança energética e manter a unidade do bloco frente a um cenário geopolítico cada vez mais tenso. A decisão final impactará não apenas a política energética europeia, mas também a posição estratégica da UE no cenário internacional.

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