86% do ouro da Venezuela é produzido ilegalmente, aponta relatório internacional

Bandeira da Venezuela sobreposta a barras de ouro, representando a mineração ilegal e o contrabando de ouro no país.
A mineração ilegal de ouro na Venezuela alimenta redes criminosas e corrupção, afetando economia, sociedade e meio ambiente.

Um novo relatório internacional trouxe à tona a dimensão do mercado clandestino de ouro na Venezuela, revelando que cerca de 86% da produção nacional é de origem ilícita. O estudo destaca que esse metal precioso, em vez de fortalecer a economia do país, está sendo usado para alimentar cadeias de contrabando, grupos armados e redes ligadas a elites militares e políticas.

Ouro: riqueza estratégica em meio à crise

A Venezuela possui uma das maiores reservas de ouro da América Latina. Em teoria, o recurso poderia servir como motor econômico para aliviar a profunda crise que o país enfrenta, marcada por hiperinflação, colapso do setor produtivo e sanções internacionais.
Na prática, porém, grande parte do ouro não é extraída ou comercializada de forma regular, mas sim por meio de redes ilegais que operam à margem do Estado.

Contexto histórico: do petróleo ao ouro

A mineração ilegal de ouro ganhou força principalmente após a queda da produção de petróleo venezuelano, que por décadas sustentou a economia do país. Com o declínio da PDVSA e o impacto das sanções internacionais, o governo de Nicolás Maduro buscou novas fontes de receita — e o ouro, muitas vezes explorado de forma ilegal, tornou-se uma das principais alternativas.

O papel de grupos armados e elites militares

Segundo o relatório, facções criminosas, gangues organizadas e até unidades ligadas às forças armadas venezuelanas estão diretamente envolvidas no controle de minas e rotas de escoamento. Esse sistema paralelo não apenas garante lucros milionários, mas também consolida um círculo de poder e influência política.
Para analistas, o ouro tornou-se um dos principais sustentáculos financeiros do governo, funcionando como alternativa às restrições impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

Impactos ambientais e sociais

A mineração ilegal também tem um custo elevado para a população e para o meio ambiente. Comunidades indígenas e moradores de regiões amazônicas são frequentemente vítimas de violência, exploração laboral e deslocamento forçado.
Além disso, o uso indiscriminado de mercúrio e outras substâncias tóxicas compromete rios e solos, ampliando os riscos para a saúde pública e devastando áreas de floresta tropical.

Cadeias de contrabando internacionais

Grande parte desse ouro ilícito deixa a Venezuela por rotas clandestinas que passam por países vizinhos como Colômbia, Brasil e Guiana, antes de chegar a centros de refino e mercados internacionais.
Após ser refinado, o metal precioso pode alcançar mercados da Europa, do Oriente Médio e da Ásia, misturado a cadeias legais de comercialização. Essa opacidade dificulta a rastreabilidade, permitindo que empresas e países compradores acabem, direta ou indiretamente, financiando redes ilegais.

Geopolítica do ouro venezuelano

A exploração ilegal de ouro adiciona uma nova camada ao já complexo cenário político venezuelano. Enquanto o governo busca manter fontes alternativas de receita para enfrentar a pressão externa, o contrabando reforça alianças informais entre autoridades, militares e grupos não estatais.
Para especialistas, esse fenômeno fragiliza ainda mais as instituições do país, mina a credibilidade internacional da Venezuela e gera tensões regionais, já que o contrabando atravessa fronteiras e alimenta redes criminosas transnacionais.

Conclusão

O relatório sobre a mineração ilegal na Venezuela reforça a percepção de que o ouro, longe de representar apenas uma oportunidade econômica, tornou-se um elemento central na disputa pelo poder político e militar.
Enquanto a maior parte da população enfrenta escassez, inflação e migração forçada, a riqueza mineral segue fluindo por canais obscuros que beneficiam poucos e corroem ainda mais a governabilidade do país.

As informações são baseadas em relatório divulgado pelo site Mongabay em outubro de 2025.

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