A possibilidade de um encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin, reacendeu debates sobre o equilíbrio de poder global e o futuro da guerra na Ucrânia. O Kremlin afirmou nesta sexta-feira (17) que as negociações para a realização da cúpula estão “em andamento” e que uma reunião “poderá ocorrer dentro de duas semanas”, embora ainda faltem detalhes logísticos e diplomáticos.
Budapeste no centro da diplomacia internacional
A Hungria, liderada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, ofereceu-se oficialmente para sediar o encontro, destacando-se como “a única nação europeia onde um diálogo entre Trump e Putin pode acontecer em um clima de neutralidade e pragmatismo”. Orbán, que mantém relações estreitas tanto com Moscou quanto com Washington, vem se posicionando como mediador informal entre o Ocidente e a Rússia desde o início da invasão da Ucrânia em 2022.
Essa oferta é também uma demonstração simbólica de independência da política externa húngara em relação à União Europeia. Enquanto Bruxelas reforça sanções contra Moscou e amplia o apoio financeiro e militar a Kiev, Budapeste segue uma linha distinta, insistindo na necessidade de negociações de paz e criticando as políticas “anti-russas” do bloco.
Motivações e riscos políticos
Para Donald Trump, que retornou à Casa Branca em 2025 com a promessa de “restaurar a paz através da força”, um encontro com Putin pode consolidar sua imagem de líder capaz de dialogar com adversários e redefinir o papel dos Estados Unidos na ordem mundial. O republicano já declarou publicamente que deseja “pôr fim à guerra na Ucrânia rapidamente” e que pretende renegociar os termos do apoio americano a Kiev — o que levanta preocupações entre aliados europeus sobre um possível enfraquecimento da OTAN.
Para Vladimir Putin, por sua vez, a cúpula representaria uma oportunidade crucial de reabilitação diplomática. Após anos de isolamento internacional, o líder russo busca demonstrar que Moscou continua a ser um ator indispensável nas decisões globais. Um encontro em território europeu, especialmente mediado por um país-membro da UE, daria à Rússia uma vitória simbólica significativa.
Reação internacional
A proposta de reunião provocou reações mistas na Europa e nos Estados Unidos. Países do Leste Europeu, como Polônia e Estônia, expressaram preocupação de que uma aproximação direta entre Trump e Putin possa resultar em concessões territoriais ou políticas à Rússia, sem garantias de segurança para Kiev. Já líderes mais pragmáticos, como Emmanuel Macron e Friedrich Merz, adotaram uma postura de cautela, afirmando que “qualquer diálogo que contribua para o fim da guerra deve ser considerado positivamente — desde que respeite a soberania da Ucrânia”.
Nos Estados Unidos, o tema também divide opiniões. Setores do Partido Republicano veem a possível cúpula como um passo estratégico para reduzir tensões globais e concentrar recursos em prioridades domésticas. Já opositores democratas acusam Trump de “legitimar um autocrata” e alertam para o risco de “enfraquecimento das alianças históricas” dos EUA.
Encontro entre Zelensky e Trump
Enquanto a atenção internacional se volta para o possível diálogo entre Washington e Moscou, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy realiza nesta sexta-feira (17) uma reunião com Donald Trump na Casa Branca, marcada para as 14h (horário de Brasília).
O encontro é visto como decisivo para o futuro da guerra na Ucrânia. Zelensky pretende pressionar por novas remessas de armas de longo alcance, sistemas de defesa aérea e ajuda financeira para manter o esforço militar contra as forças russas. Além disso, busca garantir que qualquer negociação de paz futura envolva diretamente o governo ucraniano.
Em declarações recentes, Zelensky afirmou que “nenhuma negociação pode acontecer sem a Ucrânia à mesa”, deixando claro o receio de que uma eventual cúpula Trump-Putin resulte em um acordo que consolide as ocupações russas. Assessores próximos ao presidente ucraniano também disseram que Kiev teme uma “paz imposta” que beneficie o Kremlin.
Uma nova arquitetura global em gestação
O possível encontro entre Trump e Putin vai muito além de uma tentativa de diálogo — ele simboliza uma redefinição das forças no sistema internacional. Caso a reunião se concretize, será a primeira cúpula direta entre os dois líderes desde 2018, quando se encontraram em Helsinque. Desta vez, porém, o contexto é muito mais delicado: a guerra na Ucrânia segue sem solução, as tensões entre OTAN e Rússia atingem níveis máximos desde a Guerra Fria, e a China observa atentamente os movimentos de Washington e Moscou.
Uma cúpula bem-sucedida poderia abrir caminho para um cessar-fogo ou até novas negociações de segurança na Europa Oriental. Por outro lado, se fracassar, poderá aprofundar a desconfiança entre aliados e reforçar o argumento de que o Kremlin busca apenas ganhar tempo para consolidar ganhos territoriais.
Conclusão
Budapeste, uma cidade marcada por conflitos e reconciliações ao longo da história, pode voltar a ser palco de um evento de importância global. A cúpula Trump-Putin, se confirmada, tem o potencial de redefinir a geopolítica mundial — seja ao abrir caminho para um diálogo de paz, seja ao expor as divisões entre o Ocidente e a Rússia.
Enquanto isso, o mundo observa a reunião entre Zelensky e Trump, que acontece hoje em Washington. O resultado desse encontro poderá determinar o tom da futura negociação com Moscou — e talvez, o rumo da própria guerra na Ucrânia.

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